Faith Shearin – Cinzas, cinzas

O inverno é a morte pela qual todos temos esperado.
Mesmo nas Festas, em que o ano novo é louvado,
os galhos se quebram sob o peso da neve.
Conhecemos esta estação como reconheceremos o fim
de nossas vidas quando a vida estiver na metade.
Os anos seguem o caminho dos dentes da infância: premidos tão
esperançosamente sob travesseiros limpos. Pele morta.
As unhas que crescem sem pulsação.
Uma terra que engole bebês
devolve um erupção de margaridas de olhos brancos.

Trad.: Nelson Santander

N. do T.: pelo contexto do poema, o seu título pode ser a) a derivação de um dos grandes temas bíblicos (“Ashes to ashes, dust to dust” – em tradução livre, “Do pó viemos, ao pó retornaremos”), b) uma alusão ao título de uma canção de David Bowie (“Ashes to Ashes”) ou talvez c) remeta à uma interpretação corrente da antiga cantiga de roda – muito famosa no Reino Unido – chamada “Ring Around the Rosie” e seus famosos versos: Ring around the rosie / pocket full of posies / ashes, ashes / we all fall down! Segundo essa interpretação, a cantiga referir-se-ia na verdade, à peste bubônica que atingiu Londres no Século XVII. Assim, o título “Ring Around the Rosie” seria uma menção à erupção cutânea em torno da ferida de uma pessoa contaminada pela peste; “pocket full of posies“, as pétalas de flores que os médicos derramavam sobre seus pacientes mortos para afastar o cheiro da doença e da decomposição; ashes, ashes, o que sobrou dos defuntos após a cremação necessária para diminuir a transmissão da doença; e we all fall down! a constatação de que todos mais cedo ou mais tarde cairemos. Em um sentido mais amplo, “Ashes to ashes” é frequentemente utilizado para se referir à transitoriedade da vida e de tudo que nos cerca e à futilidade das realizações humanas.

Ashes, Ashes

Winter is the death we have all been waiting for.
Even at parties where the new year is praised
branches are breaking beneath the weight of snow.
We know this season like we will know the end
of our lives when the living is halfway through.
Years go the way of childhood teeth: pressed so
hopefully beneath clean pillows. Dead skin.
The fingernails that grow without a pulse.
An earth that swallows babies
gives back a rash of white-eyed daisies.