Nighthawks*, de Edward Hopper
Notou como ela se senta perto do homem
de terno azul? Viu como as mãos deles
quase se tocam? Como ela me lembra
minha mãe? — uma mulher de vermelho
tomando café. Viu?
Hopper obviamente era solitário.
Por que mais pintaria ela, minha mãe,
sentada ali assim?
E isso me faria o quê?
O balconista de avental branco?
Estou bastante ansioso. Quero ajudar.
Mesmo que isso signifique apenas esperar
para acender o cigarro de cada homem.
Minha mãe passava as
noites sozinha, limpando a poeira
das canecas de café. Como as linhas
de sua boca se aprofundavam…
Você viu? E se ela morresse
assim — triste, intocada?
Digo que quero ajudar,
mas é como se minha voz fosse uma torneira
gotejante, o zumbido de um refrigerador vazio.
Hopper era obviamente solitário.
Por que outro motivo pintaria o homem de terno cinza
no balcão, meu pai, de costas?
Trad.: Nelson Santander
*N. do T.: A pintura “Nighthawks” de Edward Hopper, concluída em 1942, retrata uma cena noturna em uma lanchonete urbana. Hopper captura a solidão e a desconexão entre as pessoas, refletindo a atmosfera de isolamento na vida urbana moderna. O título, “Nighthawks” (literalmente “Falcões Noturnos”), alude aos frequentadores assíduos desses estabelecimentos, semelhantes a pássaros noturnos em suas vigílias e observação passiva. O quadro transmite melancolia, solidão e mistério, características do estilo introspectivo e observacional de Hopper.
Nighthawks by Edward Hopper
See how closely she sits to the man
in the blue suit? See how their hands
almost touch? How she reminds me
of my mother — a woman in red
drinking coffee. See?
Hopper was obviously lonely.
Why else would he paint her, my mother,
sitting there like this?
Which would make me what?
The soda jerk in white?
I’m eager enough. I want to help.
Even if it means simply waiting
to light each man’s cigarette.
My mother spent
nights alone, wiping coffee mugs
clean of dust. How the lines
that her mouth deepened…
See? And what if she died
this way — sad, untouched?
I say, I want to help
but it’s as if my voice is a faucet
running, a refrigerator’s empty hum.
Hopper was obviously lonely.
Why else paint the gray-suited man
at the counter, my father, his back turned?