Agora, ao ouvir uma peça de música
Barroca, como se isso servisse para alterar
A cor do céu ou a cor dos sentimentos,
Apercebo-me de que a música é, só,
O que ficou de ti. O resto – amor,
Corpo, palavras, desejo, um riso – ficou
Não sei onde, nem exatamente sei
quando: sei só que um dia ao acordar,
a noite tudo levou com a sua exata
ciência.
Não me lembro, porém, de que gostasses
de música barroca mais do que de outra;
ou de que esse tivesse sido entre nós,
um tema de conversa. Teatro, isso é que
sim: e talvez ambos, e talvez ambos cada um por seu lado
representasse uma comédia provada que,
sem o sabermos, iria acabar no drama
comum. Decepção. Tédio. Nada de transcendente…
Palavra sobre outras
palavras no fim de tudo.
Agora que esta música te trouxe de volta,
Porém, algo deixou aqui de estar certo. A tua
Ausência nesta presença incômoda? Os teus olhos
Que me fixam sem que eu os encontre? Ou
Amor, que me parecia esquecido e vago
Como qualquer alusão superficial? Porém,
O disco chega ao fim. E quando em vez
da tua voz, um silêncio me entra pela alma,
tenho saudades dessa música que não
voltarei a ouvir.