François Villon – Balada dos Enforcados

Irmãos humanos que ao redor viveis,
Não nos olheis com duro coração,
Pois se aos pobres de nós absolveis
Também a vós Deus vos dará perdão.
Aqui nos vedes presos, cinco, seis:
Quanto era cara viva que comia
Foi devorado e em pouco apodrecia.
Ficamos, cinza e pó, os ossos, sós.
Que de nossa aflição ninguém se ria,
Mas suplicai a Deus por todos nós.

Se dizemos irmãos, vós não deveis
Sentir desprezo, embora condenados
Tenhamos sido em vida. Bem sabeis:
Nem todos têm os sentidos sentados.
Desculpai-nos, que já estamos gelados,
Perante o filho da Virgem Maria.
Que seu favor não nos falte um só dia
Para livrar-nos do inimigo atroz.
Estamos mortos: que ninguém sorria,
Mas suplicai a Deus por todos nós.

A chuva nos lavou e nos desfez
E o sol nos fez negros e ressecados,
Corvos furaram nossos olhos e eis-
Nos de pelos e cílios despojados,
Paralíticos, nunca mais parados,
Pra cá, pra lá, como o vento varia,
Ao seu talante, sem cessar, levados,
Mais bicados do que um dedal. A vós
Não ofertamos nossa confraria,
Mas suplicai a Deus por todos nós.

Meu príncipe Jesus, que a tudo vês,
Não nos entregues à soberania
Do Inferno, que só ouvimos tua voz.
Homens, aqui não cabe zombaria,
Mas suplicai a Deus por todos nós.

Trad.: Augusto de Campos

REPUBLICAÇÃO: poema publicado na página originalmente em 03/08/2019

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Ballade des pendus

Frères humains, qui après nous vivez,
N’ayez les coeurs contre nous endurcis,
Car, si pitié de nous pauvres avez,
Dieu en aura plus tôt de vous mercis.
Vous nous voyez ci attachés, cinq, six :
Quant à la chair, que trop avons nourrie,
Elle est piéça dévorée et pourrie,
Et nous, les os, devenons cendre et poudre.
De notre mal personne ne s’en rie ;
Mais priez Dieu que tous nous veuille absoudre !

Se frères vous clamons, pas n’en devez
Avoir dédain, quoique fûmes occis
Par justice. Toutefois, vous savez
Que tous hommes n’ont pas bon sens rassis.
Excusez-nous, puisque sommes transis,
Envers le fils de la Vierge Marie,
Que sa grâce ne soit pour nous tarie,
Nous préservant de l’infernale foudre.
Nous sommes morts, âme ne nous harie,
Mais priez Dieu que tous nous veuille absoudre !

La pluie nous a débués et lavés,
Et le soleil desséchés et noircis.
Pies, corbeaux nous ont les yeux cavés,
Et arraché la barbe et les sourcils.
Jamais nul temps nous ne sommes assis
Puis çà, puis là, comme le vent varie,
A son plaisir sans cesser nous charrie,
Plus becquetés d’oiseaux que dés à coudre.
Ne soyez donc de notre confrérie ;
Mais priez Dieu que tous nous veuille absoudre !

Prince Jésus, qui sur tous a maistrie,
Garde qu’Enfer n’ait de nous seigneurie :
A lui n’ayons que faire ne que soudre.
Hommes, ici n’a point de moquerie ;
Mais priez Dieu que tous nous veuille absoudre !

Ruth Stone – Mais uma vez

Ó, meus corvos,
quando retornarem em abril,
com suas vozes ásperas,
seus corpos escuros
cortando o ar puro,
vocês, machos, que voltaram para casa
na montanha;
esta sombra abaixo de vocês
no pomar
sou eu,
triunfante,
ouvindo
as pedras se chocarem rio abaixo
no degelo.

Trad.: Nelson Santander

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Once More

O my crows,
when you return in April,
your harsh voices,
your dark selves
rowing the raw air,
you males who made it home
to the mountain;
this shadow below you
in the orchard
is me,
triumphant,
listening
to rocks smash downstream
in the snowmelt.

Delmore Schwartz – Calmamente caminhamos neste dia de abril

Calmamente caminhamos neste dia de abril,
Poesia urbana por todo lado,
No parque sentam-se indigentes e usurários,
As crianças gritando, o carro
Em fuga que passa correndo por nós,
Entre o trabalhador e o milionário
Os números expressam as distâncias,
Estamos em mil novecentos e trinta e sete agora,
Muitos camaradas foram levados para longe,
O que será de você e de mim
(Esta é a escola em que aprendemos…)
Além da foto e da lembrança?
(…que o tempo é o fogo em que nos queimamos.)

(Esta é a escola em que aprendemos…)
O que é o eu no meio deste incêndio?
O que sou eu agora que fui então?
Que devo sofrer e fazer novamente,
A teodiceia que escrevi em meus tempos de colégio
Restaurou toda a vida desde a infância,
As crianças gritando resplandecem enquanto correm
(Esta é a escola em que elas aprendem…)
Inteiramente arrebatadas em seu brincar passageiro!
(…que o tempo é o fogo em que nos queimamos.)

Ávida em sua urgência, essa chama vacilante!
Onde estão meu pai e Eleanor?
Não onde eles estão agora, mortos há sete anos,
Mas o que eles eram então?
               Não mais? Não mais?
De mil novecentos e quatorze até o presente,
Bert Spira e Rhoda consomem, consomem
Não onde estão eles agora (onde eles estão agora?)
Mas o que eles eram então, ambos belos;

Cada minuto explode no quarto em chamas,
O grande globo se contorce sob o fogo solar,
Consumindo o único e o trivial.
(Como todas as coisas pulsam! Como todas as coisas brilham!)
O que sou eu agora que fui então?
Que a memória restaure de novo e de novo
A mínima cor do menor dos dias:
O Tempo é a escola em que aprendemos,
O Tempo é o fogo em que nos queimamos.

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO: poema publicado na página originalmente em 02/08/2019

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Calmly we walk through this April’s day

Calmly we walk through this April’s day,
Metropolitan poetry here and there,
In the park sit pauper and rentier,
The screaming children, the motor-car
Fugitive about us, running away,
Between the worker and the millionaire
Number provides all distances,
It is Nineteen Thirty-Seven now,
Many great dears are taken away,
What will become of you and me
(This is the school in which we learn …)
Besides the photo and the memory?
(… that time is the fire in which we burn.)

(This is the school in which we learn …)
What is the self amid this blaze?
What am I now that I was then
Which I shall suffer and act again,
The theodicy I wrote in my high school days
Restored all life from infancy,
The children shouting are bright as they run
(This is the school in which they learn …)
Ravished entirely in their passing play!
(… that time is the fire in which they burn.)

Avid its rush, that reeling blaze!
Where is my father and Eleanor?
Not where are they now, dead seven years,
But what they were then?
               No more? No more?
From Nineteen-Fourteen to the present day,
Bert Spira and Rhoda consume, consume
Not where they are now (where are they now?)
But what they were then, both beautiful;

Each minute bursts in the burning room,
The great globe reels in the solar fire,
Spinning the trivial and unique away.
(How all things flash! How all things flare!)
What am I now that I was then?
May memory restore again and again
The smallest color of the smallest day:
Time is the school in which we learn,
Time is the fire in which we burn.

Marie Howe – Prece

Todos os dias eu quero falar com você. E todo dia algo mais importante
chama minha atenção – a farmácia, produtos de beleza, a mala

que devo comprar para a viagem.
Mesmo agora, mal consigo ficar aqui

entre pilhas de papéis e roupas desabando, os caminhões de lixo lá fora
já rangendo e fazendo barulho.

Os místicos dizem que você está tão próximo quanto minha própria respiração.
Por que eu fujo de você?

Meus dias e minhas noites fluem como lamentos
e se tornam uma história que esqueci de contar.

Ajude-me. Mesmo enquanto escrevo estas palavras, estou planejando
levantar da cadeira assim que terminar esta frase.

Trad.: Nelson Santander

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Prayer

Every day I want to speak with you. And every day something more important
calls for my attention – the drugstore, the beauty products, the luggage

I need to buy for the trip.
Even now I can hardly sit here

among the falling piles of paper and clothing, the garbage trucks outside
already screeching and banging.

The mystics say you are as close as my own breath.
Why do I flee from you?

My days and nights pour through me like complaints
and become a story I forgot to tell.

Help me. Even as I write these words I am planning
to rise from the chair as soon as I finish this sentence.

Joan Margarit – El Primer Frío

Acompanhei-te até o museu, no parque,
em uma manhã de inverno. Detivemo-nos
diante daquela escultura: El primer frío.1
Era de mármore cinzento: um velho, nu,
olha ao longe, entre as folhas mortas
que o vento carrega.
A arte não é diferente da vida,
lembro que disseste. Mas eu
via apenas um mármore frio,
um tanto retórico, e pensava em garotas.
Entre aquele dia e hoje, como um mar,
minha vida se expandiu.
E se aproximam, singrando este mar cinzento,
cascos negros de embarcações, minhas recordações.
Retorno ao museu nesta manhã de inverno
e estou pensando em ti ao cruzar o parque:
olho ao longe, entre as folhas mortas
que o vento carrega.

Trad.: Nelson Santander

  1. Escultura em mármore branco de Miguel Blay i Fábregas (1892) (vide a foto que ilustra o poema), representando um homem idoso nu com uma jovem menina, interpretada como alegoria da passagem do tempo e da fragilidade da vida. Obra-prima da escultura catalã, exposta no Museu Nacional d’Art de Catalunya (Barcelona) e no Museu Nacional de Belas Artes (Buenos Aires). ↩︎

REPUBLICAÇÃO: poema publicado na página originalmente em 30/07/2019

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Joan Margarit – El Primer Frío

Te acompañé al museo, en el parque,
una invernal mañana. Nos paramos
ante aquella escultura: El primer frío.
Era de mármol gris: un viejo que, desnudo,
mira a lo lejos entre la hojarasca
que va arrastrando el viento.
El arte no es distinto de la vida,
recuerdo que dijiste. Pero yo
veía solamente un mármol frío,
más bien retórico, y pensaba en chicas.
Entre aquel día y hoy, igual que un mar,
se ha extendido mi vida.
Y se acercan, surcando este mar gris,
cascos negros de buques, mis recuerdos.
Vuelvo al museo esta invernal mañana
y voy pensando en ti al cruzar el parque:
miro a lo lejos entre la hojarasca
que va arrastrando el viento.

Malena Mörling – Viajando

Como postes de luz
ainda acesos
após o amanhecer,
os mortos
nos encaram
de fotografias
emolduradas.

Você pode discordar,
mas ali estão eles,
ainda presentes
viajando
incessantemente
para trás
sem um som
cada vez mais
para o passado.

Trad.: Nelson Santander

N. do T.: A temática deste poema pareceu-me muito semelhante à abordada por Carlos Drummond de Andrade em seu excepcional “Convívio”, publicado anteontem no site. Ambos refletem sobre a persistência dos que se foram, a presença contínua dos ausentes na vida dos que ficaram e como essa influência se manifesta de forma sutil, porém significativa, na existência cotidiana.

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Traveling

Like streetlights
still lit
past dawn,
the dead
stare at us
from the framed
photographs.

You may say otherwise,
but there they are,
still here
traveling
continuously
backwards
without a sound
further and further
into the past.

Manuel António Pina – Extrema-unção

Uma breve, amável mágoa à
flor dos olhos, um distante desapontamento,
morrias como se pedisses desculpa
por nos fazeres perder tempo.

Tinhas pressa mas não o mostravas,
receavas que não estivéssemos preparados,
e, suspenso sobre nós, esperavas
que disséssemos tudo, que fizéssemos o apropriado.

Morrer não é motivo de orgulho,
mas estavas cansado demais para te justificares.
Ainda por cima no mês de Julho,
com as férias marcadas, ausentes os familiares.

Tínhamos levado as crianças de casa,
feito os telefonemas, escolhido os dizeres.
O quarto fora arrumado, a cama mudada
com roupa lavada. Só faltava morreres.

             8/1/01

REPUBLICAÇÃO: poema publicado na página originalmente em 29/07/2019

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Carlos Drummond de Andrade – Convívio

Cada dia que passa incorporo mais esta verdade, de que eles não vivem senão em nós
e por isso vivem tão pouco: tão intervalo; tão débil.
Fora de nós é o que deixaram de viver, para o que se chama tempo.
E essa eternidade negativa não nos desola.
Pouco e mal que eles vivam, dentro de nós, é vida não obstante.
E já não enfrentamos a morte, de sempre trazê-la conosco.

Mas, como estão longe, ao mesmo tempo que nossos atuais habitantes
e nossos hóspedes e nossos tecidos e a circulação nossa!
A mais tênue forma de existir nos atinge.
O próximo existe. O pássaro existe.
E eles também existem, mas que oblíquos! e mesmo sorrindo, que disfarçados…

Há que renunciar a toda procura.
Não os encontraríamos, ao encontrá-los.
Ter e não ter em nós um vaso sagrado,
um depósito, uma presença contínua,
esta é a nossa condição, enquanto
sem condição transitamos
e julgamos amar
e calamo-nos.

Ou talvez existamos somente neles, que são omissos, e nossa existência,
apenas uma forma impura de silêncio, que preferiram.

Ferreira Gullar – Notícia da Morte de Alberto da Silva

(Poema Dramático para Muitas Vozes)

          I

     Eis aqui o morto
     chegado a bom porto

     Eis aqui o morto
     como um rei deposto

     Eis aqui o morto
     com seu terno curto

     Eis aqui o morto
     com seu corpo duro

     Eis aqui o morto
     enfim no seguro

          II

De barba feita, cabelo penteado
jamais esteve tão bem arrumado

De camisa nova, gravata borboleta
parece até que vai para uma festa

No rosto calmo, um leve sorriso
nem parece aquele mais-morto-que-vivo

Imóvel e rijo assim como o vês
dir-se-ia que nunca esteve tão feliz

         III

Morava no Méier desde menino
Seu grande sonho era tocar violino

Fez o curso primário numa escola pública
quanto ao secundário resta muita dúvida

Aos treze anos já estava empregado
num escritório da rua do Senado

Quando o pai morreu criou os irmãos
Sempre foi um homem de bom coração

Começou contínuo e acabou funcionário
Sempre eficiente e cumpridor do horário

Gostou de Nezinha, de cabelos longos,
que um dia sumiu com um tal de Raimundo

Gostou de Esmeralda, uma de olhos pretos
Ela nunca soube desse amor secreto

Endoidou de fato por Laura Marlene
que dormiu com todos menos com ele

Casou com Luísa, que morava longe,
não tinha olhos pretos nem cabelos longos

Apesar de tudo, foi bom pai de família
sua casa tinha uma boa mobília

Conversava pouco mas foi bom marido
Comprou televisão e um rádio transístor

Não foi carinhoso com a mulher e a filha
mas deixou para elas um seguro de vida

Morreu de repente ao chegar em casa
ainda com o terno puído que usava

Não saiu notícia em jornal algum
Foi apenas a morte de um homem comum

E porque ninguém noticiou o fato
Fazemos aqui este breve relato

         IV

Não foi nada de mais, claro, o que aconteceu:
apenas um homem, igual aos outros, que morreu

Que nos importa agora se quando menino
O seu grande sonho foi tocar violino?

Que nos importa agora quando o vamos enterrar
se ele não teve sequer tempo de namorar?

Que nos importa agora quando tudo está findo
se um dia ele achou que o mar estava lindo?

Que nos importa agora se algum dia ele quis
Conhecer Nova York, Londres ou Paris?

Que nos importa agora se na mente confusa
ele às vezes pensava que a vida era injusta?

Agora está completo, já nada lhe falta:
nem Paris nem Londres nem os olhos de Esmeralda

          V

Mas é preciso dizer que ele foi como um fio
d’água que não chegou a ser rio

Refletiu no seu curso o laranjal dourado
sem que nada desse ouro lhe fosse dado

Refletiu na sua pele o céu azul de outubro
e as esplendentes ruínas do crepúsculo

E agora, quando se vai perder no mar imenso,
tudo isso, nele, virou rigidez e silêncio:

toda palavra dita, toda palavra ouvida
todo riso adiado ou esperança escondida

toda fúria guardada, todo gesto detido
o orgulho humilhado, o carinho contido

o violino sonhado, as nuvens, a espuma
das nebulosas, a bomba nuclear
     agora nele são coisa alguma

         VI

Mas no fim do relato é preciso dizer
que esse morto não teve tempo de viver

Na verdade vendeu-se, não como Fausto, ao Cão:
vendeu sua vida aos seus irmãos

Na verdade vendeu-a, não como Fausto, a prazo:
vendeu-a à vista, ou melhor, deu-a adiantado

Na verdade vendeu-a, não como Fausto, caro:
vendeu-a barato e, mais, não lhe pagaram

        VII

     Enfim este é o morto
     agora homem completo:
     só carne e esqueleto

     Enfim este é o morto
     totalmente presente:
     unha, cabelo, dente

     Enfim este é o morto:
     um anônimo brasileiro
     do Rio de Janeiro
     de quem nesta oportunidade
     damos notícia à cidade

REPUBLICAÇÃO: poema publicado na página originalmente em 28/07/2019

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Nicole Sealey – histórico médico

Já estive grávida. Fiz sexo com um homem
que fazia sexo com outros homens. Não consigo dormir.
Minha mãe tem, e a mãe dela tinha,
asma. Meu pai teve um derrame. A mãe
do meu pai tem pressão alta.
Meus dois avós morreram de diabetes.
Eu bebo, mas não fumo. Xanax para flutuar.
Propranolol para ansiedade. Meus olhos são ruins.
O vento me deixa nervosa. Minha prima Lily morreu
de um aneurisma. Tia Hilda, de um ataque cardíaco.
Tio Ken, sábio como era, foi atropelado
por um carro, como que para refutar qualquer teoria
sobre a qual escrevo. E, pelo que pude compreender,
as estrelas no céu já estão mortas.

Trad.: Nelson Santander

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

medical history

I’ve been pregnant. I’ve had sex with a man
who’s had sex with men. I can’t sleep.
My mother has, my mother’s mother had,
asthma. My father had a stroke. My father’s
mother has high blood pressure.
Both grandfathers died from diabetes.
I drink. I don’t smoke. Xanax for flying.
Propranolol for anxiety. My eyes are bad.
I’m spooked by the wind. Cousin Lily died
from an aneurysm. Aunt Hilda, a heart attack.
Uncle Ken, wise as he was, was hit
by a car as if to disprove whatever theory
toward which I write. And, I understand,
the stars in the sky are already dead.