Jeannine Hall Gailey – Eu não paro

Eu não paro

De ser alguém que busca o lado escuro.
Que procura as estatísticas criminais da Disneylândia.
Que procura por monstros sob a cama.
Além disso, não paro de tirar fotos de flores
embora tenhamos nove meses de chuva.
Não paro de me perguntar se os colibris daqui
estão condenados, se os gansos-das-neves serão envenenados
em um abandonado lago de mina de cobre em Montana,
se esse vírus chegará até nós antes de desenvolvermos uma vacina.
Então, eu não paro de escrever a história do apocalipse repetidas vezes.
Já imaginei o fim antes mesmo de começar —
Eu escrevi um poema sobre o inverno nuclear quando tinha sete anos.
Havia um garoto com uma simbólica capa verde de chuva.
Eu assisto futebol já pensando nos jogadores com os ossos partidos.
Eu vejo as guerras pensando nas pessoas trazidas de volta
com os membros faltando, pesadelos, tremores.
Não paro de pensar nas águas-vivas se acumulando
em nossas aquecidas costas oceânicas, na orca carregando sua cria morta.
Quando estou no túnel de ressonância, não paro de pensar
em todos os episódios de Arquivo X ou de House em que as pessoas
tiveram convulsões dentro do túnel, por razões inexplicáveis.
Esta noite estou me perguntando se vinte e quatro anos de casamento
são demais. Olho para a minha foto aos dezenove,
meus olhos ainda esperançosos mas também com medo. Eu me pergunto quando
alguém que amo morrerá. Eu me pergunto quantos feriados mais
tenho para celebrar. Eu já lhe disse, não consigo parar de apresenta-lo
às muitas nuvens em meu horizonte. Prefiro falar-lhe
sobre meu incessante amor pelas cerejas Rainier
ou por beijos na chuva. Meu incessante amor até mesmo
por jogos arcades antigos, pelo som deles. Não paro
de pensar no Relógio do Juízo Final, quão próximo estamos
de nos perder, nosso planeta em plena explosão do sol.

Trad.: Nelson Santander

I Can’t Stop

Being a person who looks for the dark side.
Looking up crime statistics at Disneyland.
Looking for monsters under the bed.
Also, I can’t stop taking pictures of flowers
even though mostly we have nine months of rain.
I can’t stop wondering if the hummingbirds here
are doomed, if the snow geese will be poisoned
at an abandoned copper mine lake in Montana,
if that virus will reach us before we develop a vaccine.
So, I can’t stop writing the apocalypse story over and over.
I’ve imagined the end before I’d even begun—
I wrote a nuclear winter poem when I was seven.
There was a boy in a symbolic green raincoat.
I watch football thinking of the boys with broken bones.
I watch wars thinking about people brought home
with missing limbs, nightmares, tremors.
I can’t stop thinking about the jellyfish massing
in our warming ocean coast, the orca carrying her dead calf.
When I’m in the MRI tube, I can’t help but think
of all the episodes of X-Files or House where people
had seizures within the MRI tube, for unexplained reasons.
Tonight I wonder if twenty-four years of marriage
are too many. I look at the picture of me at nineteen,
my eyes still hopeful but also afraid. I wonder when
someone I love will die. I wonder how many more holidays
I will celebrate. I told you, I can’t stop introducing you
to so many clouds on my horizon. I’d rather tell you
about my nonstop love of Rainier cherries
or kissing in the rain. My nonstop love of even
old arcade games, the sound of them. I can’t stop
thinking of the Doomsday Clock, how close we are
to spinning out, our planet into the full blast of the sun.

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