Louise Glück – Trillium*

Quando acordei eu estava em uma floresta. A escuridão
parecia natural, o céu entre os pinheiros
repleto de muitas luzes.

Eu não sabia nada; eu não podia fazer nada além de olhar.
E enquanto eu observava, todas as luzes do céu
se apagaram para formar uma única coisa, um fogo
ardendo por entre os frescos abetos.
Então não era mais possível olhar
para o céu e não ser destruído.

Há almas que precisam
da presença da morte, como eu necessito de proteção?
Acredito que se falar por tempo suficiente
eu responderei a essa questão, eu verei
tudo o que eles veem, uma escada
alcançando além dos abetos, aquilo que
os convocam para mudarem suas vidas –

Pense no que eu já compreendo.
Eu despertei ignorante na floresta;
há apenas um momento atrás, eu não conhecia minha voz,
se alguém me desse uma
seria tão cheia de pesar, minhas frases
seriam como lamentos encadeados.
Eu nem sabia que me sentia triste
até que essa palavra apareceu, até que eu senti
a chuva fluindo de mim.

Trad.: Nelson Santander

Trillium

When I woke up I was in a forest. The dark
seemed natural, the sky through the pine trees
thick with many lights.

I knew nothing; I could do nothing but see.
And as I watched, all the lights of heaven
faded to make a single thing, a fire
burning though the cool firs.
Then it wasn’t possible any longer
to stare at heaven and not be destroyed.

Are there souls that need
death’s presence, as I require protection?
I think if I speak long enough
I will answer that question, I will see
whatever they see, a ladder
reaching through the firs, whatever
calls them to exchange their lives –

Think what I understand already.
I woke up ignorant in a forest;
only a moment ago, I didn’t know my voice
if one were given me
would be so full of grief, my sentences
like cries strung together.
I didn’t even know I felt grief
until that word came, until I felt
rain streaming from me.

* N. do T.: o Trillium é uma flor da família Melanthiaceae. Uma de suas variedades é conhecida no Brasil pelo nome de Lírio-do-bosque.