Györy Somlyó – Fábula da dupla-hélice

Filho dos meus pais
pai do meu filho
geraram-me
e procriei
criaram-me
e criei
herdei
e leguei
sepultei e
serei sepultado
atinjo aos poucos
o atingível
na corrente de cristal
ou nas ligações alcalinas
da vida singular
feita de duas
o tempo
condecora-me
com todas as distinções
atando-me
com todas as valências
Mas minhas células
nem suspeitam
até onde podem
através delas
chegar as células
pelos obscuros
degraus restantes
da escada de caracol
ou escada de Jacó
na abóboda celeste
ou cavidade craniana
do ácido desoxi
ribonucléico.

Trad.: Nelson Ascher

John Ashbery – Medo da morte

Que há comigo agora,
é assim que eu fiquei?
Não há estado livre dos limites
do antes e depois? Hoje a janela está aberta

e o ar jorra para dentro com notas de piano
nas suas saias, como a dizer, “Olha, John,
eu trouxe isso e aquilo” – ou seja,
alguns Beethovens, uns Brahms,

umas notas escolhidas de Poulenc… Sim,
está voltando a ficar livre, o ar, tem que seguir
voltando, pois é só para isso que serve.
Quero ficar com ele por causa do medo

que me impede de subir certos degraus,
bater em certas portas, medo de envelhecer
sozinho, e de não encontrar ninguém no fim da tarde
do caminho, salvo outro eu mesmo

cumprimentado bruscamente: “Você andou por aí
mas estamos juntos novamente, que é o que conta.”
Ar em meu caminho, você poderia encurtar isso,
mas a brisa cessou e o silêncio é a última palavra.

Trad.: Nelson Ascher

Fear of Death

What is it now with me
And is it as I have become?
Is there no state free from the boundry lines
Of before and after? The window is open today

And the air pours in with piano notes
In its skirts, as though to say, “Look, John,
I’ve brought these and these” – that is,
A few Beethovens, some Brahmses,

A few choice Poulenc notes… Yes,
It is being free again, the air, it has to keep coming back
Because that’s all it’s good for.
I want to stay with it out of fear

That keeps me from walking up certain steps,
Knocking at certain doors, fear of growing old
Alone, and of finding no one at the evening end
Of the path except another myself

Nodding a curt greeting: “Well, you’ve been awhile
But now we’re back together, which is what counts.”
Air in My path, you could shorten this,
But the breeze has dropped, and silence is the last word.

Horácio – Ode 1/11

Não busques (é tabu!) saber que fim, Leucónoe,
os deuses nos reservam. Põe de lado o horoscopo
da babilônia e aceita: o que há de ser, será,
quer nos dê Jove mais invernos, quer só este
que em rochas quebra o mar Tirreno. Vive, bebe
teu vinho e talha, ao curto prazo, anseios longos.
Enquanto eu falo, o tempo evade-se invejoso.
Apanha o dia e não confies no amanhã.

Trad.: Nelson Ascher

1/11

Tu ne quaesieris (scire nefas) quem mihi, quem tibi
finem di dederint, Leuconoe, nec Babylonios
temptaris numeros. ut melius, quidquid erit, pati!
Seu pluris hiemes seu tribuit Iuppiter ultimam,
quae nunc oppositis debilitat pumicibus mare
Tyrrhenum, sapias, uina liques et spatio breui
spem longam reseces. Dum loquimur, fugerit inuida
aetas: carpe diem quam minimum credula postero.

Attila József – Dói demais

A morte atenta
de dentro e fora te afugenta
(ratinho oculto com receio)

e, enquanto arderes,
vais procurar junto às mulheres
refúgio em braço, joelho e seio.

Mais que o calor
do colo afável, mais que o ardor,
precisar muito é que te apressa;

assim, quem quer
que possa abraça uma mulher
até que a boca empalideça.

Fardo supremo
é ter que amar, mas sumo prêmio.
Quem ama e não encontra um par

é, na miséria
de seu desterro, como a fera
desamparada ao defecar.

Outras guaridas
não há, mesmo que armado agridas
a própria mãe, homem ousado!

Só que houve, um dia,
uma mulher que me entendia
e, ainda assim, me pôs de lado.

Sou pária em meio
da espécie. Ornando-se de anseio
e angústia, zumbe-me a cabeça:

seu som contínuo,
que nem chocalho que um menino
chacoalhe ao ficar só, não cessa.

Como se opor
e o que fazer em seu favor?
Se o descobrir não me envergonho.

Está provado
que o próprio mundo põe de lado
quem trema ao sol e tema o sonho.

Toda a cultura
me foge tal qual, na ventura
alheia, a roupa cai do amante.

Mas, vendo a morte
caçoar-me, que ela nem se importe
e eu sofra só – não é o bastante?

Dói, ao recém-
nascido, o parto, e à mãe também.
Reduz-se a dor quando é conjunta.

Eu, se me esmero
cantando a dor, ganho dinheiro
e a mim a infâmia é que se junta.

Basta! – Garotos,
que vossos olhos ceguem rotos
onde, por perto dela, andais.

Vós, inocentes,
gritai sob botas inclementes,
dizendo-lhe que dói demais.

Cães adestrados,
sede na rua atropelados
a lhe ganir que dói demais.

E vós, gestantes,
não deis à luz, abortai antes
e lhe chorai que dói demais.

Gente sadia,
adoecei e, na agonia,
lhe sussurrai que dói demais.

Homens que houver
se engalfinhando por mulher,
não silencieis que dói demais.

Cavalos, touros,
à espera dos jugos vindouros,
gemei castrados: dói demais.

Peixes nadando
mudos sob gelo, arfai-lhe quando
o anzol fisgar-vos: dói demais.

Tudo de vivo
que a dor aflige sem alívio,
queime-se a terra que habitais-

vinde tisnados
e, junto à cama dela, aos brados,
bramai comigo: dói demais.

Que saiba disso
a vida toda: por capricho,
ela negou-se por inteiro,

mandando embora
um ser em fuga dentro e fora
de seu refúgio derradeiro.

Trad.: Nelson Ascher

Peguei aqui: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrissima/il1004201111.htm

Nagyon Fáj

Kivül-belől
leselkedő halál elől
(mint lukba megriadt egérke)
amíg hevülsz,
az asszonyhoz ugy menekülsz,
hogy óvjon karja, öle, térde.

Nemcsak a lágy,
meleg öl csal, nemcsak a vágy,
de odataszit a muszáj is –

ezért ölel
minden, ami asszonyra lel,
mig el nem fehérül a száj is.

Kettős teher
s kettős kincs, hogy szeretni kell.
Ki szeret s párra nem találhat,

oly hontalan,
mint amilyen gyámoltalan
a szükségét végző vadállat.

Nincsen egyéb
menedékünk; a kés hegyét
bár anyádnak szegezd, te bátor!

És lásd, akadt
nő, ki érti e szavakat,
de mégis ellökött magától.

Nincsen helyem
így, élők közt. Zúg a fejem,
gondom s fájdalmam kicifrázva;

mint a gyerek
kezében a csörgő csereg,
ha magára hagyottan rázza.

Mit kellene
tenni érte és ellene?
Nem szégyenlem, ha kitalálom,

hisz kitaszit
a világ így is olyat, akit
kábít a nap, rettent az álom.

A kultura
ugy hull le rólam, mint ruha
másról a boldog szerelemben –

de az hol áll,
hogy nézze, mint dobál halál
s még egyedül kelljen szenvednem?

A csecsemő
is szenvedi, ha szül a nő.
Páros kínt enyhíthet alázat.

De énnekem
pénzt hoz fájdalmas énekem
s hozzám szegődik a gyalázat.

Segítsetek!
Ti kisfiuk, a szemetek
pattanjon meg ott, ő ahol jár.

Ártatlanok,
csizmák alatt sikongjatok
és mondjátok neki: Nagyon fáj.

Ti hű ebek,
kerék alá kerüljetek
s ugassátok neki: Nagyon fáj.

Nők, terhetek
viselők, elvetéljetek
és sirjátok neki: Nagyon fáj.

Ép emberek,
bukjatok, összetörjetek
s motyogjátok neki: Nagyon fáj.

Ti férfiak,
egymást megtépve nő miatt,
ne hallgassátok el: Nagyon fáj.

Lovak, bikák,
kiket, hogy húzzatok igát,
herélnek, rijjátok: Nagyon fáj.

Néma halak,
horgot kapjatok jég alatt
és tátogjatok rá: Nagyon fáj.

Elevenek,
minden, mi kíntól megremeg,
égjen, hol laktok, kert, vadon táj –

s ágya körül,
üszkösen, ha elszenderül,
vakogjatok velem: Nagyon fáj.

Hallja, mig él.
Azt tagadta meg, amit ér.
Elvonta puszta kénye végett

kivül-belől
menekülő élő elől
a legutolsó menedéket.

1936. október-november

Basil Bunting – O que o diretor disse a Tom

Poesia? É um hobby
O meu são trens elétricos.
O sr. Shaw ali cria pombos.

Não é trabalho. Você não sua
a camisa. Ninguém paga.
Tente anunciar sabão.

Ópera é que é arte; ou o teatro.
A Canção do Deserto.
Nancy era do coro.

Mas pedir doze libras por semana
– casado, não? –
isso sim é ter peito.

Como vou encarar um cobrador
de ônibus
se lhe pagar doze libras?

Quem garante, aliás, que é poesia?
Meu garoto de dez
pode fazer igual, e com rimas.

Tiro três mil mais despesas,
carro, benefícios,
mas sou um contador.

Fazem o que mando,
é minha firma.
Você, o que faz?

Palavrõezinhos, palavrãozões,
isso não faz bem.
Vejo um poeta e já quero me lavar.

Tudo comuna e viciado,
bando de delinquentes.
O que você escreve é lixo.

O sr. Hynes que me disse, ele entende
disso, é professor.
Anda, arrume trabalho.

Trad.: Nelson Ascher

What the chairman told Tom

Poetry? It’s a hobby.
I run model trains.
Mr Shaw there breeds pigeons.

It’s not work. You don’t sweat.
Nobody pays for it.
You could advertise soap.

Art, that’s opera; or repertory —
The Desert Song.
Nancy was in the chorus.

But to ask for twelve pounds a week —
married, aren’t you? —
you’ve got a nerve.

How could I look a bus conductor
in the face
if I paid you twelve pounds?

Who says it’s poetry, anyhow?
My ten year old
can do it and rhyme.

I get three thousand and expenses,
a car, vouchers,
but I’m an accountant.

They do what I tell them,
my company.
What do you do?

Nasty little words, nasty long words,
it’s unhealthy.
I want to wash when I meet a poet.

They’re Reds, addicts,
all delinquents.
What you write is rot.

Mr Hines says so, and he’s a schoolteacher,
he ought to know.
Go and find work.

Nelson Ascher – Saudade

Posto que nem é de bom-tom
falar sobre a tristeza insossa
cujo vaivém, quando se apossa
de mim, me embala como o som

sem fim das ondas do Leblon,
dispondo-me a curtir a fossa
a sós, pus na vitrola a bossa
nova de João, Vinícius, Tom,

menos pra ouvir o que ela tem,
porque talvez já nem me agrade
a ausência tanto faz de quem,

do que pra que, pouco à vontade,
meu coração se encha, se bem
que sob protesto, de saudade.

William Butler Yeats – Um aviador irlandês prevê a morte

Encontrarei meu fim no meio
das nuvens de algum céu sobejo;
os que combato, eu não odeio,
também não amo os que protejo;
Kiltartan Cross é meu país,
seus pobres são a minha gente,
nada a fará mais infeliz
do que já era, ou mais contente.
Não é por lei ou por dever,
turba ou políticos, que luto,
mas pelo afã de me entreter,
a sós, nas nuvens em tumulto.
Tudo na mente foi pesado:
nada que espere ou que recorde
vale-me a pena comparado
com esta vida ou esta morte.

Trad.: Nelson Ascher

An Irish airman foresees his death

I know that I shall meet my fate
Somewhere among the clouds above;
Those that I fight I do not hate
Those that I guard I do not love;
My country is Kiltartan Cross,
My countrymen Kiltartan’s poor,
No likely end could bring them loss
Or leave them happier than before.
Nor law, nor duty bade me fight,
Nor public man, nor cheering crowds,
A lonely impulse of delight
Drove to this tumult in the clouds;
I balanced all, brought all to mind,
The years to come seemed waste of breath,
A waste of breath the years behind
In balance with this life, this death.

Paul Verlaine – Chanson D’Automne (em seis traduções)

Canção do Outono (Trad.: Alphonsus de Guimaraens)

Os soluços graves
Dos violinos suaves
Do outono
Ferem a minh’alma
Num langor de calma
E sono.

Sufocado, em ânsia,
Ai! quando à distância
Soa a hora,
Meu peito magoado
Relembra o passado
E chora.

Daqui, dali, pelo
Vento em atropelo
Seguido,
Vou de porta em porta,
Como a folha morta
Batido…

Canção do Outono (Trad.: Onestaldo de Pennafort)

Os longos sons
dos violões,
pelo outono,
me enchem de dor
e de um langor
de abandono.

E choro, quando
ouço, ofegando,
bater a hora,
lembrando os dias,
e as alegrias
e ais de outrora.

E vou-me ao vento
que, num tormento,
me transporta
de cá pra lá,
como faz à
folha morta.

Canção de Outono (Trad.: Guilherme de Almeida)

Estes lamentos
Dos violões lentos
Do outono
Enchem minha alma
De uma onda calma
De sono.

E soluçando,
Pálido, quando
Soa a hora,
Recordo todos
Os dias doidos
De outrora.

E vou à toa
No ar mau que voa.
Que importa?
Vou pela vida,
Folha caída
E morta.

Canção de Outono (Trad.: Paulo Mendes Campos)

Os longos trinos
Dos violinos
Do outono
Ferem minh’alma
Com uma calma
Que dá sono.

Ao ressoar
A hora, alvar,
Sufocado,
Choro os errantes
Dias distantes
Do passado.

E em remoinho,
O ar daninho
Me transporta
De cá pra lá,
De lá pra cá,
Folha morta.

~
Canção de Outono (Trad.: Nelson Ascher)

Violinos com
seu choro assom-
bram o outono
e eu, corpo mor-
to de torpor,
me abandono.

Quase sem ar,
desmaio ao soar
da hora enquanto,
lembrando em vão
os dias de então,
caio em pranto.

E o vento cruel
leva-me ao léu
pouco importa
aonde, em vaivém,
vago que nem
folha morta.

Outono (Trad. livre: José Miguel Wisnik)

Os soluços longos dos violões do outono
Ferem meu coração com um langor monótono
Chega de verão outros tons no chão é quando
Vão os sonhos vãos no coração desfolhando.

Os soluços longos dos violões do outono
Enchem todo meu coração de dor e abandono
Chega de verão tudo agora é sombra e sonho
E os sonhos vãos no coração desfolhando.

Chanson D’Automne

Les sanglots longs
Des violons
De l’automne
Blessent mon coeur
D’une langueur
Monotone.

Tout suffocant
Et blême, quand
Sonne l’heure,
Je me souviens
Des jours anciens
Et je pleure.

Et je m’en vais
Au vent mauvais
Qui m’emporte
Deçà, delà,
Pareil à la
Feuille morte.

Giuseppe Ungaretti – Vigília

Cima Quatro, 23 de Dezembro de 1915

Toda uma noite em claro
caído ao lado
de um companheiro
massacrado
com sua boca
arreganhada
exposta à lua cheia
com o hematoma
de suas mãos
cravado
em meu silêncio
escrevi
cartas cheias de amor
Não tinha nunca estado
tão
aferrado à vida

Trad.: Nelson Ascher

William Butler Yeats – “No Second Troy” em duas traduções (+ revisão do poema)

Nenhuma Troia a mais – Trad.: Augusto de Campos

Por que culpá-la se ela encheu meus dias
De mágoa, ou se incitou às tropelias
Os ignorantes e jogou com vidas,
Pondo as vielas contra as avenidas,
Quando eles tinham ousadia e flama?
Como fugir a essa pulsão funesta
Que a nobreza fez simples como a chama?
Beleza como um arco tenso, raça
Estranha a uma era como esta,
E cruel, de tão alta e singular?
Que poderia ela contra a graça?
Que Troia a mais teria que incendiar?

 

Sem Segunda Troia – Trad.: Nelson Ascher

Devo culpá-la, pois tanto pesar
trouxe-me aos dias, ou porque ensinava
violência à gente rude e quis lançar
contra os grandes a plebe cuja raiva,
porém, não tinha muito de ousadia?
Por que amaria a paz se, de nobreza,
seu pensamento simplesmente ardia,
se, feito um arco teso, sua beleza,
de um tipo hoje incomum, era severa,
altiva e só? – Mas que outro desafogo
podia ela encontrar, sendo quem era,
sem mais nenhuma Troia em que por fogo?

Introdução a “No Second Troy”

Resumo:

O relacionamento de William Butler Yeats com a bela e desafiadora irlandesa Maud Gonne é uma das grandes histórias de amor da literatura do século 20. Ele era um poeta fechado e com tendências conservadoras; ela era uma atriz de espírito livre que não queria nada menos que uma revolução para o seu país. Talvez ele devesse conhecê-la melhor, mas ei!, isso é amor.

Yeats publicou “No Second Troy”, em 1916, na coletânea “Responsibilities and Other Poems”, depois dele haver pedido Gonne em casamento – e ser rejeitado – inúmeras vezes. (Ei, você tem que admirar sua persistência). Após persegui-la por mais de uma década e de ter dedicado muitos de seus poemas a ela, parece justo afirmar que Yeats era obcecado por ela.

Neste poema, no entanto, Yeats adota uma atitude um tanto severa com ela, como ao compará-la com a terrivelmente bela – e notoriamente maliciosa – Helena de Troia. Helena é uma personagem mitológica da Ilíada de Homero. Como Maud Gonne, Helena foi considerada uma das mais belas mulheres de seu tempo. Ela também foi, em parte, responsável por iniciar a Guerra de Tróia, o que acabou fazendo com que a grande cidade de Troia fosse incendiada. Muitas lendas a retratam como uma sonhadora que trocou seu marido Menelau por Páris, o belo mas covarde príncipe de Troia. Marido furioso + Exércitos Numerosos = Guerra de Tróia.

Ao comparar Maud Gonne com Helena de Troia, Yeats a está acusando de ser parcialmente responsável pela violência de uma Irlanda revolucionária, assim como Helena foi parcialmente responsável pela Guerra de Tróia. De acordo com “No Second Troy,” Maud “incitou às tropelias os ignorantes.”

Gonne sempre foi mais inflamada do que Yeats, e aprovava os esforços revolucionários mais radicais e violentos para garantir a independência da Irlanda da Grã-Bretanha, nas primeiras décadas do século 20. Em 1916, seu marido, John MacBride, participou da violenta “Revolta de Páscoa” contra os britânicos. Na esteira do levante, MacBride e muitos outros foram executados. Yeats não acreditava em rebeliões violentas, e posteriormente escreveu um de seus mais famosos e dolorosos poemas, “Páscoa 1916,” em que declarou: “A terrível beleza nasceu”.

Ok, basta de história. Tudo isso é apenas para dizer que Gonne foi uma presença inflamável na vida de Yeats, e suas emoções conflitantes sobre ela refletem-se neste brilhante poema. É um desastre fascinante, tudo bem, mas no seu estilo característico, Yeats consegue comprimir toda a sua paixão em um curto e controlado espaço. A terrível beleza, de fato.

Por que eu deveria me importar?

Ninguém gosta de histórias de amor simples. Duas pessoas se encontram, se apaixonam, se casam… blablablá. Que tédio. Precisamos de um pouco mais de complicação. Mais drama. Além disso, muitas histórias de amor não têm um final feliz.

O amor de W. B. Yeats por Maud Gonne é uma dessas histórias de amor não correspondido. A história em si já é fascinante o suficiente (em um dado momento, Yeats teria proposto casamento à filha de Gonne e de novo foi rejeitado!), mas quando você a mistura com política revolucionária, estamos como que diante de um jogo eletrizante. Amor e política é sempre uma combinação irresistível, seja entre Helena e Páris, Antonio e Cleópatra, Romeu e Julieta, ou Rick e Ilsa, em Casablanca.

“No Second Troy” expressa aquele momento de um atormentado caso de amor quando o amante não correspondido, farto de todos os jogos e manobras feitas por baixo do pano, finalmente descarrega todas as suas emoções em um rompante brutal de honestidade. Você quer saber o que eu realmente penso de você? Prepare-se … Você não pode fazer nada, mas observa tudo com a respiração suspensa.

O que Yeats realmente pensava de Gonne – pelo menos por volta de 1916, quando escreveu este poema – é que ela era uma mulher corajosa e devastadoramente bela. Ela também era uma amante cruel e uma ativista descaradamente irresponsável. Ela usava sua beleza e seus elevados ideais para convencer as pessoas menos nobres e inteligentes a fazer coisas que Yeats considerava muito imprudentes – como, por exemplo, se opor à força dos poderes das colônias britânicas. O amor de Yeats por Gonne e seu amor por seu país colidem de forma dramática, confundindo-o. No final, o seu amor de irlandês e sua não-violência ganharam o dia, e ele esteve perto de condenar Gonne através da comparação contundente com Helena de Troia.
Embora a luta pela independência na Irlanda possa ter acabado, nós suspeitamos que histórias de amor como aquela que inspirou este poema continuarão a ocorrer no contexto dos conflitos políticos de todo o mundo. Venha para a aula de história, fique para as censuras amargas de um amor atormentado. (in: https://www.shmoop.com/no-second-troy-yeats/ )

No second Troy

Why should I blame her that she filled my days
With misery, or that she would of late
Have taught to ignorant men most violent ways,
Or hurled the little streets upon the great,
Had they but courage equal to desire?
What could have made her peaceful with a mind
That nobleness made simple as a fire,
With beauty like a tightened bow, a kind
That is not natural in an age like this,
Being high and solitary and most stern?
Why, what could she have done being what she is?
Was there another Troy for her to burn?