Linda Gregg – Perdida

Poderíamos ter sido confundidos como casados
no trem de Manhattan para Chicago
na última vez que estivemos juntos. Lembro-me de
olhar pela janela e elogiar a beleza
do banal: os entre sítios, o mundo
de costas para nós, as pequenas e negligenciadas
estações de nossa história. Adormeci sobre seu
peito e ventre sem pedir licença,
pois eram nossas derradeiras horas. Havia
um aroma no forro de pele de ovelha do seu novo
colete chinês que não reconheci. Eu o senti
deliberadamente. Acordei cedo e pedi-lhe que
viesse tomar café comigo. Você disse, durma mais um pouco,
e eu respondi que só tínhamos uma hora, e você veio.
Não trocamos muitas palavras depois disso. Na estação,
você recolheu seus pertences e me entregou o colete,
depois se foi, como havíamos planejado. Assim, teria
dez minutos para encontrar sua família e seguir adiante.
Fiquei ao lado do assento, aturdida pela exaustão
e pela inevitabilidade do fim, tão imóvel que percebia
minha própria respiração. Coloquei o colete
e o casaco, peguei minha bolsa e, ao me virar, vi você
através da janela suja, do lado de fora, olhando
para mim. Fitamo-nos sem expressão
alguma. Invisíveis, despercebidos, imóveis.
Esse momento é o que citarei como prova
de que você definitivamente me amava. Depois disso, eu era
uma mulher só, carregando minha própria bolsa, perguntando
a um atendente em que direção caminhar para encontrar um táxi.

Trad.: Nelson Santander

N. do T.: Optei por traduzir o título Asking for Directions para Perdida visando a preservar o duplo sentido presente no original em inglês. Esta escolha reflete não apenas a busca literal por orientações para encontrar um táxi, conforme os versos finais do poema, mas também evoca a busca por novos rumos do eu lírico diante da separação do amante casado. Além disso, a palavra ‘perdida’ carrega uma conotação social, especialmente no contexto brasileiro, associada à reprovação moral das mulheres envolvidas em relacionamentos extraconjugais, adicionando uma terceira camada de significado à tradução.

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Asking for Directions

We could have been mistaken for a married couple
riding on the train from Manhattan to Chicago
that last time we were together. I remember
looking out the window and praising the beauty
of the ordinary: the in-between places, the world
with its back turned to us, the small neglected
stations of our history. I slept across your
chest and stomach without asking permission
because they were the last hours. There was
a smell to the sheepskin lining of your new
Chinese vest that I didn’t recognize. I felt
it deliberately. I woke early and asked you
to come with me for coffee. You said, sleep more,
and I said we only had one hour and you came.
We didn’t say much after that. In the station,
you took your things and handed me the vest,
then left as we had planned. So you would have
ten minutes to meet your family and leave.
I stood by the seat dazed by exhaustion
and the absoluteness of the end, so still I was
aware of myself breathing. I put on the vest
and my coat, got my bag and, turning, saw you
through the dirty window standing outside looking
up at me. We looked at each other without any
expression at all. Invisible, unnoticed, still.
That moment is what I will tell of as proof
that you loved me permanently. After that I was
a woman alone carrying her bag, asking a worker
which direction to walk to find a taxi.

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