Ricardo Aleixo – Geral

O jo
go é tão

sujo
e você

(entre
bis

onho
e

biz
arro)

torce
justo

para
o juiz?

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André Vallias – as instituições estão funcionando

instituições

Rubén Darío – Quando vieres a amar

Quando vieres a amar, se não houveres amado,
saberás que neste mundo
é o sofrimento maior e mais profundo
ser a um só tempo feliz e malfadado.

Corolário: o amor é um algar
de luz e sombra, poesia e prosa,
no qual se faz a coisa mais custosa
que é, a um só tempo, rir e chorar.

O pior, o mais terrível,
é que viver sem ele é impossível.

Trad.: Nelson Santander

Cuando llegues a amar

Cuando llegues a amar, si no has amado,
sabrás que en este mundo
es el dolor más grande y más profundo
ser a un tiempo feliz y desgraciado.

Corolario: el amor es un abismo
de luz y sombra, poesía y prosa,
y en donde se hace la más cara cosa
que es reír y llorar a un tiempo mismo.

Lo peor, lo más terrible,
es que vivir sin él es imposible.

Juan Vicente Piqueras – Ristorante dal 1882–

Ristorante dal 1882–
leio no cardápio e me ponho a pensar
que numa noite, há mais de um século,
numa noite igual a esta,
houve um grupo de amigos que aqui jantou,
como nós fazemos agora,
e riram, conversaram, passaram o sal,
mais ou menos felizes, fugazes, encantados
de estarem juntos rindo
como nós fazemos agora,
e que nenhum deles vive mais
e agora somos nós,
os que reservamos esta grande mesa
neste restaurante
que tanto apreciamos por ser antigo,
o ar fantasma do garçom,
e o cozinheiro que nunca vimos
e que tanto admiramos
por seu saber nos fazer esquecer
com sabores sagrados, requintados,
que esta poderia ser perfeitamente
nossa última ceia.

Trad.: Nelson Santander

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Ristorante dal 1882-

Ristorante dal 1882-
leo en la carta y me da por pensar
que en una noche de hace más de un siglo,
en una noche que era igual a ésta,
hubo un grupo de amigos que cenaron aquí,
como ahora nosotros,
y rieron, charlaron, se pasaron la sal,
más o menos felices, fugaces, encantados
de estar juntos riendo
como ahora nosotros,
y que ninguno de ellos vive ya
y ahora son nosotros,
los que hemos reservado esta gran mesa
en esto restaurante
del que tanto nos gusta que sea antiguo,
el aire fantasma del camarero,
y el cocinero que nunca hemos visto
y al que admiramos tanto
por su saber hacernos olvidar
con sabores piadosos, exquisitos,
que ésta podría ser perfectamente
nuestra última cena.

Sophia de Mello Breyner Andresen – O primeiro homem

Era como uma árvore da terra nascida
Confundindo com o ardor da terra a sua vida,
E no vasto cantar das marés cheias
Continuava o bater das suas veias.

Criados à medida dos elementos
A alma e os sentimentos
Em si não eram tormentos
Mas graves, grandes, vagos,
Lagos
Refletindo o mundo,
E o eco sem fundo
Da ascensão da terra nos espaços
Eram os impulsos do seu peito
Florindo num ritmo perfeito
Nos gestos dos seus braços.

Alfonso Brezmes – Notas marginais

Às vezes, voltamos às páginas
onde outrora fomos felizes.

É tão fácil quanto deixá-las correr
para trás por entre os dedos,
voltar às páginas marcadas,
àquelas breves notas com as quais
quisemos indicar a outro leitor
que ali deveria se deter.

Basta examina-las para ver
que já não são as mesmas:
algo mudou neste breve
intervalo em que nos ausentamos.

Voltar é outra forma de medir
a magnitude incerta da ferida.

Trad.: Nelson Santander

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Notas marginales

A veces volvemos a las páginas
donde una vez fuimos felices.

Es tan fácil como dejar que corran
hacia atrás entre los dedos,
volver a las marcas que dejamos,
a esas breves notas con las que
quisimos indicar a otro lector
que allí debiera detenerse.

Basta con buscarlas para ver
que ya no son las mismas:
algo ha cambiado en este corto
intervalo en que nos fuimos.

Volver es otra forma de medir
la magnitud incierta de la herida.

Wislawa Szymborska – Para o meu próprio poema

Na melhor das hipóteses,
meu poema, você será lido atentamente,
comentado e lembrado.

Na pior das hipóteses
somente lido.

Terceira possibilidade –
embora escrito,
logo jogado no lixo.

Você pode se valer ainda de uma quarta saída –
desaparecer não escrito
murmurando satisfeito algo para si mesmo.

Trad.: Regina Przybycien

Do własnego wiersza

W najlepszym razie
będziesz, mój wierszu, uważnie czytany,
komentowany i zapamiętany.

W gorszym przypadku
tylko przeczytany.

Trzecia możliwość –
wprawdzie napisany,
ale po chwili wrzucony do kosza.

Masz jeszcze czwarte wyjście do wykorzystania –
znikniesz nienapisany,
z zadowoleniem mrucząc coś do siebie.

Carlos Montemayor – Memória

Estou aqui, em casa, a sós.
Aqui estão os móveis, o ar, os ruídos.
Tenho um sentimento tão transparente
quanto a vidraça de uma janela.
É como a janela pela qual olhava a neve ao amanhecer,
há muitos anos, quando criança,
e colava o rosto contra o vidro e compreendia toda a vida.
É um desejo calmo, como a tarde.
É estar como estão todas as coisas.
Ter meu lugar como tudo o que há na casa.
Perdurar pelo tempo que for, como as coisas.
Não ser mais nem melhor que elas.
Apenas ser, em meio à minha vida,
parte do silêncio de todas as coisas.

Trad.: Nelson Santander

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Memoria

Estoy aquí, en la casa, a solas.
Aquí están los muebles, el aire, los ruidos.
Tengo un sentimiento tan transparente
como el vidrio de una ventana.
Es como la ventana en que miraba la nieve al amanecer,
hace muchos años, cuando era niño,
y pegaba la cara contra el cristal y comprendía toda la vida.
Es un deseo en calma, como la tarde.
Es estar como están todas las cosas.
Tener mi sitio como todo lo que está en la casa.
Perdurar el tiempo que sea, como las cosas.
No ser más ni mejor que ellas.
Sólo ser, en medio de la mi vida,
parte del silencio de todas las cosas

Jorge Valdés Díaz-Vélez – S.T.T.R. Sit Tibi Terra Levis

Hoje lembro os mortos da minha casa
Octavio Paz

De todos os nossos mortos, jamais esqueceremos
o primeiro. O meu habita a raiz do outono,
sob os álamos. Sua memória
me oferece uma murta enquanto se inclina
com os braços abertos de outros dias. Lembro
de sua estatura nas sombras, prestes a afastar-se
do espelho, seu rosto velado, o ornamento
das obstinadas lições de algum piano. Cruzou,
em uma tarde sem sol, a linha que une
a vida à morte. Seu corpo era a ausência
presente, o nome sem ser nomeado. Foi o primeiro
morto a morrer subitamente, e para sempre
haverá de sê-lo. O menino que fui então agora
o distingue sentado no peitoril da janela. Víamos
um barco na pureza impassível das nuvens,
e diásporas de formigas nas lieder de Schubert;
e me falava de Stevenson ou Melville, da jornada
que quis realizar quando jovem, ao fim da nostalgia
que se alçava em sua voz quando cantava. Fez
aquela única viagem naquela tarde. Até então
nunca havia perscrutado os olhos de um morto,
o eco imóvel de dois diáfanos poços,
nem os prantos dos meus, perplexos, que eram outros.

Ele foi o primeiro ausente de tantos e de ninguém,
a presença, o não-ser, a fatigada luz
exposta, o que se nomeia sob as árvores,
de repente, ao esquecermos que já não está
mais aqui sua solidão, sua frágil anedota de navios
fantasmas, de arpejos que iluminaram o sonho
daquela nossa vida. Que lhe seja leve a terra
que fecunda, seu exílio sem fim sob nossas folhas.

Trad.: Nelson Santander

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S.T.T.L. Sit Tibi Terra Levis

Hoy recuerdo a los muertos de mi casa
Octavio Paz

De todos nuestros muertos jamás olvidaremos
al primero. Habita en la raíz del otoño,
debajo de los álamos, el mío. Su memoria
me ofrece un arrayán al tiempo que se inclina
con los brazos abiertos de otros días. Recuerdo
su estatura en penumbras a punto de apartarse
del espejo, su rostro velado, el abalorio
de las tercas lecciones de algún piano. Cruzó
la línea que reúne la vida con la muerte
una tarde sin sol. Su cuerpo era la ausencia
presente, lo nombrado sin nombrar. Era el muerto
primero en estar muerto de súbito, y por siempre
habrá de serlo. El niño que fui entonces ahora
lo distingue sentado en un alféizar. Veíamos
un barco en la pureza impasible de las nubes,
y diásporas de hormigas en los lieder de Schubert;
y me hablaba de Stevenson o Melville, del trayecto
que quiso hacer de joven al fin de la nostalgia
que se alzaba en su voz cuando cantaba. Hizo
aquel único viaje aquella tarde. Hasta entonces
nunca me había asomado a los ojos de un muerto,
el eco inóvil de dos diáfanos aljibes,
ni al llanto de los míos, perplejos, que eran otros.

Él fue el primer ausente de cuántos y de nadie,
la presencia, el no ser, la fatigada luz
abierta, el que se nombra debajo de los árboles
de pronto, al olvidarnos que ya no sigue aquí
su soledad, su frágil anécdota de buques
invisibles, de arpegios que alumbraron el sueño
de aquella vida nuestra. Le sea leve la tierra
que fecunda, su exilio sin fin tras nuestras hojas.

Gonçalo M. Tavares – O idiota

Os irmãos com saúde,
os meus pais vivos,
um pouco deprimidos, mas lúcidos e vivos.
Uma mulher que me espera à porta, e sorri,
um bebê com um ano e meio, uma rapariga,
      vem aí outra;
quando regresso a minha mulher recebe-me a sorrir
   com uma barriga grande.
  Um café, outro,
o caderno preto à minha frente, o tempo,
nada para fazer a não ser por dentro,
        os sentimentos tranquilos.
O estômago calmo: tenho mais dinheiro que fome
     (é sempre um equilíbrio entre dois pesos).
Os empregados de um lado para outro,
       a atender à sede dos outros, aos caprichos.
Ao meu lado direito um vidro: vejo os vivos
em passo apressado
    a cumprimentarem-se;
as ações urgentes, obrigatórias (as que eu esqueci).
       Que fazer?
  Como aproveitar o esconderijo?
Esconde-te, que o exterior não te descubra: só sabe dar ordens.
E como aproveita o homem escondido a dádiva do esconderijo?
Escreve, o idiota.