Merrit Malloy – Epitáfio

Quando eu morrer
Doa o que restar de mim
Às crianças
E aos idosos que esperam para morrer.

E se precisares chorar,
Chora por teu irmão
Que caminha pela rua ao teu lado.
E quando precisares de mim,
Põe teus braços
Em volta de alguém
E dá-lhe o que tens a me oferecer.

Quero deixar-te algo,
Algo melhor
Que palavras
Ou sons.

Busca por mim
Nas pessoas que conheci
Ou amei,
E se não puderes me doar
Ao menos deixa-me viver em teus olhos
E não em teus pensamentos.

Podes me amar mais
Permitindo que as mãos
Toquem as mãos,
Que os corpos toquem os corpos,
E deixando ir
As crianças
Que precisam ser livres.

O amor não morre,
As pessoas sim.
Portanto, quando tudo que restar de mim
For amor,
Doa-me.

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO: poema originalmente publicado na página em 02/03/2020

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Epitaph

When I die
Give what’s left of me away
To children
And old men that wait to die.

And if you need to cry,
Cry for your brother
Walking the street beside you.
And when you need me,
Put your arms
Around anyone
And give them
What you need to give to me.

I want to leave you something,
Something better
Than words
Or sounds.

Look for me
In the people I’ve known
Or loved,
And if you cannot give me away,
At least let me live on in your eyes
And not your mind.

You can love me most
By letting
Hands touch hands,
By letting bodies touch bodies,
And by letting go
Of children
That need to be free.

Love doesn’t die,
People do.
So, when all that’s left of me
Is love,
Give me away.

Walter Savage Landor – Epitáfio

Não lutei com ninguém; nada valia a lida.
Amei a natureza, e, tanto quanto, a arte;
As mãos, estas aqueci no fogo da vida
Que naufraga; estou pronto para o desate.

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO: poema publicado na página originalmente em 09/02/2019

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Dying Speech of an Old Philosopher

I strove with none, for none was worth my strife:
Nature I loved, and, next to Nature, Art:
I warm’d both hands before the fire of Life;
It sinks; and I am ready to depart.

Merrit Malloy – Epitáfio

Quando eu morrer
Doa o que restar de mim
Às crianças
E aos idosos que esperam para morrer.

E se precisares chorar,
Chora por teu irmão
Que caminha pela rua ao teu lado.
E quando precisares de mim,
Põe teus braços
Em volta de alguém
E dá-lhe o que tens a me oferecer.

Quero deixar-te algo,
Algo melhor
Que palavras
Ou sons.

Busca por mim
Nas pessoas que conheci
Ou amei,
E se não puderes me doar
Ao menos deixa-me viver em teus olhos
E não em teus pensamentos.

Podes me amar mais
Permitindo que as mãos
Toquem as mãos,
Que os corpos toquem os corpos,
E deixando ir
As crianças
Que precisam ser livres.

O amor não morre,
As pessoas sim.
Portanto, quando tudo que restar de mim
For amor,
Doa-me.

Trad.: Nelson Santander

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Epitaph

When I die
Give what’s left of me away
To children
And old men that wait to die.

And if you need to cry,
Cry for your brother
Walking the street beside you.
And when you need me,
Put your arms
Around anyone
And give them
What you need to give to me.

I want to leave you something,
Something better
Than words
Or sounds.

Look for me
In the people I’ve known
Or loved,
And if you cannot give me away,
At least let me live on in your eyes
And not your mind.

You can love me most
By letting
Hands touch hands,
By letting bodies touch bodies,
And by letting go
Of children
That need to be free.

Love doesn’t die,
People do.
So, when all that’s left of me
Is love,
Give me away.

Tristan Corbière – Epitáfio

Epitáfio

Salvo os amorosos principiantes ou findos que querem principiar pelo fim há tantas coisas que findam pelo princípio que o princípio principia a findar por estar no fim o fim disso é que os amorosos e outros findarão por principiar a reprincipiar por esse princípio que terá findo por não ser mais que o fim retornado o que principiará por ser igual à eternidade que não tem fim nem princípio e terá findo por ser também finalmente igual à rotação da terra onde se findará por não distinguir mais onde principia o fim de onde finda o princípio o que é todo fim de todo princípio igual a todo princípio final do infinito definido pelo indefinido. – Igual um epitáfio igual um prefácio e vice-versa.

SABEDORIA DAS NAÇÕES

Matou-se de paixão ou morreu de preguiça,
Se vive, é só de vício; e deixa apenas isso:
— Não ser a sua amante foi seu maior suplício —

Não nasceu por nenhum lado
E foi criado como mudo,
Tornou-se um arlequim-guisado,
Mistura adúltera de tudo.

Tinha um não-sei-que, — sem saber onde;
Ouro, — sem trocado para o bonde;
Nervos, — sem nervos; vigor sem “garra”;
Alma, — faltava uma guitarra;
Amor, — mas sem bastante fome.
— Muitos nomes para ter um nome. —

Idealista, — sem ideia. Rima
Rica, — sem matéria-prima;
De volta, — sem nunca ter ido;
Se achando sempre perdido.
Poeta, apesar do verso;
Artista sem arte, — ao inverso;
Filósofo — vide-verso.

Um sério cômico, — sem sal.
Ator: não soube seu papel;
Pintor: dó-ré-mi-fá-sol;
E músico: usava o pincel.

Uma cabeça! — sim, de vento:
Muito louco para ter tento;
Seu mal foi singular de mais.
— Seus pés quebrados, pés demais.

Avis rara — mas de rapina;
Macho… com manha feminina;
Capaz de tudo, — bom para nada;
Com certeza, — por certo errada.

Pródigo como o filho errante
Do Testamento, — herança vacante.
Rebelde, — e com receio do lugar
Comum não saía do lugar.

Colorista sem cavalete;
Incompreendido… — abriu o peito:
Chorou, cantou em falsete;
— E foi um defeito perfeito.

Não foi alguém, nem foi ninguém.
Seu natural era o ar bem
Posto, em pose para a posteridade;
Cínico, na maior ingenuidade;
Impostor, sem cobrar imposto.
— Seu gosto estava no desgosto.

Ninguém foi mais igual, mais gêmeo
Irmão siamês de si mesmo.
Viu-se a si próprio ao microscópio:
Micróbio de seu próprio ópio.
Viajante de rotas perdidas,
S.O.S. sem salva-vidas…

Muito cheio de si para aturar-se,
Cabeça “alta”, espírito ativo,
Findou, sem saber findar-se,
Ou vivo-morto ou morto-vivo.

Aqui jaz, coração sem cor, desacordado,
Um bem logrado malogrado.

Trad.: Augusto de Campos

 

Epitaphe

Sauf les amoureux commençans ou finis qui veulent commencer par la fin il y a tant de choses qui finissent par le commencement que le commencement commence à finir par être à la fin la fin en sera que les amoureux et autres finiront par commencer à recommencer par ce commencement qui aura fini par n’être que la fin retournée ce qui commencera par être égal à l’éternité qui n’a ni fin ni commencement et finira par être aussi finalement égal à la rotation de la terre où l’on aura fini par ne distinguer plus où commence la fin d’où finit le commencement ce qui est toute fin de tout commencement égale à tout commencement final de l’infini défini par l’indéfini. — Égale une épitaphe égale une préface et réciproquement.

SAGESSE DES NATIONS

Il se tua d’ardeur, ou mourut de paresse,
S’il vit, c’est par l´oubli; voici ce qu’il se laisse:
— Son seul regret fut de n’être pas sa maîtresse. —
Il ne naquit par aucun bout,
Fut toujours poussé vent-de-bout,
Et fut un arlequin-ragoût,
Mélange adultère du tout.
Du je-ne-sais-quoi. — mais ne sachant où;
De l’or, — mais avec pas le sou;
Des nerfs, — sans nerf; vigueur sans force;
De l’élan, — avec une entorse;
De l’âme, — et pas de violon;
De l’amour, — mais pire étalon.
— Trop de noms pour avoir un nom. —
Coureur d’idéal, — sans idée;
Rime riche, — et jamais rimée;
Sans avoir été, — revenu;
Se retrouvant partout perdu.
Poète, en dépit de ses vers;
Artiste sans art, — à l’envers;
Philosophe, — à tort à travers.
Un drôle sérieux, — pas drôle.
Acteur: il ne sut pas son rôle;
Peintre: il jouait de la musette;
Et musicien: de la palette.
Une tête! — mais pas de tête;
Trop fou pour savoir être bête;
Prenant pour un trait le mot très.
— Ses vers faux furent ses seuls vrais.
Oiseau rare — et de pacotille;
Très mâle… et quelquefois très fille;
Capable de tout, — bon à rien;
Gâchant bien le mal, mal le bien.
Prodigue comme était l’enfant
Du Testament, — sans testament.
Brave, et souvent, par peur du plat,
Mettant ses deux pieds dans le plat.
Coloriste enragé, — mais blême;
Incompris… — surtout de lui-même;
Il pleura, chanta juste faux;
— Et fut un défaut sans défauts.
Ne fut quelqu’un, ni quelque chose.
Son naturel était la pose.
Pas poseur, — posant pour l’unique;
Trop naïf, étant trop cynique;
Ne croyant à rien, croyant tout.
— Son goût était dans le dégoût.
Trop crû, — parce qu’il fut trop cuit,
Ressemblant à rien moins qu’à lui,
Il s’amusa de son ennui,
Jusqu’à s’en réveiller la nuit.
Flâneur au large, — à la dérive,
Épave qui jamais n’arrive…
Trop Soi pour se pouvoir souffrir,
L’esprit à sec et la tête ivre,
Fini, mais ne sachant finir,
Il mourut en s’attendant vivre
Et vécut, s’attendant mourir.
Ci-gît, — cœur sans cœur, mal planté,
Trop réussi — comme raté.

Walter Savage Landor – Epitáfio

Não lutei com ninguém; nada valia a lida.
Amei a natureza, e, tanto quanto, a arte;
As mãos, estas aqueci no fogo da vida
Que naufraga; estou pronto para o desate.

Trad.: Nelson Santander

Walter Savage Landor – Dying Speech of an Old Philosopher

I strove with none, for none was worth my strife:
Nature I loved, and, next to Nature, Art:
I warm’d both hands before the fire of Life;
It sinks; and I am ready to depart.

Juan Luis Panero – Epitáfio diante de um Espelho

Dura há de ser a vida para ti,
que tuas crenças sacrificastes a uma estranha honradez,
para ti, cuja única certeza é tua memória
e, por isso, teu sepulcro mais infausto.
Dura há de ser a vida, quando os anos passarem
e destruírem por fim a ilusória pátria da tua adolescência,
quando vires, como hoje, este fantasma
que tempos atrás te consolou com sua beleza.
Quando o amor, como um vestido usado,
não possa proteger tua tristeza
e um motivo de zombaria, piedade ou assombro,
para os olhos mais puros apenas seja.
Duro há de ser para o teu corpo ver morrer o desejo,
a juventude, tudo o que foste,
e buscar sem paixão o teu repouso
na surda ternura do que é frágil,
na fria destruição que uma vez amaste.
“É a lei da vida”, dizem velhos estéreis,
“e nada além de Deus pode mudá-la”, repetem,
à luz da noite, lentas sombras inúteis.
Dura há de ser a vida, tu que amaste o mundo,
que com um olhar ou uma suave carícia sonhaste possuí-lo,
quando a absurda farsa que tão bem conheces
já não estiver adornada com o efêmero e o belo.
Dura há de ser a vida até o instante
em que veles tua memória neste espelho:
para teus frios lábios já não haverá refúgio
e em tuas mãos vazias abraçarás a morte.

Trad.: Nelson Santander

Juan Luis Panero – Epitafio Frente a un Espejo

Dura ha de ser la vida para ti,
que a una extraña honradez sacrificaste tus creencias,
para ti, cuya única certidumbre es tu recuerdo
y por ello, tu más aciaga tumba.
Dura ha de ser la vida, cuando los años pasen
y destruyan al fin la ilusa patria de tu adolescencia,
cuando veas, igual que hoy, este fantasma
que tiempo atrás te consoló con su belleza.
Cuando el amor como un vestido ajado
no pueda proteger tu tristeza
y motivo de burla, de piedad o de asombro,
a los ojos más puros sólo sea.
Duro ha de ser para tu cuerpo ver morir el deseo,
la juventud, todo aquello que fuiste,
y buscar sin pasión tu reposo
en la sorda ternura de lo débil,
en la gris destrucción que alguna vez amaste.
«Es la ley de la vida», dicen viejos estériles,
«y nada sino Dios puede cambiarlo», repiten,
a la luz de la noche, lentas sombras inútiles.
Dura ha de ser la vida, tú que amaste el mundo,
que con una mirada o una suave caricia soñaste poseerlo,
cuando la absurda farsa que tú tanto conoces
no esté más adornada con lo efímero y bello.
Dura ha de ser la vida hasta el instante
en que veles tu memoria en este espejo:
tus labios fríos no tendrán ya refugio
y en tus manos vacías abrazarás la muerte.

José Paulo Paes – Epitáfio para um banqueiro

José Paulo Paes – Epitáfio para um baqueiro

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Machado de Assis – Epitáfios

José Paulo Paes – Auto-epitáfio n° 2

image

José Paulo Paes – Auto-Epitáfio n. 2

image