Nunca importou que houvesse outrora um vasto lamento:
árvores nas colinas, nos bosques, chorando —
um ouro fluido vertendo
até o chão através das estações e dos séculos —
até agora.
Nesta amena tarde de setembro, da qual você está ausente,
seguro, como se minha mão pudesse retê-lo,
um ornamento de âmbar
que um dia você me deu.
A razão diz:
Os mortos não podem ver os vivos.
Os vivos nunca verão os mortos novamente.
O ar límpido de que precisávamos para nos encontrar
se perdeu para sempre, e ainda assim
esta resina um dia
recolheu sementes, folhas, e até pequenas penas, enquanto caía
e caía.
Agora, sob a luz do sol, elas parecem tão vivas quanto
sempre foram,
como se o passado se tornasse o presente e a própria memória
um mel báltico —
um desgaste nas margens do visível, uma prova do quanto
pode ser preservado
dentro de uma imperfeita translucidez.
Trad.: Nelson Santander
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Amber
It never mattered that there was once a vast grieving:
trees on their hillsides, in their groves, weeping—
a plastic gold dropping
through seasons and centuries to the ground—
until now.
On this fine September afternoon from which you are absent
I am holding, as if my hand could store it,
an ornament of amber
you once gave me.
Reason says this:
The dead cannot see the living.
The living will never see the dead again.
The clear air we need to find each other in is
gone forever, yet
this resin once
collected seeds, leaves and even small feathers as it fell
and fell
which now in a sunny atmosphere seem as alive as
they ever were
as though the past could be present and memory itself
a Baltic honey—
a chafing at the edges of the seen, a showing off of just how much
can be kept safe
inside a flawed translucence.