Louise Glück – Matinas (3)

Perdoe-me se eu disser que o amo: os poderosos
sempre são enganados, já que os fracos são sempre
guiados pelo pânico. Não posso amar
o que não consigo conceber, e você revela
praticamente nada: é como o espinheiro,
sempre a mesma coisa no mesmo lugar,
ou está mais para a dedaleira, inconstante, brotando primeiro
um espigão rosa na encosta atrás das margaridas,
e no ano seguinte, violeta no roseiral? Você precisa entender
que isso é inútil, esse silêncio que promove a crença
de que você deve ser todas as coisas, a dedaleira e o espinheiro,
a rosa vulnerável e a rija margarida – somos levados a pensar
que é impossível você existir. É isso
que você quer que acreditemos? É isso que explica
o silêncio das manhãs,
os grilos que não roçam as asas, os gatos
que não brigam no quintal?

Trad.: Nelson Santander

Matins

Forgive me if I say I love you: the powerful
are always lied to since the weak are always
driven by panic. I cannot love
what I can’t conceive, and you disclose
virtually nothing: are you like the hawthorn tree,
always the same thing in the same place,
or are you more the foxglove, inconsistent, first springing up
a pink spike on the slope behind the daisies,
and the next year, purple in the rose garden? You must see
it is useless to us, this silence that promotes belief
you must be all things, the foxglove and the hawthorn tree,
the vulnerable rose and the tough daisy – we are left to think
you couldn’t possibly exist. Is this
what you mean us to think, does this explain
the silence of the morning,
the crickets not yet rubbing their wings, the cats
not fighting in the yard?

Louise Glück – Fim de inverno

Sobre o mundo ainda, um pássaro canta
despertando solitário entre ramos escuros.

Vocês desejaram nascer; eu permiti que nascessem.
Quando minha dor alguma vez
interferiu em seu prazer?

Mergulhando
na escuridão e na luz ao mesmo tempo,
sedentos por sensações

como se fossem algo novo, querendo
se expressar

com todo brilho, toda vivacidade

nunca imaginando
que isso lhes custaria algo,
nunca concebendo o som de minha voz
como outra coisa senão parte de vocês –

vocês não a ouvirão no outro mundo,
não com a mesma clareza,
não no canto dos pássaros ou no humano lamento,

não o som límpido, somente
um eco persistente
em todo som que signifique adeus, adeus –

a única linha contínua
que nos une, eu e vocês.

Trad.: Nelson Santander

End of winter

Over the still world, a bird calls
waking solitary among black boughs.

You wanted to be born; I let you be born.
When has my grief ever gotten
in the way of your pleasure?

Plunging ahead
into the dark and light at the same time
eager for sensation

as though you were some new thing, wanting
to express yourselves

all brilliance, all vivacity

never thinking
this would cost you anything,
never imagining the sound of my voice
as anything but part of you —

you won’t hear it in the other world,
not clearly again,
not in birdcall or human cry,

not the clear sound, only
persistent echoing
in all sound that means goodbye, goodbye —

the one continuous line
that binds us to each other.

Louise Glück – Neve de primavera

Olhe para o céu noturno:
tenho dois eus, duas formas de poder.

Estou aqui com você, à janela,
observando sua reação. Ontem
a lua se ergueu sobre a terra úmida no jardim de baixo.
Agora a terra reluz como a lua,
como matéria morta crivada de luz.

Você pode fechar os olhos agora.
Ouvi seus clamores, e os clamores antes dos seus,
e a demanda por trás deles.

Mostrei-lhe o que você deseja:
ausência de crença, mas submissão
à autoridade, que depende da violência.

Trad.: Nelson Santander

Spring snow

Look at the night sky:
I have two selves, two kinds of power.

I am here with you, at the window,
watching you react. Yesterday
the moon rose over moist earth in the lower garden.
Now the earth glitters like the moon,
like dead matter crusted with light.

You can close your eyes now.
I have heard your cries, and cries before yours,
and the demand behind them.
I have shown you what you want:
not belief, but capitulation
to authority, which depends on violence.

Louise Glück – Manhã clara

Eu já os observei por tempo suficiente,
posso me dirigir a vocês do jeito que eu quiser —

Tenho me submetido às suas preferências, observando pacientemente
as coisa que vocês amam, comunicando-me

apenas através de veículos, em
detalhes da terra, como preferem,

gavinhas
de clematis azul, luz

de fim de tarde —
vocês jamais aceitariam

uma voz como a minha, indiferente
aos objetos que diligentemente nomeiam,

suas bocas
pequenos círculos de espanto –

E todo esse tempo
fui indulgente com suas limitações, pensando

que mais cedo ou mais tarde as deixariam de lado por si mesmos,
pensando que esse assunto não poderia absorver os olhares de vocês para sempre –

obstáculo de clematis pintando
flores azuis na janela da varanda –

Não posso continuar
restringindo-me a representações

porque vocês acham que têm o direito
de contestar o que digo:

Estou preparado agora para impor
clareza a todos vocês.

Trad.: Nelson Santander

Clear morning

I’ve watched you long enough,
I can speak to you any way I like —

I’ve submitted to your preferences, observing patiently
the things you love, speaking

through vehicles only, in
details of earth, as you prefer,

tendrils
of blue clematis, light

of early evening —
you would never accept

a voice like mine, indifferent
to the objects you busily name,

your mouths
small circles of awe —

And all this time
I indulged your limitation, thinking

you would cast it aside yourselves sooner or later,
thinking matter could not absorb your gaze forever —

obstacle of the clematis painting
blue flowers on the porch window —

I cannot go on
restricting myself to images

because you think it is your right
to dispute my meaning:

I am prepared now to force
clarity upon you.

Louise Glück – Lamium

Assim se vive quando se tem um coração frio.
Como eu: nas sombras, arrastando-se sobre a rocha fria,
sob os grandes carvalhos.

O sol mal me toca.
Às vezes o avisto no início da primavera, surgindo muito distante.
Então as folhas crescem sobre ele, ocultando-o completamente. Eu o sinto
brilhando por entre aas folhas, errático,
como alguém batendo na lateral de um copo com uma colher de metal.

Nem todas as criaturas vivas requerem
luz na mesma medida. Alguns de nós
fabricamos nossa própria luz: uma folha de prata
como uma trilha que ninguém pode percorrer; uma rasa
lagoa de prata nas trevas sob os grandes carvalhos.

Mas você já sabe disso.
Você e os outros que acreditam
que vivem de verdade e, por extensão, amam
tudo que é frio.

Trad.: Nelson Santander

Lamium

This is how you live when you have a cold heart.
As I do: in shadows, trailing over cool rock,
under the great maple trees.

The sun hardly touches me.
Sometimes I see it in early spring, rising very far away.
Then leaves grow over it, completely hiding it. I feel it
glinting through the leaves, erratic,
like someone hitting the side of a glass with a metal spoon.

Living things don’t all require
light in the same degree. Some of us
make our own light: a silver leaf
like a path no one can use, a shallow
lake of silver in the darkness under the great maples.

But you know this already.
You and the others who think
you live for truth and, by extension, love
all that is cold.

Louise Glück – Trillium*

Quando acordei, estava em uma floresta. A escuridão
parecia natural, o céu entre os pinheiros
repleto de muitas luzes.

Eu não sabia nada; eu não podia fazer nada além de olhar.
E enquanto observava, todas as luzes do céu
se apagaram para formar uma única coisa, um fogo
ardendo por entre os frescos abetos.
Então, não era mais possível olhar
para o céu e não ser destruído.

Há almas que necessitam
da presença da morte, como eu preciso de proteção?
Acredito que, se eu falar tempo suficiente,
responderei a essa questão, verei
tudo o que eles veem, uma escada
alcançando por entre os abetos, o que
os convoca a mudar suas vidas –

Pense no que já compreendo.
Acordei ignorante em uma floresta;
há apenas um momento, eu não conhecia minha voz,
se alguém me desse uma
ela estaria tão cheia de pesar, minhas frases
seriam como lamentos encadeados.
Eu nem sabia que me sentia triste
até que essa palavra surgiu, até que senti
a chuva fluindo de mim.

Trad.: Nelson Santander

* N. do T.: o Trillium é uma flor da família Melanthiaceae. Uma de suas variedades é conhecida no Brasil pelo nome de Lírio-do-bosque.

Trillium

When I woke up I was in a forest. The dark
seemed natural, the sky through the pine trees
thick with many lights.

I knew nothing; I could do nothing but see.
And as I watched, all the lights of heaven
faded to make a single thing, a fire
burning though the cool firs.
Then it wasn’t possible any longer
to stare at heaven and not be destroyed.

Are there souls that need
death’s presence, as I require protection?
I think if I speak long enough
I will answer that question, I will see
whatever they see, a ladder
reaching through the firs, whatever
calls them to exchange their lives –

Think what I understand already.
I woke up ignorant in a forest;
only a moment ago, I didn’t know my voice
if one were given me
would be so full of grief, my sentences
like cries strung together.
I didn’t even know I felt grief
until that word came, until I felt
rain streaming from me.

Louise Glück – Matinas (2)

Pai inalcançável, quando fomos, pela primeira vez,
exilados do paraíso, criaste
uma réplica, um lugar em certo sentido
diferente do paraíso,
concebido para ensinar uma lição: de outro modo,
o mesmo – beleza em ambos os lados, beleza
sem alternativa – Exceto
que não sabíamos qual era a lição. Deixados sozinhos,
nos consumimos. Anos
de escuridão se seguiram; nos revezávamos
cuidando do jardim, as primeiras lágrimas
encheram nossos olhos à medida que a terra
toldava-se de pétalas, algumas
vermelho escuras, outras cor de pele –
Nunca pensamos em ti,
a quem estávamos aprendendo a adorar.
Apenas sabíamos que não estava na natureza humana amar
apenas o que retribui o amor.

Trad.: Nelson Santander

Matins

Unreachable father, when we were first
exiled from heaven, you made
a replica, a place in one sense
different from heaven, being
designed to teach a lesson: otherwise
the same — beauty on either side, beauty
without alternative — Except
we didn’t know what was the lesson. Left alone,
we exhausted each other. Years
of darkness followed; we took turns
working the garden, the first tears
filling our eyes as earth
misted with petals, some
dark red, some flesh colored —
We never thought of you
whom we were learning to worship.
We merely knew it wasn’t human nature to love
only what returns love.

Louise Glück – Matinas* (1)

Brilha o sol; perto da caixa de correio, folhas
de uma bétula dividida, dobradas, plissadas como barbatanas.
Abaixo, hastes ocas de narcisos brancos, Tulipas,
Cantatrice**; folhas
escuras de violetas selvagens. Noah diz
que os depressivos odeiam a primavera, desequilíbrio
entre o mundo interior e exterior. Eu defendo
outra perspectiva – deprimida, sim, mas de alguma forma apaixonadamente
unida à árvore viva, meu corpo
realmente enrolado no tronco dividido, quase em paz, na chuva da tarde,
quase capaz de sentir
a seiva borbulhando e crescendo: Noah diz que isso é
um erro dos depressivos, identificar-se
com uma árvore, enquanto o alegre coração
vagueia pelo jardim feito uma folha que cai, uma representação
da parte, não do todo.

*N. do T.: A palavra “matins” (“matinas” em língua portuguesa) pode ser interpretada de ao menos duas maneiras: na primeira, em um contexto literário, refere-se ao canto matinal dos pássaros. Na segunda, no âmbito da liturgia católica, “Matinas” faz parte das chamadas Horas Canônicas, que eram antigas divisões de tempo adotadas pelo cristianismo e serviam como guias para as orações do dia. As Matinas eram compostas por três noturnos, sendo que cada noturno incluía três salmos e leituras extensas da Escritura e da patrística. Além das Matinas, as Horas Canônicas incluíam também as Laudes (oração matinal), a Hora Média (Terça, Sexta e Noa), as Vésperas (oração da tarde) e as Completas (rezadas antes do repouso noturno). Portanto, os poemas que constituem a série “Matins” em “The Wild Iris” (um total de sete poemas espalhados pela obra) admitem uma dupla interpretação, já que o substantivo pode se referir tanto ao mundo natural (o canto dos pássaros) quanto ao mundo divino (a oração matutina).

** N. do T.: uma espécie de narciso branco.

Trad.: Nelson Santander

Matins

The sun shines; by the mailbox, leaves
of the divided birch tree folded, pleated like fins.
Underneath, hollow stems of the white daffodils, Ice Wings, Cantatrice; dark
leaves of the wild violet. Noah says
depressives hate the spring, imbalance
between the inner and the outer world. I make
another case — being depressed, yes, but in a sense passionately
attached to the living tree, my body
actually curled in the split trunk, almost at peace, in the evening rain
almost able to feel
sap frothing and rising: Noah says this is
an error of depressives, identifying
with a tree, whereas the happy heart
wanders the garden like a falling leaf, a figure for
the part, not the whole.

Louise Glück – A íris selvagem

No fim do meu sofrimento
havia uma saída.

Ouça-me: aquilo que você chama de morte
eu me recordo.

Acima, ruídos, ramos de pinheiros se movendo.
Depois, nada. O sol fraco
cintilava sobre a superfície ressequida.

É terrível sobreviver
como consciência
enterrada na terra escura.

E então acabou: aquilo que você teme, sendo
uma alma e incapaz
de falar, terminando abruptamente, a terra dura
cedendo um pouco. E o que tomei por
pássaros se movendo nos arbustos rasteiros.

Você, que não se lembra
da passagem do outro mundo,
eu lhe digo o que poderia falar vezes sem conta: o que quer que
retorne do esquecimento retorna
para encontrar uma voz:

do cerne da minha vida jorrou
uma grande fonte, sombras azuis
profundas na água azul do mar.

Trad.: Nelson Santander

N. do T.: Sobre este poema, a poeta Fleda Brown diz:

“Aqui está o poema do título. Você sabe como é uma íris selvagem?
(…) Essa [flor de] íris está descrevendo como é sair debaixo da terra escura. Está descrevendo o quão terrível é permanecer enterrado durante todo o inverno, estar consciente de estar enterrado, esperando. Então o surgimento da terra, o falar com a única voz que uma flor tem, sua flor. É estranho como Glück nos faz sentir como se fossemos a íris e, na verdade, percebemos que SOMOS, como a íris, a consciência que espera para falar com nossa própria voz.(…)”

E referindo-se aos versos finais do poema:

“Eu acho que ninguém jamais descreveu a flor de íris melhor do que isso: uma grande fonte, sombras azuis profundas na água do mar azul. Não posso olhar para uma íris agora sem ver uma fonte.”

http://fledabrown.com/columnist/michigan-writers-on-the-air/louise-gluck/

Uma coincidência(?) curiosa: o poema de Glück se assemelha a um dos poemas mais estudados de Carlos Drummond de Andrade: o enigmático “Áporo“, de “A Rosa do Povo”, publicado pela primeira vez em 1945.

Apesar das diferenças de época, contexto e origem dos autores, os poemas apresentam algumas semelhanças notáveis, tais como:

1. Perspectiva não humana: ambos os poemas são narrados por uma entidade não humana – um inseto em “Áporo” e uma flor em “The Wild Iris”;

2. Ciclo da vida: os dois poemas retratam o ciclo da vida, morte e renascimento. Em “Áporo”, o inseto cava na terra, morre e renasce como uma orquídea. Em “The Wild Iris”, a flor passa pelo ciclo de vida, morte e renascimento várias vezes.

3. Metáfora para a experiência humana: os poemas, cada um a seu modo, usam suas respectivas entidades não humanas como metáforas para a experiência humana. Uma possível interpretação de “Áporo” é que o inseto simboliza o cidadão oprimido pela ditadura Vargas. Em “The Wild Iris”, a flor parece simbolizar a alma humana passando por um renascimento mental ou emocional.

O poema de Louise Glück não tem a mesma carga política do admirável texto de Drummond, mas os aspectos que os aproximam revelam muito sobre a universalidade da experiência humana e da própria natureza da poesia, com seu poder de expressar emoções profundas e explorar temas universais.

The wild iris

At the end of my suffering
there was a door.

Hear me out: that which you call death
I remember.

Overhead, noises, branches of the pine shifting.
Then nothing. The weak sun
flickered over the dry surface.

It is terrible to survive
as consciousness
buried in the dark earth.

Then it was over: that which you fear, being
a soul and unable
to speak, ending abruptly, the stiff earth
bending a little. And what I took to be
birds darting in low shrubs.

You who do not remember
passage from the other world
I tell you I could speak again: whatever
returns from oblivion returns
to find a voice:

from the center of my life came
a great fountain, deep blue
shadows on azure seawater.

Apresentação de “The Wild Iris”, de Louise Glück

Atualizado em 08/10/2020: tive contato com a obra de Louise Glück no ano passado. Como narrado na apresentação que segue, fui tão impactado pela qualidade de seus poemas que me vi na contingência de traduzir, na íntegra, um de seus principais trabalhos – The Wild Iris. E desde então, tenho traduzido diversos outros grandes poemas esparsos dela – como “Outubro”, “Paisagem” e “Nostos”. Já são cerca de 60 poemas traduzidos. O encantamento diante de seus poemas continua o mesmo. Atualizo essa “apresentação”, obviamente, porque hoje veio a público a notícia de que Louise – atualmente com 77 anos de idade – foi a premiada com o Nobel de Literatura de 2020. No comunicado que faz a imprensa, a Academia Sueca resume os motivos que levaram à escolha da poeta para o prêmio:

“O Prêmio Nobel de Literatura 2020 é concedido à poetisa americana Louise Glück por sua inconfundível voz poética que, com austera beleza, torna universal a existência individual”

Não há muito o que acrescentar. Espero que o Prêmio Nobel desperte o interesse de novos leitores e, principalmente, que alguma editora brasileira se aventure em publicar ao menos parte de sua obra em português.

Enquanto as editoras não se mexem, sintam-se à vontade nesse humilde blog para apreciar a beleza da poesia de Louise Glück. Perca-se entre as flores, o vento, o mato, o sol, o mundo, a contemplação, a busca por Deus, os desapontamentos, a tristeza calma de seus poemas. Você não vai se arrepender”

Nelson Santander

Navegando pelos vastos mundos virtuais da internet, com o intuito de selecionar alguns poemas para esta modesta página, deparei-me com uma poetisa ainda pouco reconhecida no Brasil: Louise Glück. No site da Academy Poets of America, encontramos uma breve biografia dela:

Louise Glück nasceu em Nova York, em 22 de abril de 1943, e cresceu em Long Island. É autora de vários livros de poesia, sendo o mais recente deles Faithful and Virtuous Night (Farrar, Straus, and Giroux, 2014), que ganhou o Prêmio Nacional do Livro de 2014 em Poesia; Poems 1962-2012 (Farrar, Straus e Giroux, 2012); A Village Life: Poems (Farrar, Straus e Giroux, 2009); Averno (Farrar, Straus e Giroux, 2006), finalista do Prêmio Nacional do Livro de 2006 em Poesia; The Seven Ages (Ecco Press, 2001); e Vita Nova (Ecco Press, 1999), ganhadora do Prêmio Bingham de Poesia, da Boston Book Review e do New Yorker’s Book Award em Poesia. Em 2004, a Sarabande Books lançou seu poema em seis partes “October”, em chapbook.

Seus outros livros incluem Meadowlands (Ecco Press, 1996); The Wild Iris (Ecco Press, 1992), que recebeu o Prêmio Pulitzer e o Prêmio William Carlos Williams da Sociedade de Poesia da América; Ararat (Ecco Press, 1990), pela qual recebeu o Prêmio Nacional de Poesia Rebekah Johnson Bobbitt da Biblioteca do Congresso; e The Triumph of Achilles (Ecco Press, 1985), que recebeu o National Book Critics Circle Award, o Boston Globe Literary Press Award e o Melville Kane Award da Poetry Society of America.

Em uma resenha na New Republic, a crítica Helen Vendler descreveu:

“Louise Glück é uma poeta de presença forte e assustadora. Seus poemas, publicados em uma série de livros memoráveis nos últimos vinte anos, alcançaram a distinção incomum de não serem nem ‘confessionais’ nem ‘intelectuais’ nos sentidos usuais dessas palavras”.

Glück também publicou uma coleção de ensaios, experimentos e teorias: Essays on Poetry (Ecco Press, 1994), que ganhou o Prêmio PEN / Martha Albrand de Não-ficção. Suas honrarias incluem o Prêmio Bollingen em Poesia, o Lannan Literary Award for Poetry, o Prêmio Sara Teasdale Memorial, a Medalha de Aniversário do MIT e bolsas das Fundações Guggenheim e Rockefeller e da National Endowment for the Arts.

Em 1999, Glück foi eleita Chancellor of the Academy of American Poets. No outono de 2003, foi nomeada como a décima segunda poeta laureada consultora da Biblioteca do Congresso americano. Ela atuou como juíza da Yale Series of Younger Poets de 2003 a 2010.

Em 2008, Glück foi selecionada para receber o Prêmio Wallace Stevens pelo domínio da arte da poesia. Sua coleção, Poems 1962-2012, recebeu o prêmio Los Angeles Times Book 2013. Em 2015, recebeu a Medalha de Ouro por Poesia da Academia Americana de Artes e Letras.

Ela é escritora-residente na Universidade de Yale.

O impacto da leitura de alguns de seus poemas foi tão profundo que, movido por um incomum senso de urgência, impus a mim mesmo a tarefa de traduzir e publicar todos os magníficos poemas que compõem aquela que é considerada a obra-prima da autora: “The Wild Iris“. Esta obra, agraciada com vários prêmios literários, incluindo o Pulitzer de Poesia em 1993, tem conquistado admiradores em todo o mundo desde a sua primeira publicação, em 1992, pela Ecco Press.

Sobre este livro, assim testemunhou a também poeta norte-americana Fleda Brown:

“(…) É sobre esse livro (The Wild Iris) que eu quero falar e ler um pouco. Eu o acho um feito extraordinário. Os poemas são pequenas coisas estranhas, dando vozes às flores e a Deus, assim como ao poeta humano. Quem tentaria falar como uma flor, sob o ponto de vista de uma flor, sem soar piegas? Quem tentaria falar pela voz de Deus? Mas ela conseguiu, e em cada poema, a perspectiva é uma que não esperaríamos. Não há sentimentalismo aqui. Cada poema abala nossa maneira usual de ver o mundo.

Na obra há vários poemas com o mesmo título, chamados simplesmente Matinas, ou Vésperas, de modo que o livro parece um panfleto de orações católicas, marcando a passagem do dia em orações. Mas, meu Deus, as orações não são o que esperamos!

(…)

Um dos temas do livro, um dos temas persistentes de Glück, é que não há esperança. Estamos todos condenados. Os poemas são sombrios, sem dúvida. Mas, como Dylan Thomas diz em de seus poemas, nós cantamos em nossos grilhões como canta o mar.

Os poemas geralmente parecem curtos e fáceis em seu idioma, mas eles me lembram a simplicidade dos poemas de Robert Frost – eles apenas parecem simples.

(…)

Os poemas de Louise Gluck não se encaixam no modo “confessional” ou “anedótico”. Você sabe como esses poemas são – por sua intensidade, esses poemas precisam contar uma história para manter nossa atenção. Mas os poemas de Glück são também intensamente pessoais – você pode sentir isso nos poemas dela. Eles são pessoais e líricos – eles ficam em um lugar e cantam. O que eu admiro é a força da fala, da dicção, do ritmo, do humor perfeitamente realizado dos poemas. Eles são completamente diferentes de tudo.”

(http://fledabrown.com/columnist/michigan-writers-on-the-air/louise-gluck/)

Outra bela resenha do livro é esta, da também poeta Rachel Mennies:

“Quando li pela primeira vez The Wild Iris, de Louise Glück, não estava sofrendo. Sentei-me no meu futon de anos, preparando-me para a discussão do texto em minha oficina de pós-graduação na semana seguinte. Peguei o livro em silêncio e li-o várias vezes, totalmente consumido. Eu consumi as linhas bem definidas de Glück, seus verbos exatos. (Sua prosódia instruirá jovens poetas para sempre na tarefa ousada e crucial da escolha das palavras, da imagem tão precisa e correta que seus leitores se atrevem a chamá-la de perfeita.) Eu lamentei e encontrei conforto em sua coragem em face do própria luto – mas quando li The Wild Iris pela primeira vez, não estava sofrendo. Em vez disso, eu usava o sofrimento de Glück como um casaco no verão – perplexa diante de sua força de aprisionamento, incerta se alguma vez eu necessitaria da densidade de sua dor.

Desde então, eu achei Glück, em seus momentos de precisa escuridão, mais reconfortante em momentos de tristeza – talvez haja algo no ruído confuso da tragédia nacional, em suas aleatórias e ininterruptas reportagens, que me fazem desejar uma linguagem tão exata que possa caber na ponta de uma agulha. Em dezembro do ano passado, quando o tiroteio em Newtown levou vinte filhos de seus pais, o poema que leva o nome do livro desdobrou-se em meu cérebro. Antes, em setembro de 2011, eu assisti no noticiário local de Pittsburgh o presidente pousar o Air Force One em nosso aeroporto, a caminho de Somerset, nas proximidades, para lamentar o décimo aniversário do acidente do voo 93. Na época, também, eu alcancei o The Wild Iris, e li o mesmo poema:

No fim do meu sofrimento
havia uma saída.

Ouça-me: do que você chama de morte,
eu me lembro.

Já escrevi antes sobre esse poema e sobre o poder da poesia em nos ajudar, em comunidade, com nossos traumas. Depois de Newtown, voltei a Glück não pela comunidade, mas por seu intimismo; por suas linhas essenciais e assustadoras, procurei e encontrei um conforto inesperado. Em The Wild Iris, a precisão de Glück muitas vezes parece uma ordenação, uma espécie de batizado taxonômico. Esse ato de nomear, essa ordenação gritante do universo, conduz a sua oradora, mesmo quando ela sofre, ao alarido – de volta ao mundo grande e terrível. “Eu nem sabia que me sentia triste”, diz a oradora em seu poema Trillium, “até que essa palavra apareceu, até que eu senti / a chuva fluindo de mim.” E no final de ‘Clear Morning ‘, o tipo de manhã que levou o Presidente a Pittsburgh, lembro-me de pensar “a oradora afirma ‘Estou preparado agora para impor / clareza a todos vocês.” Na agitação sombria do trauma nacional, no fino luto televisivo e banalidades exageradas gesticulando suavemente em direção ao sofrimento, precisamos de uma clareza imposta sobre nós dessa maneira exata e imparcial. Preciso, brutalmente, de cada evento inevitável e brutal.

E agora, como um dos poucos livros com os quais cresci, que realmente amei, ainda me surpreendo com meu apego ao texto – eu o alcanço repetidamente, toda vez sem saber porque, sempre certo de que encontrarei o que estava procurando. Penso muitas vezes na oradora de ‘Clear Morning’, como se ela se dirigisse a mim diretamente, estudando-me a partir do texto: “Eu já os observei por tempo suficiente, / eu posso falar com vocês da maneira que eu quiser -” O texto me nomeou, me incluiu em seu sofrimento. Pode e fala comigo como deseja. (…).”

https://pankmagazine.com/2013/02/12/books-we-cant-quit-the-wild-iris-by-louise-gluck-a-review-by-rachel-mennies/

Amanhã, The Wild Iris, o poema que inaugura o livro com o mesmo nome. E nos dias subsequentes os demais poemas, na ordem em que aparecem no trabalho.

Nelson Santander

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