Laia Noguera i Clofent – Sem título

Amo a vida simples,
sentar-me à entrada
para ver o ir e vir das pessoas,
como se move um pardal,
como se inclina a tarde
nas casas do corpo.

Já sei que morrerei
muito antes de morrerem
as árvores que amo.

Mas nada me preocupa,
porque no instante
em que se me romper o último fio
serei apenas aquela mulher
que se sentava à entrada
para observar simplesmente
e ser folha e raiz.

Trad.: Nelson Santander

Laia Noguera i Clofent

Amo la vida pequeña,
sentarse en la entrada
para ver cómo pasa la gente,
cómo se mueve un gorrión,
cómo se inclina la tarde
en las casas del cuerpo.

Ya sé que moriré
mucho antes de que hayan muerto
los árboles que quiero.

Pero no me preocupa nada,
porque en el instante
en que se me rompa el último hilo
seré sólo aquella mujer
que se sentaba en la entrada
para mirar simplemente
y ser hoja y raíz.

Nicanor Parra – Composições

I

Cuidado, todos mentimos
Mas eu proclamo a verdade.

A matemática enfada
Mas nos dá o de comer.

Por outro lado, se escreve
Poema para viver

Ninguém gosta de assumir
Culpa por vidros quebrados.

Se escreve contra si mesmo
Em virtude dos demais

Que indecente é fazer versos!
Quando menos se esperar
Darei um tiro em mim mesmo.

II

Tudo me parece mal
O sol me parece mal
O mar me parece péssimo.

Os homens estão sobrando,
As nuvens estão sobrando,
E chega de arco-íris.

Meus dentes estão com cáries
Ideias preconcebidas
Espírito inexistente.

O sol dos desesperados
Árvore cheia de micos
Desarranjo dos sentidos.

Imagens incoerentes.

Só podemos existir
De ideias emprestadas.

A arte me degenera
Ciência me degenera
O sexo me degenera.

Convença-se de que não há deus.

Trad.: Nelson Santander

Nicanor Parra – Composiciones

I

Cuidado, todos mentimos
Pero yo digo verdad.

La matemátia aburre
Pero nos da de comer.

En cambio la poesía
Se escribe para vivir.

A nadie le gusta hacerse
Cargo de los vidrios rotos.

Se escribe contra uno mismo
Por culpa de los demás.

¡Qué inmundo es escribir versos!
El día menos pensado
Me voy a pegar un tiro.

II

Todo me parece mal
El sol me parece mal
El mar me parece pésimo.

Los hombres están de más,
Las nubes están de más,
Basta con el arco iris.

Mis dientes están cariados
Ideas preconcebidas
Espíritu inexistente.

El sol de los afligidos
Un árbol lleno de micos
Desorden de los sentidos.

Imágenes inconexas.

Sólo podemos vivir
De pensamientos prestados.

El arte me degenera
La ciencia me degenera
El sexo me degenera.

Convénzase que no hay dios.

Anne Sexton – A Terra Desmorona

Se eu pudesse culpar o clima por tudo,
a neve como a mesa de dissecação,
as árvores que se tornam agulhas de tricô,
o chão, tão rijo como uma arinca congelada,
o lago vestindo seu bigode de geada.
Se eu pudesse culpar tais circunstâncias,
se eu pudesse culpar os corações de estranhos
descendo as ruas silenciosamente,
ou culpar os cães, de todas as cores,
cheirando uns aos outros
e mijando na soleira das portas…
Se eu pudesse culpar os CEOs
e os presidentes por
suas cantilenas irremissíveis​​…
Se eu pudesse culpá-los por todas
as mães e pais do mundo,
pelas suas lições, as migalhas de poder,
pelo seu amor que circunda você feito uma massa…
Culpar Deus talvez?
Pelo começo de tudo
que nos compeliu aos nossos primeiros erros?
Não, eu culparei o Homem
pois o Homem é Deus
e o homem está consumindo a terra
como a uma barra de doces
e nenhum deles pode ser deixado sozinho com o oceano,
pois sabemos que ele o engolirá inteiro.
As estrelas (possivelmente) estão a salvo.
Pelo menos por enquanto.
As estrelas são peras
que ninguém pode alcançar,
mesmo para um casamento.

Talvez por uma morte.

Trad.: Nelson Santander

 

Anne Sexton – The Earth Falls Down

If I could blame it all on the weather,
the snow like the cadaver’s table,
the trees turned into knitting needles,
the ground as hard as a frozen haddock,
the pond wearing its mustache of frost.
If I could blame conditions on that,
if I could blame the hearts of strangers
striding muffled down the street,
or blame the dogs, every color,
sniffing each other
and pissing on the doorstep…
If I could blame the bosses
and the presidents for
their unpardonable songs…
If I could blame it on all
the mothers and fathers of the world,
they of the lessons, the pellets of power,
they of the love surrounding you like batter…
Blame it on God perhaps?
He of the first opening
that pushed us all into our first mistakes?
No, I’ll blame it on Man
For Man is God
and man is eating the earth up
like a candy bar
and not one of them can be left alone with the ocean
for it is known he will gulp it all down.
The stars (possibly) are safe.
At least for the moment.
The stars are pears
that no one can reach,
even for a wedding.

Perhaps for a death.

Aldo Oliva – O Elevador de Hera

Dizem os insetos sensatos e sensíveis
que as paredes e os grandes
muros são apenas um hausto veemente
conjurando o nada, o infinito.
Por estes ladrilhos de não-ser
ascendem, como habitáculos
de fúria, os corpos corrompidos
das palavras. Quem me impôs,
rasgando minha inocência animal
na base da minha profundidade biológica,
esta ascensão conjetural?
Só o vazio que vem
do alto, que vem e obstina
(furacão espiralado)
a massa dos bem criados,
a queda na plenitude
da escuridão, chamada,
às vezes, vida.

Trad.: Nelson Santander

Aldo Oliva – El Ascensor de Hiedra

Dicen los insectos sensatos y sensibles
que las paredes y los grandes
muros son apenas un hálito vehemente
conjurando la nada, el infinito.
Por esos ladrillos del no ser
ascienden, como habitáculos
de furia, los cuerpos corrompidos
de las palabras. ¿Quién me impuso,
rasgando mi inocencia animal
en el sillar de mi hondura biológica,
esta ascensión conjetural?
Sólo lo vacuo que adviene
de lo alto, que adviene y obstina
(huracán espiralante)
la masa de los bienes creados,
la caída en la plenitud
de lo oscuro, llamada,
a veces, vida.

Charles Bukowski – Os Gênios da Raça

não há nada a
discutir
não há nada a
lembrar
não há nada a
esquecer

é triste
e
não é
triste

parece que a
coisa mais
sensata
que uma pessoa pode
fazer
é
se sentar
com uma bebida na
mão
enquanto as paredes
acenam seus sorrisos
de adeus

alguns passam por
tudo
isso
com uma certa
quantidade de
eficiência e
bravura
e então
se vão

alguns aceitam
a possibilidade de
Deus
para ajudá-los a
concluir a
travessia

outros
seguem
em frente

e a estes

eu bebo
esta noite.

Trad.: Nelson Santander

the finest of the breed

there’s nothing to
discuss
there’s nothing to
remember
there’s nothing to
forget

it’s sad
and
it’s not
sad

seems the
most sensible
thing
a person can
do
is
sit
with a drink in
hand
as the walls
wave
their goodbye
smiles

one comes through
it
all
with a certain
amount of
efficiency and
bravery
then
leaves

some accept
the possibility of
God
to help them
get
through

others
take it
straight on

and to these

I drink
tonight.

Eloy Sánchez Rosillo – Aviso aos Caminhantes

Na soma de dias indeterminados
que a vida dá ao homem, talvez exista um
em que o destino, trágico e belo,
passe ao nosso lado e o acaso acenda
uma insólita luz, um incomum
fulgor inconfundível.
Mas não hesites. Tem coragem,
quando chegar o momento,
de abandonares as coisas com que os hábitos
sempre te enganaram, e embarques logo
nesse carro de fogo.
          Pouco dura
o milagre.
     Depois, se te negares
a partir, só a noite
merecerás. E nunca, ainda que queiras,
poderás comprar a luz que desprezaste.

Trad.: Nelson Santander

Eloy Sánchez Rosillo – Aviso para Caminantes

En la suma de días indistintos
que la vida da al hombre, acaso hay uno
en que el destino, trágico y hermoso,
pasa por nuestro lado y el azar manifiesta
una insólita luz, un desusado
fulgor inconfundible.
Pero no has de dudar. Ten el coraje,
cuando llegue el momento,
de abandonar las cosas con que siempre
te engaño la costumbre, y sube pronto
a ese carro de fuego.
Poco dura
el milagro.
Después, si te negaras
a partir, sólo noche
merecerás. Y nunca, aunque quisieras,
podrás comprar la luz que despreciaste.

Vicente Gaos – Testamento

Eu, Vicente Gaos, natural de lugar nenhum, mil anos de idade, de estado civil
solitário, instável
domiciliado/refugiado em um canto do cosmos,
profissão náufrago na sombra,
sem documento de identidade, sem títulos, condecorações nem diplomas de qualquer tipo,
nenhum sinal particular visível no peito ou em qualquer outra parte do corpo,
sem nenhuma cicatriz além de uma necrose miocárdica,
uma velha ferida auto-infligida,
quero dizer, causada por séculos de sofrimento,
de amor escondido, de ternura encoberta por um falso orgulho,
o de não sentir inveja de nada ou de ninguém,
o de ter acreditado que sempre havia tempo de sobra,
o de me alegrar verdadeiramente com o bem alheio,
o de não me permitir jamais a autocomiseração,
o de chorar por dentro por qualquer dano causado ao próximo,
o orgulho ou a confusão de ter-me sentido vítima, sendo o carrasco,
já que todos os homens somos simultaneamente ambas as coisas,
e não é fácil o discernimento neste momento…

Eu, Vicente Gaos (Vicente Gaos?), agora,
quando começo a sentir na boca o gosto amargo das cinzas
póstumas, quando recordo dos últimos dias em meio à tormenta final,
porque eu pequei e pequei,
e apesar disso, nada me devolve a inocência infantil,
a proteção filial, a remota fé sincera de não sei que outrora,
de não sei que antesséculo…

Eu, natural do nada,
habitante do nada,
destinado a nada, anônimo,
me aproximo do Supremo Notário,
do Decano universal – nihil prius fide
e entrego-lhe esse testamento escrito à mão
no qual disponho
– se acaso não é certo que quem dispõe é Ele e o homem apenas propõe –
disponho, suplico,
que quando meu velho coração, meu ferido coração der sua última batida,
piedosamente incinerem esta carne que gozou e sofreu,
esses ossos que já estremeceram de alegria, e de horror,
que me despojem de tudo, aliás de nada, pois sempre fui um despojado
(é verdade, não sinto pena de mim),
e que joguem minhas cinzas ao vento, à água, ao espaço sideral, ao vazio cósmico de onde vim, ao cósmico vazio a que hei de voltar sem retorno,
pois que ninguém retorna da última margem.

E perto já do máximo consolo, da extrema esperança,
confio que Ninguém me ameace mais com outra existência.

E este é o testamento ilusório que outorgo em plena posse de minhas faculdades mentais,
posse de quem só possui dor, ignorância, morte,
e um coração cujo único desejo é o de que cessem seus trêmulos batidos, seus amorosos pulsares,
embora (porque) a vida seja, ao fim e ao cabo, e no início, bela, e é,
e continue renovada, sempre igual, felizmente monótona,
como no paraíso inicial,
como no éden fúnebre que nunca termina, que jamais terminará,
jamais.

Trad.: Nelson Santander

Vicente Gaos – Testamento

Yo, Vicente Gaos, natural de la nada, de mil siglos de edad, de estado civil
solitario, inestable,
domiciliado, refugiado en un rincón del cosmos,
de profesión náufrago en la sombra,
sin documento nacional de identidad, sin títulos, condecoraciones ni diplomas de clase alguna,
sin señal particular visible en el pecho ni en ninguna otra parte del cuerpo,
sin más cicatriz que una necrosis de miocardio,
una vieja herida que me produje yo mismo,
quiero decir, que me causaron siglos de sufrimiento,
de amor oculto, de ternura encubierta por un falso orgullo,
el de no sentir envidia de nada y de nadie,
el de haber creído que siempre había tiempo de sobra,
el de alegrarme seriamente del bien ajeno,
el de no autocompadecerme jamás,
el de llorar hacia dentro por el daño hecho al prójimo,
el orgullo o la confusión de haberme figurado que era yo la víctima, siendo el verdugo,
ya que todos los hombres somos simultáneamente lo uno y lo otro,
y no es fácil en este punto el discernimiento…

Yo, Vicente Gaos (¿Vicente Gaos?), ahora,
cuando empiezo a sentir ya en la boca el amargo gusto de la ceniza
postrera, cuando recuerdo en medio de la tormenta final las postrimerías,
porque he pecado, he pecado,
y a pesar de ello ninguna de las cuatro me devuelve a la inocencia pueril,
al amparo filial, a la remota fe cándida de no sé qué antaño,
de no sé qué antesiglo…

Yo, natural de la nada,
habitante de la nada,
destinado a la nada, anónimo,
me acerco ya al encuentro del supremo Notario,
del Decano universal – nihil prius fide –
y le hago entrega de este testamento ológrafo
donde dispongo
– si acaso no es cierto que quien dispone es Él y el hombre sólo propone –
dispongo, suplico,
que cuando mi añoso corazón, mi lastimado corazón haya dado ya su último latido,
incineren piadosamente esta carne que gozó y sufrió,
estos huesos que se estremecieron ya de júbilo, ya de horror,
que me despojen de todo, de nada, pues siempre fui un despojado
(es la verdad, no me autocompadezco),
y que arrojen mis cenizas al viento, al agua, al espacio estelar, al vacío cósmico de donde vine, al cósmico vacío al que he de volver, espero volver sin retorno,
pues nadie regresa de la última orilla.

Y cerca ya del máximo consuelo, de la extrema esperanza,
confío en que Nadie me amenace más con otra existencia.

Y este es el testamento ilusorio que otorgo en plena posesión de mis facultades mentales,
posesión de quien sólo posee dolor, ignorancia, muerte,
y un corazón cuyo único deseo es el de cesar ya en su trémulo palpito, en su amoroso latido,
aunque (porque) la vida sea al fin y al cabo, y al principio, hermosa, lo es,
y prosiga renovada, siempre igual, afortunadamente monótona,
como en el paraíso primero,
como en el edén funeral que nunca termina, que jamás terminará,
jamás.

Ernesto Pérez Vallejo – Perdão, falava em voz alta

Queres mesmo que eu seja sincero?

Se não esperas nada de ninguém
Nunca poderão decepcioná-la.
A esperança é aquele relógio
que sempre marca a hora errada.

Se não escolheres o caminho errado algumas vezes
como diabos saberás qual deles era o certo?

Nos momentos felizes, não sabemos ao certo se estamos tristes.
Mas, quando tristes, todos sabemos quais são as horas felizes.

E o amor, bem, como fazer-te entender
que não é mais do que a desculpa de amar
a si próprio através de outra pessoa
sem parecer egocentrismo?

É mais fácil mirar-te nos olhos de outrem,
o espelho nunca contou uma mentira.

E, a propósito, sejamos realistas,
Ninguém morreu por ninguém ainda.
O amor não mata, embora sempre morra.
Porque ele morre,
embora agora teus olhos estejam brilhando
e sintas cócegas no estômago
e vejas rinocerontes azuis se te apraz
e digas frases eternas
que soam como um eco no ouvido alheio,
um dia sem saberes como
o um mais um torna-se dois
e dois é sempre muito.
E três é o número seguinte.

A boa amizade, se tiveres sorte,
Ninguém irá desapontá-lo de todo.
Há também pessoas que ganham na loteria de vez em quando.
Em geral, teus melhores amigos, se pudessem,
Foderiam tua namorada.
E tua namorada faria o mesmo com eles.
A vida às vezes se resume a uma simples trepada.

A verdade, dizes?
A fidelidade é o poder absoluto
de seres infiel a ti mesmo.

A ignorância faz o sorriso.
O sorriso é resultado da inveja.
Inveja que cria o ódio.

Se tens medo da solidão
é porque nem mesmo tu
és capaz de suportar-te.

Jamais conseguirás esquecer aquilo de que precisas te livrar.
No entanto, um dia precisarás te lembrar de certas coisas
e só encontrarás o esquecimento.
É mais fácil lembrar quando dói.

E todos aqueles momentos que parecem para sempre,
têm um limite,
todas as promessas, um prazo de validade,
todas as pessoas, um rótulo com seu preço.

(Eu, algumas vezes, apenas alguns beijos)

E digas agora o que tens a dizer
porque amanhã é sempre tarde,
na verdade, às vezes nem mesmo há um amanhã.
E não há nada mais foda do que o silêncio
quando uma única palavra bastaria
para que mudasses teus planos de morrer.

A realidade é que existe apenas uma coisa sincera
impossível de disfarçar mesmo com tua melhor careta
e é o desejo.
E agora desejo que esqueças tudo isso que escrevi
e venhas dormir comigo.

Ou ainda queres que eu continue sendo sincero?

Trad.: Nelson Santander

Ernesto Pérez Vallejo – Perdona, Hablaba en Voz Alta

En serio te apetece que sea sincero?

Si no esperas nada de nadie
nunca podrán defraudarte.
La esperanza es ese reloj
que siempre marca la hora inexacta.

¿Si no escoges el camino equivocado alguna vez
como coño vas a saber cual era el correcto?

Dentro de la felicidad uno no sabe con certeza si está triste.
Pero dentro de la tristeza todos sabemos cuando éramos felices.

Y el amor, bueno, como decirte para que lo entiendas,
que no es más que la excusa de quererse
a través de otra persona
y que así no parezca egocentrismo.

Es más fácil si te miras a sus ojos,
el espejo nunca dijo una mentira.

Y seamos realistas ya de paso,
nadie se ha muerto por nadie todavía.
El amor no mata aunque siempre muera.
Porque muere,
aunque ahora te estén brillando los ojos
y tengas cosquillas dentro del estómago
y veas rinocerontes azules si te place
o digas frases eternas
que suenen como eco en el oído ajeno,
un día sin saber como
el uno más uno se hace dos
y dos es siempre demasiado.
Y tres es el número siguiente.

La amistad bueno, si tienes suerte
nadie te defraudará del todo.
También hay gente a la que le toca de vez en cuando la lotería.
Por lo general tus mejores amigos si pudieran
se follarían a tu novia.
Y tú novia a tus mejores amigos.
A veces la vida se reduce a un simple coño.

¿La verdad dices?
La fidelidad es el poder absoluto
de serte infiel a ti mismo.

La ignorancia hace la sonrisa.
La sonrisa es la que consigue la envidia.
La envidia la que crea el odio.

Si le temes a la soledad
es porque ni siquiera tú
eres capaz de soportarte.

No conseguirás jamás olvidar aquello que necesitas quitarte de encima.
Sin embargo un día necessitarás recordar ciertas cosas
y solo hallarás el olvido.
Es más fácil hacer memoria si te duele.

Y todas esas veces que parecen para siempre,
tienen un límite,
todas las promesas una fecha de caducidad,
todas las personas una etiqueta con su precio.

(Yo alguna vez solo he valido un par de besos)

Y di ahora todo aquello que tienes que decir
porque mañana siempre es tarde,
de hecho a veces ni siquiera hay un mañana.
Y no hay nada más jodido que el silencio
cuando una sola palabra bastaría
para joderle los planes a la muerte.

La realidad es que solo hay una cosa sincera del todo
imposible de camuflar ni con tu mejor mueca
y es el deseo.
Y ahora deseo que olvides todo esto que he escrito
y te vengas a dormir conmigo.

¿ O todavía quieres que siga siendo sincero?

Javier Salvago – Fim de Festa

Enfim sós, vida. A festa acabou
e não há mais ninguém que possa nos obrigar
a forçar sorrisos, ou a inventar incômodas
mentiras piedosas. Todos sumiram.

Despe-te sem medo. Conheço
as velhas rugas de tua carne triste.
Acariciei-as. Sei o que teu rosto
oculta por baixo da maquiagem.

Enfim sós, vida. A casa em silêncio
e tu e eu nus, calados e ausentes,
– juntos por rotina, mais que por desejo –
como dois amantes cansados de se verem.

Trad.: Nelson Santander

Javier Salvago – Fin de Fiesta

Al fin solos, vida. Terminó la fiesta
y no queda nadie que pueda obligarnos
a forzar sonrisas, ni a inventar molestas
mentiras piadosas. Todos se han marchado.

Vete desnudando sin miedo. Conozco
las viejas arrugas de tu triste carne.
Las he acariciado. Sé lo que tu rostro
oculta debajo de ese maquillaje.

Al fin solos, vida. La casa en silencio
y tú y yo desnudos, callados y ausentes
— juntos por rutina, más que por deseo —
como dos amantes cansados de verse.

Luis Cernuda – No Meio da Multidão

Em meio à multidão a vi passar, com seus olhos tão dourados quanto seus cabelos. Caminhava cortando o ar e os corpos; uma mulher se ajoelhou em seu caminho. Senti como o sangue desertava de minhas veias gota a gota.

Vazio, andei sem rumo pela cidade. Gente estranha passava a meu lado sem me ver. Um corpo se derreteu com um leve sussurro quando nele tropecei. Andei mais e mais.

Não sentia meus pés. Quis segura-los com as mãos
e não achei minhas mãos; quis gritar, e não achei minha
voz. A névoa me envolvia.

Pesava-me a vida como um remorso; quis expulsa-la de mim. Mas era impossível, porque estava morto e andava entre os mortos

Trad.: Nelson Santander

Luís Cernuda – En Medio de la Multitud

En medio de la multitud le vi pasar, con sus ojos tan rubios como la cabellera. Marchaba abriendo el aire y los cuerpos; una mujer se arrodilló a su paso. Yo sentí cómo la sangre desertaba mis venas gota a gota.

Vacío, anduve sin rumbo por la ciudad. Gentes extrañas pasaban a mi lado sin verme. Un cuerpo se derritió con leve susurro al tropezarme. Anduve más y más.

No sentía mis pies. Quise cogerlos en mi mano y no hallé mis manos; quise gritar, y no hallé mi voz. La niebla me envolvía.

Me pesaba la vida como un remordimiento; quise arrojarla de mí. Mas era imposible, porque estaba muerto y andaba entre los muertos.