Wislawa Szymborska – A Cada Cem Pessoas

A cada cem pessoas:

sabem de tudo e muito melhor do que os outros:
– cinquenta e duas.

ficam inseguras a cada passo:
– quase todas as outras.

estão prontas a ajudar
desde é claro que isso não lhes tome muito tempo:
– quarenta e nove, o que já não é mau.

são sempre boas porque incapazes de ser de outro modo:
– quatro… vá lá, talvez cinco.

estão prontas a admirar sem inveja:
– dezoito.

são induzidas ao erro
por uma juventude que passa tão depressa:
– umas sessenta.

com quem não se pode brincar:
– quarenta e quatro.

vivem angustiadas em relação a alguém ou a qualquer coisa:
– setenta e sete.

são dotadíssimas para a felicidade:
– no máximo vinte e tal.

inofensivas quando sozinhas
mas selvagens quando em multidão:
– isso, o melhor é não tentar saber nem aproximadamente.

não pedem nada da vida exceto coisas:
– trinta, mas preferia estar enganada.

encurvadas, sofridas,
sem uma lanterna que lhes ilumine as trevas:
– cedo ou tarde, oitenta e três.

justas:
– pelo menos trinta e cinco, e lamba os beiços.

mas se a isso juntarmos o esforço de compreender:
– três.

dignas de compaixão:
– noventa e nove.

mortais:
– cem entre cem,
número que, até momento, não é possível alterar.

Trad.: Elzbieta Milewska e Sérgio Neves

REPUBLICAÇÃO: poema publicado no blog originalmente em 08/03/2017