Rui Diniz – O desaguar dos crepúsculos no Ebro

Eu estava presente quando o corpo do hernandez
deu à costa. Era um corpo magro e extraordinariamente
roxo, evocava os últimos dias da sua vida,
quando se demorava o menos possível nos cafés de
barcelona, perseguido até por si próprio.
De facto a loucura procurava-o lentamente.
Durante a noite, em tempo de lua cheia, a sua
sombra por vezes corria pelo silêncio dorsal
das colinas, rindo. Eu lia então até tarde as
suas descrições de uma espanha enlouquecida,
sonhadora de sangue, impulsionada pelos
cemitérios sombrios onde corpos se iam decompondo
enquanto esperavam. Os seus dedos crispavam-se
quando o vi trazido para terra naquele poente
áspero como poentes da cantábria. Os seus olhos
eram duas covas percorridas por algas e
peixes minúsculos, os lábios articulavam ainda as
últimas palavras para o aniquilamento negro dos
seus dias. Mas a boca, submetida no silêncio de
estar morto, esboçava o mais puro sorriso,
a ironia de poemas inteiros meditando o mais
violento infortúnio.

A noite escurecia a praia e os rostos estranhos
das falésias. Vinha com as asas de morta umedecidas
de sangue, irmã de hernandez despedindo-se
suavemente da lua negra.
Olhei-o uma derradeira vez:
o ebro cobria-lhe os cabelos agitados
e no espesso desaguar das narinas
o seu estilo reaparecia.

REPUBLICAÇÃO: poema publicado na página originalmente em 17/03/2019

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Kwame Dawes – Solidão

Tenho voltado a conversar com árvores
em pleno inverno; não com as das bordas,
aquelas seguras, contemplando a rodovia;

mergulho fundo, onde a neve
é em pó, cristalina sob a luz.

Dialogamos, os ramos roçam uns nos outros
como insetos sibilantes

o frio acalma até meu coração inquieto;
aqui, o silêncio é absoluto.

A cada passo, sou surpreendido pelo eco
oco do couro sobre a neve frágil.

Trad.: Nelson Santander

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Loneliness

I have taken to talking to trees
in midwinter; never those at the edges
the safe ones gazing at the highway;

I go deep inside where the snow
is powdery, crystal under light.

We talk, the branches rub together
like insects hissing

the cold calms even my jittery heart;
the silence is absolute here.

Each step I am startled by the hollow
echo of leather on brittle snow.

Carmen Conde – [Declaro que morreu e que seu túmulo]

Declaro que morreu e que seu túmulo
está dentro de mim; sou seu sudário.
A ninguém se enterrou porque seu trânsito
no tempo foi de loucas esperanças.

Circundam o contorno desta cova
– quente é a vinha que escala as paredes –
os pâmpanos mais tenros e suculentos
que arrancam do silêncio seu tumulto.

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO: poema publicado na página originalmente em 14/03/2019

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Declaro que se ha muerto y que su tumba

Declaro que se ha muerto y que su tumba
está dentro de mí; soy su mortaja.
A nadie se enteró porque su tránsito
descanso fue de locas esperanzas.

Rodean el contorno de esta fosa
— caliente está la vid que escala muros —
los pámpanos más tiernos y jugosos
que arrancan del silencio su tumulto.

Maureen Seaton – Preparem-se para dias melhores

                                    Preparem-se para dias melhores 
— Virgilio, Eneida

Não vou me guardar para dias melhores.
Vou me consumir agora – e depois

vou me consumir novamente amanhã.
É por isso que mantenho os olhos abertos a noite toda

e meu coração se precipita em direção às estrelas.
Para ver quais decidem permanecer imóveis

e criar uma constelação ao meu redor

Trad.: Nelson Santander

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Save Yourself for Better Times

— Virgil, Aeneid

I will not save myself for better times.
I will use myself up now-and then

I will use myself up again tomorrow.
It’s why my eyes stay open all night

and my heart throws itself to the stars.
To see which ones decide to stand still

and grow a constellation around me

Mario Benedetti – Currículo

A história é muito simples
você nasce
contempla aturdido
o vermelho-azul do céu
o pássaro que emigra
o desajeitado besouro
que seu sapato esmagará
destemido

você sofre
reclama por comida
e por hábito
por obrigação
chora isento de culpas
exausto
até que o sonho o desqualifique

você ama
se transfigura e ama
por uma eternidade tão efêmera
que até o orgulho se torna terno
e o coração profético
se converte em escombros

você aprende
e usa o que aprendeu
para tornar-se lentamente sábio
para compreender que, afinal, o mundo é isso
em seu melhor momento, uma nostalgia
em seu pior momento, um desamparo
e sempre sempre
uma confusão

então
você morre.

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO: poema publicado na página originalmente em 13/03/2019

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Currículum

El cuento es muy sencillo
usted nace
contempla atribulado
el rojo azul del cielo
el pájaro que emigra
el torpe escarabajo
que su zapato aplastará
valiente

usted sufre
reclama por comida
y por costumbre
por obligación
llora limpio de culpas
extenuado
hasta que el sueño lo descalifica

usted ama
se transfigura y ama
por una eternidad tan provisoria
que hasta el orgullo se le vuelve tierno
y el corazón profético
se convierte en escombros

usted aprende
y usa lo aprendido
para volverse lentamente sabio
para saber que al fin el mundo es esto
en su mejor momento una nostalgia
en su peor momento un desamparo
y siempre siempre
un lío

entonces
usted muere.

Li-Young Lee – O grande relógio

Quando o grande relógio da estação parou,
as folhas continuaram a cair,
os trens continuaram a circular,
o cabelo da minha mãe continuou a crescer, ainda mais negro,
e o corpo do meu pai continuou a encher-se de tempo.

Não consigo enxergar o ano no calendário da estação.
Dormimos sob os ponteiros parados do relógio
até a manhã, quando um homem entrou trazendo uma escada.
Ele subiu até o mostrador do relógio e o abriu com uma chave.
Ninguém, além dele, soube o que ele viu.

Abaixo dele, os rostos mortais seguiram passando,
rumo a todos os pontos cardeais.
As pessoas seguiram cruzando fronteiras,
comprando bilhetes em um fuso horário e pisando em outro.
Cruzando limiares: do sono para a vigília e vice-versa,
da sala de espera para o trem em movimento e vice-versa,
da zona de guerra para a zona segura vice-versa.

Cruzando entre perdas e ganhos:
aprendendo novas palavras para o mundo e suas coisas.
Esquecendo antigas palavras para o coração e suas coisas.
E colecionando palavras em um idioma diferente
para aquelas três cores primárias:
permanecer, partir e retornar.

E apenas o homem no topo da escada
entendeu o que viu por trás do mostrador
que não sorria nem franzia a testa.

E o corpo do meu pai continuou a encher-se de morte
até alcançar a marca mais alta
de seus olhos e transbordar para os meus.
E o cabelo de minha mãe continua a crescer,
sem nunca tocar a terra.

Trad.: Nelson Santander

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Big Clock

When the big clock at the train station stopped,
the leaves kept falling,
the trains kept running,
my mother’s hair kept growing longer and blacker,
and my father’s body kept filling up with time.

I can’t see the year on the station’s calendar.
We slept under the stopped hands of the clock
until morning, when a man entered carrying a ladder.
He climbed up to the clock’s face and opened it with a key.
No one but he knew what he saw.

Below him, the mortal faces went on passing
toward all compass points.
People went on crossing borders,
buying tickets in one time zone and setting foot in another.
Crossing thresholds: sleep to waking and back,
waiting room to moving train and back,
war zone to safe zone and back.

Crossing between gain and loss:
learning new words for the world and the things in it.
Forgetting old words for the heart and the things in it.
And collecting words in a different language
for those three primary colors:
staying, leaving, and returning.

And only the man at the top of the ladder
understood what he saw behind the face
which was neither smiling nor frowning.

And my father’s body went on filling up with death
until it reached the highest etched mark
of his eyes and spilled into mine.
And my mother’s hair goes on
never reaching the earth.

Nicanor Parra – Esquecimento

Juro que não me lembro nem do seu nome,
Mas morrerei chamando-a de Maria,
Não por mero capricho de poeta,
Pela sua aura de praça de província.
Que tempos aqueles!, eu, um esquisitão,
Ela, jovem pálida e sombria.
Ao voltar certa tarde do Liceu
Soube de sua morte imerecida,
Notícia que me causou tal desalento
Que derramei uma lágrima ao ouvi-la.
Uma lágrima, sim, quem acreditaria!
E olha que sou pessoa de vigor.
Se devo dar crédito ao que disseram
Aqueles que trouxeram a notícia
Devo aceitar, sem qualquer hesitação,
Que morreu com meu nome nas pupilas.
Fato que me surpreende, pois nunca
Fora para mim mais do que uma amiga.
Nunca tive com ela mais que simples
Relações de estrita cortesia,
Nada além de palavras e palavras
E uma ou outra menção a andorinhas.
Conheci-a em meu vilarejo (de meu vilarejo
Resta agora um punhado de cinzas),
Mas jamais vi nela outro destino
Que o de uma jovem triste e pensativa.
Tanto é verdade que até cheguei a chamá-la
Pelo celestial nome de Maria,
Circunstância que claramente confirma
O ponto central de minha doutrina.
Pode ser que uma vez a tenha beijado,
Quem é que não beija suas amigas?
Mas tende em mente que o fiz
Sem perceber bem o que estava fazendo.
Não negarei, é claro, que apreciava
Sua imaterial e vaga companhia,
Que era como o espírito sereno
Que anima as flores domésticas.
Não posso ocultar de modo algum
A importância de seu sorriso
Nem desvirtuar o favorável influxo
Que até nas próprias pedras exercia.
Acresça-se, ainda, que à noite
Eram seus olhos fonte fidedigna.
Mas, apesar de tudo, é crucial
Que compreendam que eu não a amava
Senão com esse vago sentimento
Que a um parente enfermo se dispensa.
Entretanto, acontece, ainda assim,
O que até hoje me maravilha,
Esse inaudito e singular caso
De morrer com meu nome nas pupilas,
Ela, rosa múltipla e imaculada,
Ela que era um legítimo farol.
Têm razão, têm toda razão, as pessoas
Que passam o tempo todo se queixando
De que o mundo traiçoeiro em que vivemos
Vale menos que uma roda estacionada:
Muito mais honrado é um túmulo,
Vale mais uma folha mofada.
Nada é verdade, aqui nada perdura,
Nem a cor do cristal através do qual enxergamos.

Hoje é um dia azul de primavera,
Creio que morrerei de poesia,
Daquela famosa jovem melancólica
Não recordo sequer o nome que tinha.
Só sei que passou por este mundo
Como uma pomba fugitiva:
Esqueci-a involuntariamente, aos poucos,
Como todas as coisas da vida.

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO: poema publicado na página originalmente em 12/3/2019

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Es olvido

Juro que no recuerdo ni su nombre,
Mas moriré llamándola María,
No por simple capricho de poeta:
Por su aspecto de plaza de provincia.
¡Tiempos aquellos!, yo un espantapájaros,
Ella una joven pálida y sombría.
Al volver una tarde del Liceo
Supe de la su muerte inmerecida,
Nueva que me causó tal desengaño
Que derramé una lágrima al oírla.
Una lágrima, sí, ¡quién lo creyera!
Y eso que soy persona de energía.
Si he de conceder crédito a lo dicho
Por la gente que trajo la noticia
Debo creer, sin vacilar un punto,
Que murió con mi nombre en las pupilas.
Hecho que me sorprende, porque nunca
Fue para mí otra cosa que una amiga.
Nunca tuve con ella más que simples
Relaciones de estricta cortesía,
Nada más que palabras y palabras
Y una que otra mención de golondrinas.
La conocí en mi pueblo (de mi pueblo
Sólo queda un puñado de cenizas),
Pero jamás vi en ella otro destino
Que el de una joven triste y pensativa
Tanto fue así que hasta llegué a tratarla
Con el celeste nombre de María,
Circunstancia que prueba claramente
La exactitud central de mi doctrina.
Puede ser que una vez la haya besado,
¡Quién es el que no besa a sus amigas!
Pero tened presente que lo hice
Sin darme cuenta bien de lo que hacía.
No negaré, eso sí, que me gustaba
Su inmaterial y vaga compañía
Que era como el espíritu sereno
Que a las flores domésticas anima.
Yo no puedo ocultar de ningún modo
La importancia que tuvo su sonrisa
Ni desvirtuar el favorable influjo
Que hasta en las mismas piedras ejercía.
Agreguemos, aún, que de la noche
Fueron sus ojos fuente fidedigna.
Mas, a pesar de todo, es necesario
Que comprendan que yo no la quería
Sino con ese vago sentimiento
Con que a un pariente enfermo se designa.
Sin embargo sucede, sin embargo,
Lo que a esta fecha aún me maravilla,
Ese inaudito y singular ejemplo
De morir con mi nombre en las pupilas,
Ella, múltiple rosa inmaculada,
Ella que era una lámpara legítima.
Tiene razón, mucha razón, la gente
Que se pasa quejando noche y día
De que el mundo traidor en que vivimos
Vale menos que rueda detenida:
Mucho más honorable es una tumba,
Vale más una hoja enmohecida.
Nada es verdad, aquí nada perdura,
Ni el color del cristal con que se mira.

Hoy es un día azul de primavera,
Creo que moriré de poesía,
De esa famosa joven melancólica
No recuerdo ni el nombre que tenía.
Sólo sé que pasó por este mundo
Como una paloma fugitiva:
La olvidé sin quererlo, lentamente,
Como todas las cosas de la vida.

Emily Montgomery – Algo Bonito

Algo Bonito

para Chris

Eu quis reservar algo bonito para você.
As últimas três joias de romãs reluzentes
equilibradas na palma da minha mão antes que eu as comesse.
O canto matinal dos pássaros no limoeiro depois de você ter ido trabalhar,
a lembrança da chuva da noite passada ainda impressa no gramado.
Ou antes, a enigmática esfericidade da lua
sobre o cânion, pouco antes do amanhecer, quando eu não consegui dormir,
em pé junto à janela, olhando para você, seu corpo
flutuando na enluarada luz aquosa em nossos lençóis.
Eu quero dizer algo verdadeiramente belo, meu amor.
A quietude da casa depois que a máquina de lavar
cessou de zunir. O último verso de um fino livro de poemas,
um livro de capa dura da biblioteca, quase sem uso, repetido em voz alta para você,
seu sabor agridoce ainda pairando na minha língua.
Ou o modo como o bebê dormiu profundamente enquanto eu lia,
afundando-se no aroma secreto de seu cobertor favorito.
Um braço jogado sobre aquele ursinho de lã que minha mãe nos deu
nas últimas semanas de espera antes de seu nascimento.
A outra mão bem aberta, dedos estendidos em uma pose graciosa
e expectante de dançarino. Eu quis preservar tudo isso para você.
Mas não consegui. Não durou. Nunca dura.
Aquele breve momento de graça em que o banal brilha tão intensamente.
No final do dia, você voltará para nós, como sempre faz,
e estaremos ambos cansados, vazios, distraídos, exaustos.
Tudo estará mais caótico, mais frágil, do que quando você saiu.

Trad.: Nelson Santander

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Something Beautiful

For Chris

I wanted to save something beautiful for you.
The last three jewels of glistening pomegranate
balanced in the palm of my hand before I ate them.
The morning birdsong in the lemon tree after you left for work,
the memory of last night’s rain still written on the lawn.
Or earlier, the haunting roundness of the moon
over the canyon just before dawn when I couldn’t sleep,
standing at the window, looking back at you, your body
floating in the watery moonlight of our sheets.
I mean something really beautiful, my love.
The stillness in the house after the washing machine
ceased to hum. The last line from a slender book of poems,
a hardback from the library barely worn, repeated aloud for you,
its bitter sweetness still lingering on my tongue.
Or the way the baby slept so deeply while I read,
burying himself in the secret scent of his favorite blanket.
One arm thrown across that woolen teddy my mother gave us
in those final weeks of waiting before his birth.
The other hand open wide, fingers outstretched in a dancer’s
graceful, expectant pose. I wanted to save all of this for you.
But I couldn’t. It didn’t last. It never does.
That brief moment of grace when the ordinary shines so exquisitely.
At the end of the day you will return to us, as you always do,
and we will both be tired, empty, distracted, spent.
Everything more chaotic, more fragile, than when you left.

José Fernando Guedes – Coeso é o tempo

Coeso é o tempo em cada tênue segundo
Que logo se desfaz e se reconstrói
Como uma linguagem de gestos que o universo
Elabora sem que percebamos.

E mesmo no interior de cada segundo
Há suficiente espaço para se fazer o bem ou o mal
Porque é assim mesmo que acontece: o mal ou o bem
Infinitesimais, germinam e brotam no exato
Segundo onde nasceram.
Portanto o cimento da estrutura orgânica do tempo
É o mal e o bem que você e eu temos à nossa disposição.

REPUBLICAÇÃO: poema publicado na página originalmente em 10/03/2019

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Caitlyn Siehl – Uma carta ao amor

O primeiro poema que escrevi que não era sobre você
estava todo em maiúsculas
como se tentasse compensar
a sua ausência.

Era sobre um mundo distante do nosso
onde todas as plantas eram aterrorizantes,
mas tinham poderes de cura se tivéssemos a coragem
de tocá-las.

O primeiro poema que escrevi que não era sobre você
inchou sua garganta como um sapo
e implorou para ser beijado.

É o meu poema favorito porque o odeio demais.

Leio-o pelo menos uma vez ao dia e penso:
“Então é disso que sou capaz sem você. Vai entender.”

Há um vazio em tudo
e ali o encontro, sorrindo,
como se você não tivesse mais para onde ir.

O primeiro poema que escrevi que não era sobre você
poderá um dia ser tido como uma obra-prima.
Pessoas virão de toda parte do mundo
para correr os dedos sobre a impressão
e maravilhar-se com o quão vazio ele está de você.

Não reconhecerão o seu aroma,
agarrado silenciosamente às mãos delas.
Porque se entramos em uma sala
e notamos o que está faltando,
ainda está lá, não é?

O primeiro poema que escrevi que não era sobre você
ainda era sobre você.
Maldição.
Sempre.

Trad.: Nelson Santander

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A Letter to Love

The first poem I wrote that wasn’t about you
was in all capital letters
like it was trying to compensate
for your absence.

It was about a world far away from this one
where all of the plants were terrifying
but had healing powers if you had the guts
to touch them.

The first poem I wrote that wasn’t about you
puffed up its throat like a bullfrog
and begged to be kissed.

Its my favorite poem because I hate it so much.

I read it at least once a day and think:
“So this is what I’m capable of without you. Go figure.”

There is a hole in everything
and I find you there smiling
like you don’t have anywhere else to be.

The first poem I wrote that wasn’t about you
might one day be regarded as a masterpiece.
People will come from all over the world
to run their fingers over the print
and marvel at how empty it is of you.

They will not recognize your scent
clinging silently to their hands.
Because if you walk into a room
and notice what is missing from it
it is still there isn’t it?

The first poem I wrote that wasn’t about you
was still about you.
Damn it.
Always.