Diane Seuss – [Todas as coisas agora me lembram]

Todas as coisas agora me lembram de como o amor costumava ser. Taboas dilatadas em lugares
solitários. Condicionador viscoso em meus cabelos. Sólidos livros. Suas variegadas lombadas.
Turbilhão de palavras como um coquetel agitado, umbigo em torvelinho, pulsante asterisco.
O passado é isto: ter sido jovem e desejosa e não ser mais.
No futuro, as taboas explodirão sem mim. Oro para que elas
não passem despercebidas. Quem irá cavalgar os cavalos do cemitério? Loiras e incorrigíveis medeixas
soprando em seus olhos. Quando eu caminhava pelos cemitérios comentando
sobre os nomes estranhos. O presente: seguir um caminho sem amor é cortejar
um vazio roxo-azulado, como uma gruta ou uma boate. Ou a caverna onde cadáveres
são armazenados no inverno, quando uma pá não consegue romper o solo congelado.
Eu já vi tais lugares. Já estive sozinha neles. Som de água marulhando.
Animais chamando uns aos outros. Eco da minha própria respiração. Fumaça saindo
da minha boca no frio. Memória, um intruso em um canto que quer matar,
pedra pesada na mão. E a poesia. Este poema agora. Este caso de uma noite.

Trad.: Nelson Santander

[All things now remind me]

All things now remind me of what love used to be. Swollen cattails in lonely
places. Gluey conditioner in my hair. Firm books. Their variegated spines.
Swirl of words like a stirred cocktail, whirled umbilicus, pulsing asterisk.
The past is this: to have been young and desirous and to be those things
no more. In the future the cattails will explode without me. I pray they will
not go unseen. Who will ride the cemetery horses? Incorrigible blond forelocks
blowing in their eyes. Back when I walked through cemeteries commenting
on the strange names. The present tense: to take a loveless path is to court
a purple-blue emptiness, like a disco or a grotto. Or the cave where dead bodies
are stored in the winter, when a shovel can’t break through frozen ground.
I have seen such spaces. I have been alone in them. Sound of water lapping.
Animals calling to each other. Echo of my own breath. Smoke pouring
from my mouth in the cold. Memory, interloper in the corner who means to kill,
heavy rock in its hand. And poetry. This poem right now. This one-night stand.

Nuno Júdice – Outra Imagem

Conheço o mundo dos mortos. É frio, com terra
Por cima, restos de tábuas, ossos desfeitos pelos invernos.
Os mortos vêem-nos; de onde eles estão, eles chamam pelos nomes
Familiares, num murmúrio, e o vento dispensa-lhes os sopros
– música de ciprestes. Por isso há quem ande entre as campas
ao fim da tarde, com os ouvidos tapados; quem reze,
entre lábios, datas estéreis como as antigas pedras;
quem persiga a própria sombra, temendo que ela desapareça
sob a erva fresca. Memórias vagas e finais, atormentando-me
num secreto espelho – no canto de mim, absorto
e pálido, quem me diz o nome em silêncio, sem olhos,
sem lábios, sem os cabelos que outrora toquei?

REPUBLICAÇÃO: poema publicado na página originalmente em 15/10/2018

Ada Limón – Notas sobre o Subterrâneo

Notas sobre o Subterrâneo

— Para o Parque Nacional Mammoth Cave

Colossal caverna, diga-me, úmido calcário, rocha de arenito,
      asa de morcego, cego e translúcido camarão-das-cavernas,

esta queda livre para além do desconhecido,
                            como se guardam segredos por tanto tempo?

Por toda minha vida vivi sobre o solo,
            rodas de carro sobre pistas pavimentadas, raízes rompendo o                              concreto,
mas ainda não compreendi a trama do propósito desta vida.

Não tanto viver, mas um pairar sem sentido.

O que é ser sempre noite? Sem lua, somente alguns círculos
      iluminados em suas múltiplas entradas. Escuridão infinita, ainda assim o tempo
deve entrar em você. Como um trem, como um rio verde?

Diga-me, o que é ser uma coisa enraizada na sombra?
      Ser a coisa que não é tocada pela luz (não, não é isso)
e nem mesmo precisar da luz? Eu invejo; invejo isso.

O desejo é uma coisa complicada, o fervor dos quereres do corpo,
            mais elogios, mais mãos para afastar as facas.

Eu fui aquela que ansiou e ansiou até não poder mais           enxergar
      além da minha própria avareza. Há uma nação inteira de nós.

Para me perdoar, eu arrolo a terra como testemunha.

Para você, seu Frozen Niagara, seu Fat Man’s Misery1,
            você, com suas 400 milhas de cavernas interligadas que levam
apenas a mais de você mesma, diga-me,

o que é ficar quieto, e ainda assim respirar?

            Soberana dos subterrâneos, permita-me
falar tanto com os mortos quanto com os vivos, como você faz. Falar
com a terra arruinada, as estalactites, o morcego oriental de             pata pequena,

para honrar isso: a duração dos dias. Falar com o núcleo
      que cria e engole, falar não só para o que
grita, mas para o que está embaixo, sem pedir nada.

Estou na entrada da caverna. Estou disposta a rastejar.

Trad.: Nelson Santander

N. do T.: 1. Frozen Niagara e Fat Man’s Misery são duas formações geológicas existentes no Mammoth Cave National Park, localizado no estado de Kentucky, nos Estados Unidos. O Frozen Niagara é uma cascata congelada de calcita, que se assemelha à famosa cachoeira canadense. A formação é composta de depósitos minerais brancos e é um espetáculo incrível para os visitantes que percorrem o Mammoth Cave. O Fat Man’s Misery, por sua vez, é um trecho de passagem estreita e sinuosa da caverna, onde o teto e o chão parecem se encontrar em alguns pontos. Diz a lenda que a passagem recebeu este nome porque um homem muito acima do peso teria ficado preso lá e precisou ser lubrificado com óleo para conseguir sair. A passagem é um dos pontos mais emocionantes e desafiadores para os visitantes que exploram a caverna.

Notes on the below

—For Mammoth Cave National Park

Humongous cavern, tell me, wet limestone, sandstone caprock,
      bat-wing, sightless translucent cave shrimp,

this endless plummet into more of the unknown,
                            how one keeps secrets for so long.

All my life, I’ve lived above the ground,
            car wheels over paved roads, roots breaking through                              concrete,
and still I’ve not understood the reel of this life’s purpose.

Not so much living, but a hovering without sense.

What’s it like to be always night? No moon, but a few lit up
      circles at your many openings. Endless dark, still time
must enter you. Like a train, like a green river?

Tell me what it is to be the thing rooted in shadow.
      To be the thing not touched by light (no that’s not it)
to not even need the light? I envy; I envy that.

Desire is a tricky thing, the boiling of the body’s wants,
            more praise, more hands holding the knives away.

I’ve been the one who has craved and craved until I could not            see
      beyond my own greed. There’s a whole nation of us.

To forgive myself, I point to the earth as witness.

To you, your Frozen Niagara, your Fat Man’s Misery,
            you with your 400 miles of interlocking caves that lead
only to more of you, tell me,

what it is to be quiet, and yet still breathing.

            Ruler of the Underlying, let me
speak to both the dead and the living as you do. Speak
to the ruined earth, the stalactites, the eastern small-footed             bat,

to honor this: the length of days. To speak to the core
      that creates and swallows, to speak not always to what’s
shouting, but to what’s underneath asking for nothing.

I am at the mouth of the cave. I am willing to crawl.

Joan Margarit – A moça do semáforo

Tens a mesma idade que eu tinha
quando comecei a sonhar em encontrar-te.
Ignorava então, assim como tu ignoras,
que o amor se transforma na arma carregada
de solidão e melancolia
que aponta agora para ti em meus olhos.
Tu és a moça que busquei
durante tanto tempo, quando ainda não existias.
E eu o homem a quem, um dia,
desejarás que oriente teus passos.
Mas estarei tão distante de ti então
quanto estás agora de mim neste semáforo.

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO, com alterações na tradução: poema publicado na página originalmente em 14/10/2018

Joan Margarit – La muchacha del semáforo

Tienes la misma edad que yo tenía
cuando empecé a soñar con encontrarte.
Entonces ignoraba, igual que tú lo ignoras,
que el amor se transforma en el arma cargada
de soledad y de melancolía
que ahora está apuntándote en mis ojos.
Tú eres la muchacha que busqué
durante tanto tiempo cuando aún no existías.
Y yo el hombre hacia quien querrás
alguna vez encaminar tus pasos.
Pero estaré tan lejos de ti entonces
como lo estás ahora de mí en este semáforo.

Matthew Rohrer – Não há absolutamente nada mais solitário

Não há absolutamente nada mais solitário
do que o pequeno Mars Rover,
sempre em funcionamento, escavando
rochas, tão longe da Bond street
sob a chuva suave. Será que
ele emite pequenos bipes? Se sim,
ele é ainda mais solitário. Ele dispara laser
na poeira. Ele engasga. Algo
brilhante na areia revela-se ser dele.

Trad.: Nelson Santander

There Is Absolutely Nothing Lonelier

There is absolutely nothing lonelier
than the little Mars rover
never shutting down, digging up
rocks, so far away from Bond street
in a light rain. I wonder
if he makes little beeps? If so
he is lonelier still. He fires a laser
into the dust. He coughs. A shiny
thing in the sand turns out to be his.

Alfonsina Storni – Leva-me

Quero esquecer que vivo: leva-me a algum lugar;
Ata-me a tua alma; a alva a brilhar.

Colhe-me entre tuas mãos como em um branco casulo
E mostra-me aos deuses com glória e com orgulho.

Leva-me! É uma noite muito escura e sombria!…
A morte caça pelo mundo tal qual harpia.

Faz-me esquecer o peso que carrego nos ombros
Essa carga pesada de pesados escombros.

Liberta-me! Em tuas mãos quero pesar menos
Do que pesam – luzes – os pensamentos serenos.

Mais leve do que o ar, mais leve que o próprio ar
Como bolha de espuma que sobe ao clarear.

Espuma, brisa, aroma, casulo, flor, fragrância:
Leva-me para sempre, sem rumo nem distância.

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO, com alterações na tradução: poema publicado na página originalmente em 12/10/2018

Llévame

Quiero olvidar que vivo: llévame a donde sea;
Enrédame en tu alma; la aurora centellea.

Tómame entre tus manos como blanco capullo
Y muéstrame a los dioses con gloria y con orgullo.

¡Llévame! Está la noche muy negra y muy sombría!…
La muerte por los mundos anda de cacería.

Hazme olvidar lo mucho que me pesa en los hombros
Esta carga pesada de pesados escombros.

¡Libértame! En tus manos yo quiero pesar menos
De lo que pesan — luces — los pensamientos buenos.

Liviana más que el aire, más que el aire liviana;
Como globo de espuma que asciende en la mañana.

Espuma, brisa, aroma, capullo, flor, fragancia:
Llévame para siempre sin rumbo ni distancia.

Stanley Kunitz – Cometa de Halley

A srta. Murphy, da primeira série,
escreveu o nome dele no quadro negro
com giz e nos contou que ele
viajava rugindo pelas trajetórias de tempestades
da Via Láctea a uma velocidade aterrorizante,
e que se ele desviasse do seu curso
e colidisse com a terra
não haveria aula no dia seguinte.
Um pregador das colinas, de barba ruiva
e com uma expressão selvagem nos olhos
estava na praça pública,
perto do playground,
proclamando que Deus o havia enviado
para salvar todos nós,
até mesmo as criancinhas.
“Arrependei-vos, pecadores!” ele gritava,
acenando com sua placa escrita à mão.
Durante o jantar, senti-me triste ao pensar
que aquela provavelmente seria
a última refeição que compartilharia
com minha mãe e minhas irmãs;
mas também me sentia excitado
e mal toquei no meu prato.
Então, mamãe me repreendeu
e me mandou para o meu quarto mais cedo.
A família inteira dorme,
menos eu. Eles não me ouviram sair furtivamente
para o corredor das escadas e subir
os degraus para o ar fresco da noite.
Procure por mim, padre, no telhado
do edifício de tijolos vermelhos
ao pé da Green Street —
é onde moramos, no último andar.
Eu sou o menino de roupão de flanela
deitado nesta cama de cascalho áspero
olhando para o céu estrelado,
esperando o fim do mundo.

Trad.: Nelson Santander

Halley’s Comet

Miss Murphy in first grade
wrote its name in chalk
across the board and told us
it was roaring down the stormtracks
of the Milky Way at frightful speed
and if it wandered off its course
and smashed into the earth
there’d be no school tomorrow.
A red-bearded preacher from the hills
with a wild look in his eyes
stood in the public square
at the playground’s edge
proclaiming he was sent by God
to save every one of us,
even the little children.
“Repent, ye sinners!” he shouted,
waving his hand-lettered sign.
At supper I felt sad to think
that it was probably
the last meal I’d share
with my mother and my sisters;
but I felt excited too
and scarcely touched my plate.
So mother scolded me
and sent me early to my room.
The whole family’s asleep
except for me. They never heard me steal
into the stairwell hall and climb
the ladder to the fresh night air.
Look for me, Father, on the roof
of the red brick building
at the foot of Green Street—
that’s where we live, you know, on the top floor.
I’m the boy in the white flannel gown
sprawled on this coarse gravel bed
searching the starry sky,
waiting for the world to end.

Angela Figuera Aymerich – Princípio e Fim (na morte de minha mãe)

Já tenho minhas raízes debaixo da terra.
Já um pouco morta contigo, mãe,
há algo da minha vida que se decompõe
contigo, com teus ossos delicados,
com tuas veias azuis, com teu ventre
que côncavo sofreu, dando-me forma.
Na ignorância, mãe, não no pecado
mostraste-me como a vida brota.
Como a carne floresce e se divide
no centro sagrado da mulher.
Pequena e frágil foste. Pesava-te
um filho atrás do outro no regaço
com um humilde assombro de perceber-te
permanentemente cheia e frutificada.
E eu saí de ti com outra força.
Com uma ardente audácia de perguntas
que tu jamais havias formulado
quando a vida te era dada em júbilo
ou te assediava em duro sofrimento.
Que nem sequer estavam na terrível
angústia suplicante dos teus olhos
que só me pediam uma trégua,
um alívio impossível
para essa dor, para esse medo infinito
de bicho na armadilha sem saída
com que a morte, mãe, se te incutia.
Eu te vi partir. Sem te deteres.
Sem ajudar-te. Ninguém pode faze-lo
nessa hora. Todos vamos sozinhos
à nossa própria destruição. Não pude,
não pude acompanhar-te, minha mãe,
dar-te segurança em tua jornada
nem sorrir-te do outro lado
da pesada porta silente
que um dia se nos abre bruscamente,
sempre para fora, nunca como via de retorno.
E tive que soltar, fria, indefesa,
tua mão que à minha se aferrava
ansiosa por um calor e uma esperança
que haviam desertado de teu sangue.
Eu sei que confiavas, supondo
em mim uma vaga onipotência, algo
capaz de te sustentar. E eu somente
sentia uma dulcíssima ternura,
uma tremenda compaixão inútil
por teu absoluto, imenso desamparo.
E nada pude fazer. Nem sequer
ficar junto a ti. Afastaste-te de mim
de forma terrível. Separada.
Alheia. Quase hostil em teu mistério.
Indecifrável em tua quietude. Agora
aquilo de mim que estava em tuas entranhas,
que foi o meu princípio e persistia
em tua secreta intimidade, apodrece
contigo – minha raiz – ou talvez viva
como um caule profundo, recatado,
na terra que fecundas enquanto me esperas.

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO, com alterações na tradução. Poema publicado na página originalmente em 06/10/1967

Principio Y Fin (En la muerte de mi Madre)

Ya tengo mi raíz bajo la tierra.
Un poco muerta ya contigo, madre,
hay algo de mi vida que se pudre
contigo, con tus huesos delicados,
con tus azules venas, con tu vientre
que cóncavo sufrió dándome forma.
En la ignorancia, madre, no en pecado
me hiciste tú como la vida brota.
Como la carne crece y se divide
en el sagrado centro de la hembra.
Pequeña y débil fuiste. Te pesaba
un hijo tras de otro en el regazo
con un humilde asombro de mirarte
continuamente llena y frutecida.
Y yo salí de ti con otra fuerza.
Con una ardiente audacia de preguntas
que tú jamás te habías formulado
cuando la vida se te daba en júbilo
o te acosaba en duro sufrimiento.
Que no estaban siquiera en la terrible
angustia suplicante de tus ojos
que sólo me pedían una tregua,
un imposible alivio
a ese dolor, a ese infinito miedo
de bestezuela en cepo sin huida
con que la muerte, madre, te llegaba.
Yo te veía ir. Sin retenerte.
Sin ayudarte. Nadie puede hacerlo
en esa hora. Todos vamos solos
a nuestra propia destrucción. No pude,
no pude acompañarte, madre mía,
poner seguridad en tu camino
ni sonreírte desde el otro lado
de la pesada puerta silenciosa
que un día se nos abre bruscamente,
siempre hacia afuera, nunca hacia el retorno.
Y tuve que soltar, fría, indefensa,
tu mano que a la mía se acogía
mendiga de un calor y una esperanza
que habían desertado de tu sangre.
Yo sé que confiabas, suponiendo
en mí una vaga omnipotencia, un algo
capaz de sostenerte. Y yo tan solo
sentía una blandísima ternura,
una tremenda compasión inútil
por tu absoluto, enorme desamparo.
Y nada pude hacer. Ni tan siquiera
quedarme junto a ti. Te me pusiste
horriblemente lejos. Separada.
Ajena. Casi hostil en tu misterio.
Indescifrable en tu quietud. Ahora
eso de mí que estaba en tus entrañas,
que fue principio mío y persistía
en tu secreta intimidad, se pudre
contigo –mi raíz– o acaso vive
como un tallo profundo, recatado,
en tierra que tú abonas aguardándome.

Izumi Shikibu – [Venha logo]

Venha logo — assim
que se abrirem essas pétalas,
elas cairão.
Este mundo existe como
a luz do orvalho nas flores.

Trad.: Nelson Santander (a partir da versão do poema em inglês vertida por Jane Hirshfield e Mariko Aratani)

N. do T.: Izumi Shikibu foi uma poetisa japonesa que viveu no final do período Heian, entre os séculos X e XI. Ela é considerada uma das principais escritoras de waka de sua época, e é especialmente conhecida por suas obras de amor e sensualidade. O waka é uma forma poética tradicional japonesa caracterizada por um padrão estrutural específico, que consiste em 31 sílabas organizadas em um esquema de 5-7-5-7-7 (que procurei manter em minha tradução). Além da estrutura métrica, a poesia waka tem algumas características temáticas e estilísticas. É uma poesia que frequentemente usa uma linguagem simples e direta, buscando expressar emoções e sentimentos de forma concisa e poética. Os temas recorrentes incluem a natureza, a beleza das estações do ano, o amor e a tristeza.

Come quickly — as soon as
these blossoms open,
they fall.
This world exists
as a sheen of dew on flowers.

Translated by Jane Hirshfield, com Mariko Aratani

Spencer Reece – Portofino

Prometa-me que não esquecerá de Portofino.
Prometa-me que encontrará a ilusão de ótica
nas paredes do Splendido.
As paredes que criam uma cena inacessível.

Talvez assim compreenda esse anseio
por permanência que mencionei tantas vezes.
Do outro lado do porto? Uma capela amarela. Um penhasco.
Prometa-me que testemunhará o dia se dissipar.

E quando os telhados escurecerem, quando as estrelas vagarem
até se estilhaçarem no horizonte do oceano,
saberá que o que eu lhe disse é verdadeiro
quando afirmei que o abandono é belo.

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO, com alterações na tradução. Poema publicado na página originalmente em 05/10/2018

Portofino

Promise me you will not forget Portofino.
Promise me you will find the trompe l’oeil
on the bedroom walls at the Splendido.
The walls make a scene you cannot enter.

Perhaps then you will comprehend this longing
for permanence I often mentioned to you.
Across the harbor? A yellow church. A cliff.
Promise me you will witness the day diminish.

And when the roofs darken, when the stars drift
until they shatter on the sea’s finish,
you will know what I told you is true
when I said abandonment is beautiful.