Juan Vicente Piqueras – Lençóis herdados

A ferida mais íntima é herdada.

O onde, o como, o quando,
a morte, o nascimento,
língua, família, deus, tempo, amor:
o decisivo do que nos acontece,
e quem somos,
não é algo desejado nem escolhido.

E passamos a vida, a despeito disso, ou por isso,
crendo que o desejo é nosso deus,
e não uma rosa rara que em nós cultiva
o acaso
que nos guia, nos cega e nos ignora.

Ninguém escolheu o mundo em que nasceu.
Nem sequer seu nome, sua memória.

O importante se impõe, não se escolhe.

E no entanto somos seres livres
para escolher entre dar e destruir
o que temos, deseja-lo, ama-lo
mais do que o que não há, lutar sem mundo,
aceitar o que ocorre e trabalhar
duro para que ocorra
o que de todo modo vai ocorrer.

Não há mais sabedoria ou remédio
que amar a vida mais que o seu sentido
e deixar-se levar pelas águas indomáveis
de estar aqui e, assim, com sede de partir,
de escolher o que há e, ai de nós,
ser quem somos, pródigos, saber
que não temos mais que o que damos.

Chamamos liberdade a esta tarefa
minuciosa e secreta de bordar,
manchar, romper, lavar, estender, dobrar,
guardar no armário, entre folhas de marmelo,
lençóis herdados da avó
que por sua vez herdou da sua, um estranho enxoval
para essa solidão que me desposou.

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO: poema originalmente publicado na página em 09/04/2020

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Sábanas Heredadas

La más íntima herida es heredada.

El dónde, el cómo, el cuándo,
la muerte, el nacimiento,
lengua, familia, dios, época, amor:
lo decisivo de lo que nos pasa,
y los que somos,
no es algo deseado ni elegido.

Y pasamos la vida, sin embargo o por eso,
creyendo que el deseo es nuestro dios
y no una rosa rara que en nosotros cultiva
el azar
que nos guía, nos ciega y nos ignora.

Nadie ha elegido el mundo en que ha nacido.
Ni siquiera su nombre, su memoria.

Lo importante se impone, no se elige.

Y sin embargo somos seres libres
de escoger entre dar y destruir
lo que tenemos, desearlo, amarlo
más que a lo que no hay, luchar sin mundo,
aceptar lo que ocurre y trabajar
duro para que ocurra
lo que de todos modos va a ocurrir.

No hay más sabiduría ni remedio
que amar la vida más que su sentido
y dejarse llevar por las aguas salvajes
de estar aquí y así, con sed de irse,
de elegir lo que hay y, ay de nosotros,
ser quienes somos, pródigos, saber
que no tenemos más que lo que damos.

Llamamos libertad a esta tarea
minuciosa y secreta de bordar,
manchar, romper, lavar, tender, plegar,
guardar en el armario entre membrillos
sábanas heredadas de la abuela
que a su vez heredó de la suya, extraño ajuar
para esta soledad que me ha esposado.

José Infante – Remorsos ao iniciar um novo ano

Já pensaste algumas vezes que talvez foste tu
quem não amaste ninguém, ou talvez não
o suficiente para que não te deixassem
abandonado pelo mundo, como um fantasma errante?
Pensavas que sempre foste generoso,
mas agora te perguntas se na verdade não foste
possessivo, ciumento, desconfiado e sufocante.
Acreditaste que o amor era para ti a única entrega,
o único sentimento que guiava tua vida,
a única razão de tua existência, o motivo
e a raiz que iluminava tudo o que fazias,
desde o cuidado da casa até o das as palavras,
os silêncios nos quais às vezes te encerravas de forma
repentina e que só pensavas serem amor também,
inexprimível. Uma forma absurda de adoração.
O que fizeste de errado ou em que te equivocaste?
Ou foi o destino que jogou contigo uma partida
cruel e destruidora? Olhas para trás, agora que
começa um novo ano e ficas igualmente tentado
a fazer um balanço completo do tempo que passou.
Dentro de ti queres crer que teus erros, todos,
foram produtos apenas do amor, que não conseguias
manter a teu lado, por mais que tenhas tentado.
Erros que eram produto do inefável
que te impedia de expressar todo o sentimento
de teu coração e de teu próprio corpo. Agora duvidas disso.
Neste mês de janeiro de dois mil e dez, aos 63 anos
de tua triste existência, acodem remorsos
urgentes, que te acossam e impregnam teu ânimo.
Cada dia de tua vida de velho fracassado.
Talvez tenhas amado a ti mesmo mais do que o que a vida
tão generosamente te ofereceu. Ou não percebeste,
perdido como sempre estiveste em um escuro labirinto
que só conduz ao inferno e ao nada.

Trad.: Nelson Santander

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Remordimientos al comenzar un año

¿No has pensado algunas veces que quizás fuiste tú
quien no quisiste a nadie, o tal vez no
lo suficientemente para que no te dejaran
abandonado por el mundo, como fantasma errante?
Tú pensabas que siempre fuiste generoso,
pero ahora te preguntas si en realidad no fuiste
posesivo, celoso, desconfiado y agobiante.
Has creído que el amor fue para ti la única entrega,
el único sentimiento que guiaba tu vida,
la única razón de tu existencia, el motivo
y la raíz que iluminaba todo lo que hacías,
desde el cuidado de la casa hasta el de las palabras,
los silencios en los que a veces te encerrabas de forma
repentina y que solo pensabas que eran amor también,
inexpresable. Una manera absurda de adoración.
¿Qué hiciste mal o en qué te equivocaste?
¿O fue el destino quien jugó contra ti una partida
cruel y destructora? Miras atrás, ahora que comienza
de nuevo un año y tienes la misma tentación
de hacer un balance total del tiempo que ha pasado.
Dentro de ti quieres creer que tus errores, todos,
fueron producto tan solo del amor, que no lograbas
retener a tu lado, por más que lo intentaste.
Errores que eran producto de lo inefable
que te impedía expresar el sentimiento entero
de tu corazón y de tu propio cuerpo. Ahora lo dudas.
En este mes de enero de dos mil diez, a los 63
de tu triste existencia, acuden remordimientos
urgentes, que te acosan y que impregnan tu ánimo.
Cada día de tu vida de viejo fracasado.
Talvez te quisiste a ti mismo más que a lo que la vida
tan generosamente te ofrecía. O no te diste cuenta,
perdido como has estado siempre en un oscuro laberinto
que tan solo conduce al infierno y a la nada.

Raquel Lanseros – Oração

Que não cresça jamais em minhas entranhas
essa paz aparente chamada ceticismo
Fuja eu do amargor,
do cinismo,
da imparcialidade de ombros encolhidos.
Creia eu sempre na vida
Creia eu sempre
nas mil infinitas possibilidades.
Que me enganem os cantos das sereias,
que minha alma guarde sempre um toque de ingenuidade.
Que nunca se pareça minha pele
com a de um imóvel e congelado
paquiderme.
Que eu chore ainda
por sonhos impossíveis
por amores proibidos
por fantasias de menina feitas em pedaços.
Fuja eu do realismo espartilhado.
Conservem-se em meus lábios as canções,
muitas e muito altas e com muitos acordes.

Para o caso de chegarem tempos de silêncio.

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO: poema originalmente publicado na página em 25/03/2020

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Invocación

Que no crezca jamás en mis entrañas
esa calma aparente llamada escepticismo.
Huya yo del resabio,
del cinismo,
de la imparcialidad de hombros encogidos.
Crea yo siempre en la vida
crea yo siempre
en las mil infinitas posibilidades.
Engáñenme los cantos de sirenas,
tenga mi alma siempre un pellizco de ingenua.

Que nunca se parezca mi epidermis
a la piel de un paquidermo inconmovible,
helado.
Llore yo todavía
por sueños imposibles
por amores prohibidos
por fantasías de niña hechas añicos.
Huya yo del realismo encorsetado.
Consérvense en mis labios las canciones,
muchas y muy ruidosas y con muchos acordes.

Por si vinieran tiempos de silencio.

Juan Vicente Piqueras – Visível e Invisível

(Para os amigos que ainda estão vivos,
          mas desapareceram, onde quer que estejam,
          com um abraço póstumo)

As pessoas tendem a desaparecer.

Um dia te fazem rir e no seguinte já não estão.

Um dia te ligavam todos os dias
para saber como estavas,
e agora já nem te lembras de suas vozes.

Um dia disseram sempre
e sempre acabou sendo nunca mais.

As pessoas se parecem com fantasmas.
Aparecem, seduzem, crês nelas,
dão medo, brilham e desaparecem.

Partem e, de repente, já não existem,
como se nunca tivessem existido.
Chegas a convencer-te de que as sonhou.

Eu sou uma delas.

Morrer, no nosso caso,
É uma redundância.

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO: poema originalmente publicado na página em 24/03/2020

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Visto y no visto

(A los amigos que siguen vivos
          pero han desaparecido, allá donde estén,
          con un abrazo póstumo.)

La gente tiende a desaparecer.

Un día te hacen reír y al siguiente no están.

Un día te llamaban cada día
para saber cómo estabas,
y ahora ya no puedes ni recordar sus voces.

Un día dijeron siempre
y siempre acabó siendo nunca más.

La gente se parece a los fantasmas.
Aparecen, seducen, crees en ellos,
dan miedo, brillan y desaparecen.

Se van y, de repente, ya no existen,
como si nunca hubieran existido.
Llegas a convencerte de que los has soñado.

Yo soy uno de ellos.

Morir, en nuestro caso,
es una redundancia.

José Infante – Corpo estranho

Corpo Estranho

Para Rafael Inglada,
Ele sabe por quê.

Como é lógico e natural que aconteça,
meu corpo vem mudando ao ritmo
implacável dos anos. Rugas, flacidez,
deterioração total por todos os lados, os olhos apagados
e sem brilho. E no olhar opaco nada
que anteveja o futuro. É estranho
este corpo que agora arrasto todos os dias
e cujo passo se torna cada vez mais lento
e sem destino. Não há nada esperando por mim.
Meu corpo, velho companheiro, o sabe,
e compartilha minha desilusão e minhas misérias.
Já não o reconheço. Nada nele é familiar
e antigo. Parece um corpo novo
mas desfeito e desgastado como se fosse
velho. Talvez ele seja mais velho do que eu.
Cheguei irremediavelmente à velhice,
embora por dentro me sinta mais jovem
do que os anos que completei
com uma precisão impressionante e pontual.
E me parece igualmente estranho e desconcertante
ter me tornado mais velho que meu pai,
que morreu aos sessenta e dois. Qual é
realmente o corpo que me abriga?
O deteriorado e velho ou o que jaz dentro dele,
ainda com a curiosidade e o coração despertos?
Em nenhum deles me encontro. Tudo parece estranho.
Alheio já à vida, que arrasto com desgosto
em direção a um outro corpo, que será o meu cadáver
transformado em cinzas e fumaça
espalhada entre as ondas dos mares.

Trad.: Nelson Santander

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Cuerpo Extraño

A Rafael Inglada,
Él sabe por qué.

Como es lógico y natural que ocurra
mi cuerpo ha ido cambiando al paso
implacable de los años. Arrugas, flacidez,
deterioro total por todas partes, los ojos apagados
y sin brillo. Y en la mirada opaca nada
que presienta el futuro. Es extraño
este cuerpo que ahora aûastro cada día
y cuyo paso se hace cada vez más lento
y sin destino. No hay nada que me espere.
Mi cuerpo, antiguo compañero, lo sabe
y comparte mi desazón y mis miserias.
Ya no lo reconozco. Nada en él es familiar
y antiguo. Parece un cuerpo nuevo
pero deshecho y desgastado como si fuera
viejo. Tal vez sea más viejo que yo.
Llegué ya sin remedio hasta la ancianidad,
aunque dentro de mí me sienta más joven
que los años que he cumplido
con una precisión abrumadora y puntual.
Y me parece igualmente raro y desconcertante
haber llegado a ser más viejo que mi padre,
que murió a los sesenta y dos. ¿Cuál es
en realidad el cuerpo que me alberga?
¿El deteriorado y viejo o el que yace dentro de él,
aún con la curiosidad y el corazón despierto?
En ninguno me encuentro. Todo parece extraño.
Ajeno ya aIa vida, que arrastro con desgana
hacia otro cuerpo que será mi cadáver
convertido en ceniza y en humo
esparcido entre las olas de los mares.

Nicanor Parra – Último brinde

Querendo ou não,
só temos três alternativas:
o ontem, o presente e o amanhã.

E nem sequer três,
pois, como diz o filósofo,
ontem é ontem,
é nosso apenas na memória:
à rosa que já se desbastou
não se pode arrancar outra pétala.

As cartas por jogar
são apenas duas:
o presente e o dia de amanhã.

E nem sequer duas,
porque é um fato bem estabelecido
que o presente só existe
na medida em que se faz passado
e já passou…,
como a juventude.

Em suma,
só nos resta o amanhã:
levanto minha taça
para esse dia que nunca chega
mas que é o único
de que realmente dispomos.

Trad.: Nelson Santander

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Ultimo brindis

Lo queramos o no
sólo tenemos tres alternativas:
el ayer, el presente y el mañana.

Y ni siquiera tres
porque como dice el filósofo
el ayer es ayer
nos pertenece sólo en el recuerdo:
a la rosa que ya se deshojó
no se le puede sacar otro pétalo.

Las cartas por jugar
son solamente dos:
el presente y el día de mañana.

Y ni siquiera dos
porque es un hecho bien establecido
que el presente no existe
sino en la medida en que se hace pasado
y ya pasó…,
como la juventud.

En resumidas cuentas
sólo nos va quedando el mañana:
yo levanto mi copa
por ese día que no llega nunca
pero que es lo único
de lo que realmente disponemos.

Roberto Juarroz – Assim como não conseguimos

Assim como não conseguimos
sustentar por muito tempo um olhar,
a alegria,
o turbilhão do amor,
o pensamento livre,
a terra suspensa no canto.

E sequer conseguimos manter por muito tempo
as proporções do silêncio
quando algo o perturba.
E menos ainda
quando nada o perturba.

O homem não consegue suportar o homem por muito tempo,
e nem aquilo que não é homem.

E, no entanto, é capaz
de suportar o fardo inexorável
do que não existe.

Trad.: Nelson Santander

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Así como no podemos

Así como no podemos
sostener mucho tiempo una mirada,
tampoco podemos sostener mucho tiempo la alegría,
la espiral del amor,
la gratuidad del pensamiento,
la tierra en suspensión del cántico.

No podemos ni siquiera sostener mucho tiempo
las proporciones del silencio
cuando algo lo visita.
Y menos todavía
cuando nada lo visita.

El hombre no puede sostener mucho tiempo al hombre,
ni tampoco a lo que no es el hombre.

Y sin embargo puede
soportar el peso inexorable
de lo que no existe.

Joan Margarit – No museu

Agacha-se junto ao menino e aponta para o quadro.
Com um gesto solene, comprime o punho
e tenta explicar a força que
acredita ver na pintura.
Esta velha obsessão de transmitir
aos pequenos nossos pobres recursos.
Atento, o menino observa com temor.
Talvez pressinta a solidão que se oculta
nos gestos, na retórica da arte.
Temos sempre a verdade diante de nós,
mas, assim como ao contemplar o céu,
não conseguimos ver mais do que a grafia
de um poema em um idioma estranho.

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO: poema originalmente publicado na página em 08/03/2020

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En el museo

Se agacha junto al niño y le señala el cuadro.
Con un grave ademán aprieta el puño
y trata de explicar aquella fuerza
que le parece ver en la pintura.
Esta vieja obsesión por transmitir
a los pequeños nuestras pobres armas.
Atento, el niño mira con temor.
Quizá intuye la soledad que ocultan
los gestos, la retórica del arte.
Siempre tenemos la verdad delante
pero, como al mirar el firmamento,
no podemos ver más que la grafía
de un poema en una lengua extraña.

José Emílio Pacheco – Crianças e adultos

Aos dez anos, acreditava
que o mundo era dos adultos.
Podiam fazer amor, fumar, beber à vontade,
ir aonde quisessem.
Sobretudo, nos esmagar com seu poder indomável.

Agora sei, por vasta experiência, o lugar-comum:
em verdade, não há adultos,
apenas crianças envelhecidas.

Desejam o que não têm:
o brinquedo do outro.
Sentem medo de tudo.
Obedecem sempre a alguém.
Não governam a própria existência.
Choram por qualquer motivo.

Mas não são valentes como eram aos dez anos:
fazem-no à noite e em silêncio e sozinhos.

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO: poema originalmente publicado na página em 01/03/2020

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Niños y adultos

A los diez años creía
que la tierra era de los adultos.
Podían hacer el amor, fumar, beber a su antojo,
ir a donde quisieran.
Sobre todo, aplastarnos con su poder indomable.

Ahora sé por larga experiencia el lugar común:
en realidad no hay adultos,
sólo niños envejecidos.

Quieren lo que no tienen:
el juguete del otro.
Sienten miedo de todo.
Obedecen siempre a alguien.
No disponen de su existencia.
Lloran por cualquier cosa.

Pero no son valientes como lo fueron a los diez años:
lo hacen de noche y en silencio y a solas.

Juana Bignozzi – [agora que estou velha]

agora que estou velha
e és um senhor idoso
gostaria que recordasses apenas
das fotos das viagens
dos vestidos leves e floridos
que eu usava entre os opulentos jardins
e entre as ruínas
agora que antes de adormecer
sem que percebas te toco para ver se ainda respiras

Trad.: Nelson Santander

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ahora que soy vieja
y vos un señor mayor
quisiera que sólo recordaras
las fotos de los viajes
aquellos livianos vestidos de flores
que usaba entre los jardines lujosos
y entre las ruinas
ahora que antes de dormirme
sin que lo notes te toco para saber si aún respirás