Mary Oliver – Encontrando a raposa

Quando encontrei a raposa hoje – um ouro
tão vivo em seus olhos –
nenhuma de nós
se moveu, embora apenas

uma de nós tenha sido imediatamente tomada
de admiração. Suas patas estavam
apoiadas em seu movimento
de brusca parada,

suas orelhas, para frente apontadas,
a fim de ouvir como minha língua poderia ser,
mas eu não disse
nada, não havia palavra para a

esperança que eu tinha de que
pudéssemos ser amigas. Atrás dela,
a encosta, depois, a floresta,
e, além, todo o universo.

Fiquei imóvel como uma rocha.
Eu não sabia o que fazer.
Então eu pensei, bem,
por que não tentar?
, e

estendi minhas mãos em sinal
de amizade, e instantaneamente,
com um cortante latido, uma negativa
muito decisiva,

em suas patas pequenas e elegantes,
ela voltou a subir a encosta
e voou para aquele outro
mundo.

Trad.: Nelson Santander

Meeting the Fox

When I met the fox today – such living
gold in its eyes –
neither of us
moved though only

one of us was instantly taken up with
admiration. Its legs were
braced in their motion
of sudden stop,

its ears were pricked forward
to hear what my language might be,
but I said
nothing, there was no word for the

hope I had that we
could be friends. Behind it
the hillside, then the woods,
then the entire universe.

I stood as still as a rock.
I didn’t know what to do.
Then I thought, oh well,
why not try, and I

held out my hands
in friendship, and instantly,
with a sharp bark, a very
decisive negative,

on its narrow and elegant feet,
back up the hillside
and into that other world
it flew.

Lucrécio – Da Natureza das Coisas (de rerum natura) (excerto)

Coisa nenhuma subsiste, mas tudo flui.
Fragmento ajusta-se a fragmento e as coisas assim crescem
Até que as conhecemos e nomeamos.
Fundem-se, e já não são as coisas que conhecêramos.

Formados dos átomos que caem velozes ou lentos
Vejo os sóis, vejo os sistemas se ordenarem;
É sólido que a natureza está em nós até mais
Do que nossa consciência sobre nós mesmos.

Tu também, ó Terra, teus impérios, países e mares
A menor de todas as galáxias,
Também formada assim, também tu te irás, ó Terra,
E hora a hora vais indo, ó Terra.

Nada subsiste. Teus mares desaparecerão em névoa;
As areias abandonaram o seu lugar,
E onde hoje se acamam outros mares
Abrirão, com suas foices de brancura, outras baías.

Lucrécio 96 a.C. – 55 a.C.

Trad.: Antonio José de Lima Leitão

REPUBLICAÇÃO – Poema (excerto) publicado no blog originalmente em 16/11/2022

Eiléan Ni Chuilleanéin – A serenata de Hofstetter

A serenata de Hofstetter
(Máire Ní Chuilleanáin1 1944-1990)

Senti a corrente de ar há pouco, enquanto digitava os números –
a data de sua morte, ocorrida há vinte e cinco anos;
estamos em maio, mas a noite clara está ficando mais fria,
o denso fardo se abriu e a dor se disseminou
ao longo desses anos desconhecidos para ela2, e se eu for
procura-la, devo desenrolar e esticar o fio
que ela nos deixou, que se enovela ao longo da tortuosa fronteira,
vagueia por entre os suportes de partituras, acima e abaixo
dos timbales e do grande baixo deitado de lado,
mas se afasta, deixa para trás a sala de concertos
e a apanha no início, quando ela tinha onze anos, e
dela emergiu pela primeira vez aquela linha pura de som que aumenta
num crescendo, sem nunca pousar duas vezes no mesmo lugar,
recobra o fôlego e depois flui tão linear quanto
sua própria respiração, suave como a linha de um tecelão
para frente e para trás traçando. Ela serpenteia e salta outra vez,
o dedo em arco crava as unhas na nota, mas ela transborda.

Ela tinha onze anos. Mil anos antes,
ela poderia ter-se casado com um imperador, ela estava certa
de que seria capaz de consentir na hora, enquanto as notas a envolviam, e
ela continuava tocando à medida que seus olhos se abriam; como as palavras,
como a longa serpente nadando contra a corrente, como o tempo,
a linha a trouxe consigo, a corda e o arco, até
o momento em que vi a respiração abandonar o seu corpo, e o silêncio começou.

Trad.: Nelson Santander

N. do T.:

  1. Máire Ní Chuilleanáin, a quem o poema é dedicado era irmã da poeta, tendo falecido precocemente, aos 46 anos de idade. Era musicista e violinista da Orquestra Filarmônica de Londres.
  2. O pronome pessoal “she” (“ela”), referindo-se à irmão da poeta, aparece oito vezes no poema (sete, na tradução). Embora pareça repetitivo, há uma intencionalidade nesse redizer, que visa a demonstrar a força que a ausência da irmã exerce sobre a autora.

Hofstetter’s Serenade
(Máire Ní Chuilleanáin 1944-1990)

I felt the draught just now as I was keying in the numbers –
the date of her death, going on twenty-five years ago;
it is May but the bright evening is turning colder,
the tight bundle of grief has opened out and spread
wide across these years she knows nothing of, and if I go
in search of her I must unwind and stretch out the thread
she left us, so it twines like a long devious border
turning between the music stands, over and under
the kettledrums and the big bass lying on its side,
but it plunges away leaving the concert-hall behind
and catches her at the start, in the year she was eleven, when
it first rose out of her, the pure line of sound that grows
rising dipping never landing twice on the same spot, then
catching its breath and then flowing along as even
as her own breathing, smooth like a weaver’s thread
back and forth tracing. It weaves and it hops again,
the arched finger nails down the note but it overflows.

She was eleven years old. A thousand years before,
she could have been married to an emperor, she was sure
she was able to consent on the spot, as the notes wrapped around her, and
she went on playing as her eyes opened; like words,
like the long serpent that can only swim upstream, like time,
the line drew her along, the string and the bow, towards
the moment I saw the breath leaving her body, and the silence began.

Giacomo Leopardi – A Noite do Dia de Festa

Noite sem vento, doce, clara. A lua
Flutua sobre tetos e pomares,
Serena, revelando ao longe, os montes.
As ruas e caminhos silenciam,
Minha amada. Pelos balcões, são raros
Os lampiões, um sono suave invade
Os aposentos, você dorme, nada
Perturba o seu repouso, muito menos
A chaga que me abriu dentro do peito!
Mas você dorme, e ao céu de aspecto ameno
– E à antiga natureza onipotente
Que me volta à aflição – dirijo os olhos.
“Para você, nem mesmo uma esperança;
Para os seus olhos, só um brilho: lágrimas”,
Ela me disse. Mas que dia magnífico!
Dormem danças e jogos, mas, em sonho,
Talvez para você desfilem todos
De quem gostou ou aos quais agradou
(Menos eu, que nesse rol não compareço).
Mas se calculo os dias que me restam,
Vejo-me aos gritos, a rolar na terra:
Que vida horrível numa vida jovem!
Vai pela rua o canto solitário
De quem já trabalhou, passou na tasca,
E volta tarde para a casa pobre.
Vai-me apertando, amargo, o coração,
Se penso em como tudo passa e passa,
Quase sem deixar rastro. Já se foi
O dia de festa, e agora chega o dia
Normal, e tudo se escoa no tempo,
Todos os atos humanos. E o estrondo
Dos antigos, as vozes dos heróis
De ontem, onde estão? e o grande império,
E as armas e o fragor que faz tremer
Os caminhos da terra e do oceano?
Tudo é paz e silêncio. O mundo
Tudo aquieta. Já não se pensa em nada.
Quando criança, vinha a espera ansiosa
Do dia de festa, que findava logo.
Sofrendo, comprimia o travesseiro,
Ao ouvir pela noite aquele canto
Que ia morrendo aos poucos, lentamente,
Morrendo e me apertando o coração.

Trad.: Décio Pignatari

REPUBLICAÇÃO: poema publicado no blog originalmente em 11/11/2017

La Sera Del Dì Di Festa

Dolce e chiara è la notte e senza vento,
E queta sovra i tetti e in mezzo agli orti
Posa la luna, e di lontan rivela
Serena ogni montagna. O donna mia,
Già tace ogni sentiero, e pei balconi
Rara traluce la notturna lampa:
Tu dormi, che t’accolse agevol sonno
Nelle tue chete stanze; e non ti morde
Cura nessuna; e già non sai nè pensi
Quanta piaga m’apristi in mezzo al petto.
Tu dormi: io questo ciel, che sì benigno
Appare in vista, a salutar m’affaccio,
E l’antica natura onnipossente,
Che mi fece all’affanno. A te la speme
Nego, mi disse, anche la speme; e d’altro
Non brillin gli occhi tuoi se non di pianto.
Questo dì fu solenne: or da’ trastulli
Prendi riposo; e forse ti rimembra
In sogno a quanti oggi piacesti, e quanti
Piacquero a te: non io, non già, ch’io speri,
Al pensier ti ricorro. Intanto io chieggo
Quanto a viver mi resti, e qui per terra
Mi getto, e grido, e fremo. Oh giorni orrendi
In così verde etate! Ahi, per la via
Odo non lunge il solitario canto
Dell’artigian, che riede a tarda notte,
Dopo i sollazzi, al suo povero ostello;
E fieramente mi si stringe il core,
A pensar come tutto al mondo passa,
E quasi orma non lascia. Ecco è fuggito
Il dì festivo, ed al festivo il giorno
Volgar succede, e se ne porta il tempo
Ogni umano accidente. Or dov’è il suono
Di que’ popoli antichi? or dov’è il grido
De’ nostri avi famosi, e il grande impero
Di quella Roma, e l’armi, e il fragorio
Che n’andò per la terra e l’oceano?
Tutto è pace e silenzio, e tutto posa
Il mondo, e più di lor non si ragiona.
Nella mia prima età, quando s’aspetta
Bramosamente il dì festivo, or poscia
Ch’egli era spento, io doloroso, in veglia,
Premea le piume; ed alla tarda notte
Un canto che s’udia per li sentieri
Lontanando morire a poco a poco,
Già similmente mi stringeva il core.

Kerry Hardie – Navio da morte

                    para minha mãe

Observando-a, pela primeira vez,
virar-se para preparar o seu barco, minha mãe;
quando ficou claro que você tinha outros assuntos agora —
os assuntos do seu futuro —
fui inundada pela raiva.

Foi uma primeira sondagem,
um olhar lançado
sobre velas, remos, mastros,
como aquele olhar experiente que muitas vezes vi
perscrutando a mesa farta.

Como pode você planejar partir assim
quando finalmente estamos próximas o suficiente, se o vento está bom,
para ouvir o que a outra está dizendo?
Eu nunca imaginei que você faria isso, afastar-se,
no meio de uma frase, sua mão testando o cordame,

seu ouvido atento
aos pequenos estrondos das encrespadas ondas
na orla do mar da grande noite,
nem arrependida, nem receosa —
ansiosa apenas pela maré.

Trad.: Nelson Santander

Ship of Death

for my mother

Watching you, for the first time,
turn to prepare your boat, my mother;
making it clear you have other business now—
the business of your future—
I was washed-through with anger.

It was a first survey,
an eye thrown
over sails, oars, timbers,
as many a time I’d seen that practised eye
scan a laden table.

How can you plan going off like this
when we stand at last, close enough, if the wind is right,
to hear what the other is saying?
I never thought you’d do this, turning away,
mid-sentence, your hand testing a rope,

your ear tuned
to the small thunder of the curling wave
on the edge of the great-night sea,
neither regretful nor afraid—
anxious only for the tide.

Ivan Junqueira – No Leito Fundo

No leito fundo em que descansas,
em meio às larvas e aos livores,
longe do mundo e dos terrores
que te infundia o aço das lanças;

longe dos reis e dos senhores
que te esqueceram nas andanças,
longe das taças e das danças,
e dos feéricos rumores;

longe das cálidas crianças
que ateavam fogo aos corredores
e se expandiam, quais vapores,
entre as alfaias e as faianças

de tua herdade, cujas flores
eram fatídicas e mansas,
mas que se abriam, fluidas tranças,
quando as tangiam teus pastores;

longe do fel, do horror, das dores,
é que recolho essas lembranças
e as deito agora, já sem cores,
no leito fundo em que descansas.

REPUBLICAÇÃO: poema publicado no blog originalmente em 09/11/2017

Dan Gerber – No final de setembro

Certa estrela, da qual eu gostava,
desapareceu. É possível que
eu a tenha perdido. Esqueci
os nomes das nuvens e árvores e
rostos, como canções das quais
remanesce apenas uma duradoura melodia.
*
Pequeno riacho,
sob os salgueiros junto à minha cabana alugada —
mais minha do que qualquer outra que eu possa possuir —,
diga-me novamente o nome secreto
que você murmura enquanto estou sentado aqui sozinho,
sem decepções nem esperanças.

Trad.: Nelson Santander

In Late September

A certain star I’ve grown fond of
has gone missing. It’s possible
I’ve misplaced it. I’ve forgotten
the names of clouds and trees and
faces, like songs from which
only an abiding melody remains.
*
Little creek,
under the willows by my rented cabin—
more mine than any I could own—
tell me again the secret name
you murmur as I sit here alone,
without disappointment or hope.

Ivan Junqueira – de “Três Meditações na Corda Lírica”

Only through time time is conquered.
T. S. Eliot, Four Quartets, Burnt Norton, 92

                                  I

Deixa tombar teu corpo sobre a terra
e escuta a voz escura das raízes,
do limo primitivo, da limalha
fina do que é findo e ainda respira.

O que passou (não tanto a treva e a cinza
que os mortos vestem para rir dos vivos)
mais vivo está que toda essa harmonia
de claves e colcheias retorcidas,
mais vivo está porque o escutas limpo,
fora do tempo, mas no tempo audível
de teu olvido, partitura antiga,
para alaúde e lira escrita, timbre
que vibra sem alívio no vazio,
coral de sinos, música de si
mesma esquecida, aquém e além ouvida.

O que passou (à tona, cicatriz)
é dor que nunca dói na superfície,
ao nível do martírio, mas na fibra
da dor que só destila sua resina
quando escondida sob o pó das frinchas
e que, doída assim tão funda e esquiva,
é mais que dor ou cicatriz: estigma
aberto pela morte de outras vidas
nas pálpebras cerradas do existido,
espessa floração de espinhos ígneos,
solstício do suplício, dor a pino
de te saberes resto de um menino
que anoiteceu contigo num jardim
entre brinquedos e vogais partidas.

E tudo é apenas isso, esse fluir
de vozes quebradiças, ida e vinda
de ti por tuas veias e teus rios,
onde o tempo não cessa, onde o princípio
de tudo está no fim, e o fim na origem,
onde mudança e movimento filtram
sua alquimia de vigília e ritmo,
onde és apenas linfa e labirinto,
caminho que retorna ao limo, à fina
limalha do que é findo e ainda respira
para depois, o mesmo, erguer-se a ti,
ao que serás, porque estás vivo aqui,
agora e sempre, antes e após de tudo.

Deixa tombar teu corpo e te acostuma,
húmus, à terra — útero e sepulcro.

REPUBLICAÇÃO: poema publicado no blog originalmente em 08/11/2017

J.C. Todd – Velhos Amigos, Aqui e Adeus

Ei, pervertida, ele diz, olhando-me, no funeral
de nossa amiga, causa da morte: um câncer nas
entranhas do cérebro no interior da estrutura óssea
que dava ao seu rosto tanta beleza. Durante a químio,
seu encanto se igualou aos reveses – seu couro cabeludo
à mostra e os músculos de sua mão esquerda muito fracos
para segurar um pincel. Ele a tranquilizava
no hospital, na ala de cuidados paliativos, ministrando-lhe
lascas de gelo, caldo vegano. Quando a fala dela serpeava
para além da compreensão, ele ouvia
a sequência de sons como se fosse um jazz selvagem demais
para o sentido humano – Sonny Rollins soltando-se
no sax ou Johnny Hodges uivando no seu
flugelhorn dourado. Estou implorando, Johnny gemeu
na noite fria e úmida, lenço azul alisando
o topo de sua cabeça através de um gorro de crochê branco,
implorando por perdão. Era o que eu precisava naquela
época, minha tristeza libertada pelas amarras e sexo
selvagem, a clareza subitamente mais importante
do que sua dor. Ainda pervertida?, ele perguntou. Na mão,
não posso esquecer, uma dose de uísque, sua superfície
intacta, mantida em perfeita tensão pela borda.
Seus olhos serenos, devolvendo meu rosto para mim, acalmavam,
como seu olhar havia feito em nosso ano turbulento e
novamente nesta primavera para nossa amiga que, eu ouvi,
reagiu ao seu toque, as pálpebras piscando abertas,
embora o nervo ótico estivesse machucado pela pressão
crescente do tumor, e a luz repentina ferisse seus olhos.

Trad.: Nelson Santander

Old Friends, Here and Gone

Hey, kinky, he says, checking me out at our friend’s
memorial, cause of death a cancer in
the folds of brain inside the bony structure
that gave her face such beauty. During chemo
her grace grew equal to reversals – her scalp
bared and the muscles of her left hand too weak
to hold a watercolor brush. He had soothed
her in the hospital, the hospice, spooning
ice chips, vegan broth. When her speech meandered
beyond understanding, he had listened to
the streams of sound as if to a jazz too wild
for human sense – Sonny Rollins breaking loose
on sax or Johnny Hodges yowling through his
golden flugelhorn. I’m beggin’, Johnny moaned
one clammy night, blue handkerchief mopping
the crown of his head through a white crochet cap,
beggin’ for mercy. That’s what I’d needed back
then, my sadness set free by restraints and rough
sex, the clarity of sudden more essential
than its pain. Still kinky, he asks. In the hand
I can’t forget, a dram of scotch, its surface
undisturbed, held in perfect tension by the rim.
His eyes, calm, returning my face to me, calmed,
as his gaze had done in our turbulent year and
again this spring for our friend who, I have heard,
rallied at his touch, eyelids blinking open,
although the optic nerve was bruised by the tumor’s
mounting pressure, and sudden light hurt her eyes.

Ivan Junqueira – Antes que o Sol se Ponha

Antes que o sol se ponha e seja tarde,
e o azul crepuscular me deite a garra,
e eu, nu, retorne à terra sem fanfarra
ou mortalha que o corpo me resguarde;
antes que murche a pétala na jarra,
e eu cale, para sempre, sem alarde,
e tudo o que me coube, por covarde,
não mais recorde a relva que se agarra
às últimas raízes da existência;
antes que eu cerre os olhos e adormeça,
e em minhas próprias células esqueça
as chamas que me arderam na consciência;
antes que a luz regresse e que amanheça,
e eu a mim mesmo já não me conheça.

REPUBLICAÇÃO: poema publicado no blog originalmente em 06/11/2017