Se ao menos do alto me chamasse um deus
De ódio, e risse: “Ó homem coisa-dor,
Teu sofrimento é o júbilo dos céus,
Teu deve-amor é o meu haver-rancor”,
Eu me conformaria, indo ao extremo
De não dobrar-me, réu de um juiz verdugo,
Mas orgulhoso que um poder sumpremo
Me obrigasse a gemer sob o seu jugo.
Mas não. Mal nata, a Alegria já é Morte,
E num ofego a Esperança se afoga;
Brinca de sol e chuva o tempo, e joga
Dados trocados com meu crepe a Sorte.
Tais juízes viciados são bem loucos:
Condenam-me a viver, mas pouco, aos poucos.
Trad.: Décio Pignatari