Ellen Bass – Esperando pela chuva

É de manhã, enfim. Esta solidão
parece mais normal na luz, mais como meu reflexo
no espelho. Minha filha no pronto-socorro outra vez.
Algo que ela comeu? Algum aromatizante

que alguém borrifou no ar?
Eles estão tentando me matar, ela diz,
como se fosse uma piada. Lucrécio
me ajudou a passar a noite. Ele me disse que o mundo é um contínuo

criar e desfazer. Talvez seja incorreto
pensar em melhor ou pior.
Não há ninguém que possa carregar meu medo
por uma criança que sai pela porta

sem saber o que irá interromper sua respiração.
A chuva que dizem estar a caminho
navega agora sobre o Pacífico em nuvens nimbos purpúreas.
Mas não é suficiente. No ano passado, vi

elefantes cercando seus filhotes, arrastando
sem pressa suas massivas pernas, abrindo
suas enormes orelhas empoeiradas. Certa vez eles beberam
do degelo do Kilimanjaro.

Agora a montanha está nua. Lucrécio sabe
que somos apenas átomos combinando e recombinando:
poeira de estrelas, carne, relva. A noite toda
colei meu corpo ao de Janet,

respirando conforme ela respirava. Mas sua pele,
quente como é, ainda assim, me mantém distante.
Como tudo é frágil.
Minha filha voltará para casa na próxima semana.

Ela trará a mala xadrez rosa que compramos na Ross.
Quando ela indicá-la para o acompanhante que estará
empurrando sua cadeira de rodas, será fácil identificar
a mala na esteira. Só quero tocar minha filha.

Trad.: Nelson Santander

BASS, Ellen. “Waiting for Rain”. In:_____Like a Beggar. EUA: Copper Canyon Press, March 25, 2014.

Miniantologia Poética – 15

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Waiting for Rain

Finally, morning. This loneliness
feels more ordinary in the light, more like my face
in the mirror. My daughter in the ER again.
Something she ate? Some freshener

someone spritzed in the air?
They’re trying to kill me, she says,
as though it’s a joke. Lucretius
got me through the night. He told me the world goes on

making and unmaking. Maybe it’s wrong
to think of better and worse.
There’s no one who can carry my fear
for a child who walks out the door

not knowing what will stop her breath.
The rain they say is coming
sails now over the Pacific in purplish nimbus clouds.
But it isn’t enough. Last year I watched

elephants encircle their young, shuffling
their massive legs without hurry, flaring
their great dusty ears. Once they drank
from the snowmelt of Kilimanjaro.

Now the mountain is bald. Lucretius knows
we’re just atoms combining and recombining:
star dust, flesh, grass. All night
I plastered my body to Janet,

breathing when she breathed. But her skin,
warm as it is, does, after all, keep me out.
How tenuous it all is.
My daughter’s coming home next week.

She’ll bring the pink plaid suitcase we bought at Ross.
When she points it out to the escort
pushing her wheelchair, it will be easy
to spot on the carousel. I just want to touch her.

5 comentários

  1. O número de pessoas que acessaram esse poema explodiu nos últimos três dias. Alguém poderia aqui me explicar por quê?

    Curtir

    1. Avatar de Barbara Barbara disse:

      Ele estava na lista de sugestão de conteúdo do Chrome. Gosto de poemas.

      Curtir

      1. Está explicado então. Agora só resta descobrir que critério o algoritmo do Google usou para incluir minha página à sugestão de conteúdo. Obrigado, Bárbara, volte sempre!

        Curtir

Deixar mensagem para Nelson Santander Cancelar resposta