Robert Frost – Nada que é de ouro pode permanecer

No mundo, o ouro é o verde elementar,
Sua matiz mais difícil de conservar.
A flor é a sua inaugural semente;
Não obstante por um instante somente.

Depois, folha desaparece sob folha.
E assim, no pesar o Paraíso mergulha,
E a aurora se transforma em amanhecer.
Nada que é de ouro pode permanecer.

Trad.: Nelson Santander

Nothing gold can stay

Nature’s first green is gold,
Her hardest hue to hold.
Her early leaf’s a flower;
But only so an hour.

Then leaf subsides to leaf,
So Eden sank to grief,
So dawn goes down to day.
Nothing gold can stay.

Alfred Lord Tennyson – Ulysses

De nada serve a um rei ficar inerte,
No lar quieto, em meio à rocha infértil,
Unido a esposa idosa, eu doo e imponho
Iníquas leis a um bando de selvagens
Que soma, e dorme, e engorda, e não me vê.

Estou inquieto: Sorverei da vida
A última gota: Sempre gozei muito,
Sofri muito, com todos que me amaram,
E só; em terra firme, ou arrastado
Por negras correntezas irritadas
Pelas Híades: Transformei-me em nome;
Errante sempre, com ardente impulso
Muito vi e conheci; cidades de homens
E costumes, conselhos, climas, regras,
E a mim mesmo, por todos sempre honrado.
Traguei da pugna o gozo junto aos meus,
Longe na Troia dos ventantes plainos.
Sou parte, enfim, de tudo que encontrei;
A experiência é um arco pelo qual
Vislumbro um mundo inexplorado, cuja
Margem se afasta sempre ao meu mover.
Que tolice o parar, o dar um fim,
Enferrujar assim, sem uso e brilho!
Como se respirar fosse viver.
Quão pouco, vidas sobre vidas! Desta,
Pouco resta: mas cada hora é salva
Do que é silêncio eterno, um algo além,
Arauto do que é novo; vil seria
Guardar-me, agrisalhando por três sóis,
A alma cinzenta ardendo por seguir
O saber como um astro que se afoga,
Além do limiar do pensamento.

Este é o meu filho, meu fiel Telêmaco,
Para quem eu relego o cetro e a ilha –
Meu bem-amado, hábil a cumprir
Esse labor, prudente domador
De um povo rude, e mansamente, aos poucos,
Vai sujeitá-los ao que é bom e útil.
Irreprochável, centra-se na esfera
Dos deveres comuns, decente para
Sutis ofícios, prestará tributos
De justa adoração aos nossos deuses
Quando eu me for. Ele obra o dele, eu o meu.

Lá jaz o porto; O barco estufa as velas:
Ensombram grandes mares. Meus marujos,
Almas que lutam, sofrem junto a mim –
Que, jubilosas, acolheram sempre
Trovão e sol ardente, opondo frente
E fronte livres – nós estamos velhos;
Na velhice, persiste a honra e a luta;
A morte é o fim: mas antes, algum feito
Notório e nobre está por se fazer,
Sem impróprios conflitos com os Deuses.
Luzes estão a cintilar nas rochas:
O dia míngua: a lua ascende: o abismo
Gemendo em muitas vozes. Venham, homens,
Não tarda a busca por um novo mundo.
Partam, em ordem todos, e fulminem
As sonoras esteiras; Meu intento
É navegar além-poente, e sob
Estrelas do ocidente, até morrer.
Talvez vorazes golfos nos devorem,
Ou então, nas Afortunadas Ilhas,
Vejamos grande Aquiles, caro a nós;
Mesmo perdendo muito, há muito à frente,
Ainda que como antes não movamos
A Terra e o Céu; O que nós somos, somos;
O mesmo heroico peito temperado,
Fraco por tempo e fado, mas forte a
Lutar, buscar, achar, e não ceder.

Trad.: Rubens Canarim
https://escamandro.wordpress.com/2014/02/13/ulisses-lorde-alfred-tennyson/

REPUBLICAÇÃO. Poema originalmente publicado no blog em 27/03/2016.

Ulysses

It little profits that an idle king,
By this still hearth, among these barren crags,
Match’d with an aged wife, I mete and dole
Unequal laws unto a savage race,
That hoard, and sleep, and feed, and know not me.
I cannot rest from travel: I will drink
Life to the lees: All times I have enjoy’d
Greatly, have suffer’d greatly, both with those
That loved me, and alone, on shore, and when
Thro’ scudding drifts the rainy Hyades
Vext the dim sea: I am become a name;
For always roaming with a hungry heart
Much have I seen and known; cities of men
And manners, climates, councils, governments,
Myself not least, but honour’d of them all;
And drunk delight of battle with my peers,
Far on the ringing plains of windy Troy.
I am a part of all that I have met;
Yet all experience is an arch wherethro’
Gleams that untravell’d world whose margin fades
For ever and forever when I move.
How dull it is to pause, to make an end,
To rust unburnish’d, not to shine in use!
As tho’ to breathe were life! Life piled on life
Were all too little, and of one to me
Little remains: but every hour is saved
From that eternal silence, something more,
A bringer of new things; and vile it were
For some three suns to store and hoard myself,
And this gray spirit yearning in desire
To follow knowledge like a sinking star,
Beyond the utmost bound of human thought.

         This is my son, mine own Telemachus,
To whom I leave the sceptre and the isle,—
Well-loved of me, discerning to fulfil
This labour, by slow prudence to make mild
A rugged people, and thro’ soft degrees
Subdue them to the useful and the good.
Most blameless is he, centred in the sphere
Of common duties, decent not to fail
In offices of tenderness, and pay
Meet adoration to my household gods,
When I am gone. He works his work, I mine.

         There lies the port; the vessel puffs her sail:
There gloom the dark, broad seas. My mariners,
Souls that have toil’d, and wrought, and thought with me—
That ever with a frolic welcome took
The thunder and the sunshine, and opposed
Free hearts, free foreheads—you and I are old;
Old age hath yet his honour and his toil;
Death closes all: but something ere the end,
Some work of noble note, may yet be done,
Not unbecoming men that strove with Gods.
The lights begin to twinkle from the rocks:
The long day wanes: the slow moon climbs: the deep
Moans round with many voices. Come, my friends,
‘T is not too late to seek a newer world.
Push off, and sitting well in order smite
The sounding furrows; for my purpose holds
To sail beyond the sunset, and the baths
Of all the western stars, until I die.
It may be that the gulfs will wash us down:
It may be we shall touch the Happy Isles,
And see the great Achilles, whom we knew.
Tho’ much is taken, much abides; and tho’
We are not now that strength which in old days
Moved earth and heaven, that which we are, we are;
One equal temper of heroic hearts,
Made weak by time and fate, but strong in will
To strive, to seek, to find, and not to yield.

Bei Dao – Resposta

A degradação é o passaporte do vilão,
A nobreza é epitáfio do nobre.
Olhe: como o céu dourado é inundado
do reflexo das sombras torcidas dos mortos.

Passada a época do gelo,
Por que ainda há gelo em toda a parte?
Já foi descoberto O Cabo da Boa Esperança,
por que mil velas ainda competem no Mar Morto?

Eu vim para este mundo
trazendo apenas papel, corda e sombra,
para anunciar antes do julgamento
a voz que tenha sido julgada:

Tenho de lhe dizer, mundo,
Eu-não-acredito!
Mesmo que haja mil desafiantes a seus pés,
conte comigo como o milésimo primeiro.

Não acredito que o céu seja azul;
Não acredito em ecos do trovão;
Não acredito que os sonhos sejam irreais;
Não acredito que a morte não seja retaliada.

Se o mar é destinado a quebrar os diques
deixe todas as águas amargas me encherem o coração;
Se o continente é destinado a crescer
deixe a humanidade optar por outro pico da existência.

Novas mudanças e estrelas a brilhar
estão a adornar o céu sem obstáculos;
São pictogramas de cinco mil anos.
São os olhos atentos das gerações futuras.

Trad.: Yao Feng

The answer

Debasement is the password of the base,
Nobility the epitaph of the noble.
See how the gilded sky is covered
With the drifting twisted shadows of the dead.

The Ice Age is over now,
Why is there ice everywhere?
The Cape of Good Hope has been discovered,
Why do a thousand sails contest the Dead Sea?

I came into this world
Bringing only paper, rope, a shadow,
To proclaim before the judgment
The voice that has been judged:

Let me tell you, world,
I—do—not—believe!
If a thousand challengers lie beneath your feet,
Count me as number thousand and one.

I don’t believe the sky is blue;
I don’t believe in thunder’s echoes;
I don’t believe that dreams are false;
I don’t believe that death has no revenge.

If the sea is destined to breach the dikes
Let all the brackish water pour into my heart;
If the land is destined to rise
Let humanity choose a peak for existence again.

A new conjunction and glimmering stars
Adorn the unobstructed sky now;
They are the pictographs from five thousand years.
They are the watchful eyes of future generations.

Mary Oliver – A serpente negra

Foi quando a serpente negra
apareceu na estrada de manhã,
e o caminhão não conseguiu desviar –
morte, é assim que acontece.

Agora ela jaz enrolada e inútil
como um velho pneu de bicicleta.
Eu paro o carro
e a levo para o mato.

Ela é fria e reluzente
como um chicote trançado, bela e tranquila
como um irmão que morreu.
Eu a deixo sob as folhas

e sigo em frente, refletindo
sobre a morte: sua subitaneidade,
seu peso terrível,
a certeza de sua vinda. Contudo, sob

a razão, arde um fogo mais brilhante, que os ossos
sempre preferiram.
É a narrativa da sorte sem fim.
Ela diz para o oblívio: não comigo!

Ela é a luz no núcleo de cada célula.
Foi o que fez a cobra enrolar-se e fluir para frente
feliz durante toda a primavera através das folhas verdes antes
de chegar à estrada.

Trad.: Nelson Santander

The Black Snake

When the black snake
flashed onto the morning road,
and the truck could not swerve–
death, that is how it happens.

Now he lies looped and useless
as an old bicycle tire.
I stop the car
and carry him into the bushes.

He is as cool and gleaming
as a braided whip, he is as beautiful and quiet
as a dead brother.
I leave him under the leaves

and drive on, thinking
about death: its suddenness,
its terrible weight,
its certain coming. Yet under

reason burns a brighter fire, which the bones
have always preferred.
It is the story of endless good fortune.
It says to oblivion: not me!

It is the light at the center of every cell.
It is what sent the snake coiling and flowing forward
happily all spring through the green leaves before
he came to the road.

Wendell Berry – A cobra

No final de outubro
encontrei no chão da floresta
uma pequena cobra cujas costas
tinham o padrão da escuridão
das folhas mortas em que ela estava deitada.
Seu corpo fora engrossado por um rato
ou um pequeno pássaro. Ela estava fria,
tão entorpecida com a barriga cheia
e o ar do outono que mal se dava ao
trabalho de mexer a língua.
Eu a segurei por muito tempo, refletindo
sobre a perfeição da escura
marca em suas costas, a morte
que a inchou, seu frio vívido.
Agora o frio do seu corpo permanece
em minha mão, e penso nela,
grande, deitada sob a geada
com uma morte para nutri-la
durante um longo sono.

Trad.: Nelson Santander

The Snake

At the end of October
I found on the floor of the woods
a small snake whose back
was patterned with the dark
of the dead leaves he lay on.
His body was thickened with a mouse
or small bird. He was cold,
so stuporous with his full belly
and the fall air that he hardly
troubled to flick his tongue.
I held him a long time, thinking
of the perfection of the dark
marking on his back, the death
that swelled him, his living cold.
Now the cold of him stays
in my hand, and I think of him
lying below the frost,
big with a death to nourish him
during a long sleep.

William Butler Yeats – A Segunda Vinda

Girando em círculos sempre maiores
Já não ouve o falcão ao falcoeiro;
Tudo desaba; o próprio centro hesita;
Livre, a anarquia reina sobre o mundo,
Livre a maré sanguinolenta: em tudo
Se afogam os rituais da inocência;
Os melhores vacilam e os piores
À intensidade passional se entregam.

Na certa algo de novo se anuncia,
Eis que a Segunda Vinda se anuncia,
A Segunda Vinda! E eu nem bem falara
E enorme imagem do Spiritus Mundi
Perturbou-me a vista: em algum deserto
Uma forma entre homem e leão,
De olhar vazio e cruel como o sol
Move as coxas lentas, enquanto em torno
Vacilam as sombras de irados pássaros.
Retorna a escuridão; mas eu já sei
Que vinte séculos de sono pétreo
Ao pesadelo os embala este berço;
E que bicho rude, chegada a hora,
Rasteja até Belém para nascer?

Trad.: Jorge Wanderley

REPUBLICAÇÃO. Poema publicado originalmente no blog em 26/03/2016.

The second coming

Turning and turning in the widening gyre   
The falcon cannot hear the falconer;
Things fall apart; the centre cannot hold;
Mere anarchy is loosed upon the world,
The blood-dimmed tide is loosed, and everywhere   
The ceremony of innocence is drowned;
The best lack all conviction, while the worst   
Are full of passionate intensity.

Surely some revelation is at hand;
Surely the Second Coming is at hand.   
The Second Coming! Hardly are those words out   
When a vast image out of Spiritus Mundi
Troubles my sight: somewhere in sands of the desert   
A shape with lion body and the head of a man,   
A gaze blank and pitiless as the sun,   
Is moving its slow thighs, while all about it   
Reel shadows of the indignant desert birds.   
The darkness drops again; but now I know   
That twenty centuries of stony sleep
Were vexed to nightmare by a rocking cradle,   
And what rough beast, its hour come round at last,   
Slouches towards Bethlehem to be born?

Györy Somlyó – Fábula da dupla-hélice

Filho dos meus pais
pai do meu filho
geraram-me
e procriei
criaram-me
e criei
herdei
e leguei
sepultei e
serei sepultado
atinjo aos poucos
o atingível
na corrente de cristal
ou nas ligações alcalinas
da vida singular
feita de duas
o tempo
condecora-me
com todas as distinções
atando-me
com todas as valências
Mas minhas células
nem suspeitam
até onde podem
através delas
chegar as células
pelos obscuros
degraus restantes
da escada de caracol
ou escada de Jacó
na abóboda celeste
ou cavidade craniana
do ácido desoxi
ribonucléico.

Trad.: Nelson Ascher

Cassiano Ricardo – O Cacto

This is cactus land.
Here the stone images
are raised…
T. S. ELIOT

Vamos, todos, brincar de cacto
na areia da nossa tristeza.
Uma folha sobre outra,
em caminho do céu intacto.

Uns nos ombros dos outros,
um braço a nascer de outro braço,
uma folha sobre outra,
formaremos um grande cacto.

De cada braço, já no espaço,
nascerá mais um braço, e deste
outros braços, qual ramalhete
de flores para um só abraço.

Filhos da pedra e do pó,
fique aqui embaixo o nosso orgulho,
pisado sobre o pedregulho.
Formaremos, num corpo só,

(uma folha sobre outra,
uma folha sobre outra,
um braço a nascer de outro braço)
a nossa escada de Jacó.

Pra que torre de Babel
ou o Empire State, compacto,
se, uns nos ombros dos outros,
chegaremos ao céu, num cacto?

Uma folha sobre outra
e já uma árvore de feridas
por entre os anjos de azulejo
e as borboletas repetidas.

Que fique aqui embaixo a terra;
lá de cima nós tiraremos
uma grande fotografia
do seu rosto de ouro e prata.

Pra provar a Deus que a terra,
numa fotografia exata,
não é redonda, mas chata;
não é redonda, mas chata.

Pra provar, por B mais H,
que o homem, animal suicida,
já sabe fabricar estrelas…
Se é que Deus disto duvida.

Que iríamos fabricar luas
(se não fora, para Seu gáudio,
o espião nos ter furtado a fórmula)
mais bonitas do que as Suas.

Vamos, todos, brincar de cacto,
uns nos ombros dos outros,
um braço a nascer de outro braço,
uma foha sobre outra.

Vamos subir, de folha em folha,
mais alto do que vai o avião.
Lá onde os anjos jogam pedras
no cão da constelação.

Que outros usem avião a jato
pra uma viagem em linha reta;
nós, filhos da planície abjeta,
subiremos ao céu num cacto.

Uns nos obros dos outros,
injustiças sobre injustiças,
formaremos um verde pacto…
Vamos, todos, brincar de cacto.

Vamos, todos, brincar de cacto.

 

REPUBLICAÇÃO. Poema originalmente publicado no blog em 25/03/2016.

Ellen Bass – Ode à repetição

Gosto de fazer a mesma caminhada
pela vasta extensão da Woodrow* até o oceano
e na maioria das vezes viro à esquerda em direção ao farol.
O mar é sempre diferente. Em alguns dias oníricos,
ondas que mal ondulam, apenas uma extensa ondulação
sem nenhuma pressa de chegar. Em outros, a rebentação está bêbada,
colidindo contra os rochedos como um acidente de carro.
E quando chego em casa, gosto
dos mesmos pratos empilhados na mesma despensa
e depois desempilhados e empilhados novamente.
E do rododendro, primavera após primavera,
florescendo em seu róseo ritual.
Eu poderia habitar o reino de Coltrane,
a fricção do ar através de sua palheta
enquanto ele dá forma a cada fraseado de Lush Life,
vezes sem conta até eu morrer. Uma vez tive medo
disso, de abrir as cortinas todas as manhãs
apenas para fecha-las novamente a cada noite.
Você pode se desesperar na imutável vila de sua própria vida.
Mas quando acordo para urinar fico grata
pelo banheiro estar em seu lugar de costume, a pia com sua dádiva de água.
Eu olho para a rua, para os halos dos postes de luz
no nevoeiro ou para a lua banhando os carros estacionados.
Quando volto para cama, encontro
a mulher que dorme lá
todas as noites há trinta anos, só que ela não é
a mesma, seu corpo mais nu
em seu envelhecimento, em sua desordem. Embora eu ainda
vá até ela como um pedinte. Uma manhã,
uma de nós se levantará aturdida
sem a outra e abrirá as cortinas.
Lá estará a mesma desordenada sequoia
no quintal do vizinho e as estrelas irrepreensíveis
apagando-se uma a uma ao longo do dia.

Trad.: Nelson Santander

* Woodrow Avenue, uma das vias da cidade de Santa Cruz, Califórnia, onde a poeta reside atualmente.

Ode to Repetition

I like to take the same walk
down the wide expanse of Woodrow to the ocean
and most days I turn left toward the lighthouse.
The sea is always different. Some days dreamy,
waves hardly waves, just a broad undulation
in no hurry to arrive. Other days the surf’s drunk,
crashing into the cliffs like a car wreck.
And when I get home I like
the same dishes stacked in the same cupboards
and then unstacked and then stacked again.
And the rhododendron, spring after spring,
blossoming its pink ceremony.
I could dwell in the kingdom of Coltrane,
the friction of air through his horn
as he forms each syllable of Lush Life
over and over until I die. Once I was afraid
of this, opening the curtains every morning,
only to close them again each night.
You could despair in the fixed town of your own life.
But when I wake up to pee, I’m grateful
the toilet’s in its usual place, the sink with its gift of water.
I look out at the street, the halos of lampposts
in the fog or the moon rinsing the parked cars.
When I get back in bed I find
the woman who’s been sleeping there
each night for thirty years, only she’s not
the same, her body more naked
in its aging, its disorder. Though I still
come to her like a beggar. One morning
one of us will rise bewildered
without the other and open the curtains.
There will be the same shaggy redwood
in the neighbor’s yard and the faultless stars
going out one by one into the day.

Giacomo Leopardi – O Infinito

Sempre me foi cara esta colina erma
E esta sebe, que de muitos lados
Exclui a visão do último horizonte.
Mas sentado, contemplando, infindáveis
Espaços além dela, e sobre-humanos
Silêncios, e a mais profunda calma
Eu no pensar imagino; e por pouco
Não se amedronta o coração. E o Vento
Ouvindo sussurrar entre essas plantas,
Aquele infinito silêncio a esta voz
Vou comparando: e lembra-me o eterno,
E as estações mortas, e a presente
Viva, e o seu som. Assim na imensidão
Se afoga o meu pensar:
E o naufragar me é doce neste mar

Trad.: Paulo Cesar Souza

REPUBLICAÇÃO. Poema publicado originalmente no blog em 03/03/2016.

L’infinito

Sempre caro mi fu quest’ermo colle,
e questa siepe, che da tanta parte
dell’ultimo orizzonte il guardo esclude.
Ma sedendo e mirando, interminati
spazi di là da quella, e sovrumani
silenzi, e profondissima quïete
io nel pensier mi fingo, ove per poco
il cor non si spaura. E come il vento
odo stormir tra queste piante, io quello
infinito silenzio a questa voce
vo comparando: e mi sovvien l’eterno,
e le morte stagioni, e la presente
e viva, e il suon di lei. Così tra questa
immensità s’annega il pensier mio:
e il naufragar m’è dolce in questo mare.