Vêem-se em varandas e em relvados
mesmo à beira do lago,
geralmente dispostas em pares indicando que um casal
se poderá sentar ali e olhar para
a água ou para as grandes árvores frondosas.
O problema é que nunca se vê ninguém
sentado nessas cadeiras abandonadas
embora a dada altura deva ter parecido
um bom lugar para parar e não fazer nada por um momento.
Às vezes há uma pequena mesa
entre as cadeiras onde ninguém
deixou um copo pousado ou um livro com a capa para baixo.
Posso não ter nada com isso,
mas suponhamos haver um dia
em que todos os que colocaram essas cadeiras vagas
numa varanda ou num cais se sentariam nelas
nem que fosse para se lembrarem
daquilo que achavam que valia a pena
ser contemplado das duas cadeiras
lado a lado com uma mesa pelo meio.
As nuvens estariam altas e imponentes nesse dia.
A mulher descola o olhar do seu livro.
O homem toma um gole da sua bebida.
E ouve-se apenas o som do seu olhar,
o marulhar da água do lago, e o canto de um pássaro
depois de outro, gritos de alegria ou de aflição —
o tempo vai passando enquanto se percebe quais.
Trad.: Ricardo Marques
Billy Collins – The Chairs That No One Sits In
You see them on porches and on lawns
down by the lakeside,
usually arranged in pairs implying a couple
who might sit there and look out
at the water or the big shade trees.
The trouble is you never see anyone
sitting in these forlorn chairs
though at one time it must have seemed
a good place to stop and do nothing for a while.
Sometimes there is a little table
between the chairs where no one
is resting a glass or placing a book facedown.
It might be none of my business,
but it might be a good idea one day
for everyone who placed those vacant chairs
on a veranda or a dock to sit down in them
for the sake of remembering
whatever it was they thought deserved
to be viewed from two chairs
side by side with a table in between.
The clouds are high and massive that day.
The woman looks up from her book.
The man takes a sip of his drink.
Then there is nothing but the sound of their looking,
the lapping of lake water, and a call of one bird
then another, cries of joy or warning—
it passes the time to wonder which.