No final de novembro
palavras apareceram na ponta da minha caneta
como a resposta a uma pergunta que
eu ainda não havia feito.
Uma tornou-se um condor; outra,
uma nuvem,
enquanto uma terceira palavra, espinhosidade,
ganhou vida no sonho de um cardo.
O que é mais real,
a neve ou a bola de neve,
a palavra ou as letras que a
compõe?
Eu empacotei a neve, uma galáxia de minúsculas
estrelas brancas entre as palmas das mãos.
É assim que surge um buraco negro?
Não, um buraco negro é um eixo
repleto de luz.
Com o tempo,
que nem vem nem vai,
o próprio universo pode
se tornar um buraco negro;
nesse caso ainda estaremos todos juntos,
na escuridão,
esperando o início do espetáculo.
Trad.: Nelson Santander
Cinema Paradiso
On a morning in November
words appeared at the end of my pen
like the answer to a question
I hadn’t yet asked.
One became a condor, another
a cloud,
while a third word, spinosity,
came to life in the dream of a thistle.
Which is more real,
the snow or the snowball,
the word or the letters of which
it’s composed?
I packed the snow, a galaxy of tiny
white stars between my palms.
Is this how a black hole begins?
No, a black hole is an axis
chock-full of light.
In time,
which neither comes nor goes on,
the universe itself may
become a black hole,
in which case we’ll all still be together,
in the dark,
waiting for the show to begin.
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