Rosa Leveroni i Valls – De “Epigramas e Canções”

Eu levo dentro de mim
para fazer-me companhia
a solidão apenas.
A solidão imensa
do amor infinito
que queria ser terra,
ar e sol, mar e estrela,
para que fosses mais meu,
para que eu fosse mais tua.

Trad.: Nelson Santander

Rosa Leveroni i Valls – De “Epigrames i cançons”

Jo porto dintre meu
per fer-me companyia
la solitud només.
La solitud immensa
de l’estimar infinit
que voldria ésser terra,
aire i sol, mar i estrella,
perquè fossis més meu,
perquè jo fos més teva.

Otto Renê Castillo – Os Amantes

Se haviam
encontrado faz pouco
e logo
se haviam separado,
levando
cada um consigo
seu nunca ou seu jamais
sua afirmação de esquecimento
sua golpeadora dor.

Porém o último beijo
que voara de suas bocas,
era um planeta azul.
Girando
em torno a sua ausência.
E eles
viviam de sua luz
igual que de sua recordação.

Trad.: Maria Teresa Almeida Pina

Otto René Castillo – Los Amantes

Se habían
encontrado hace poco.
Y hace pronto
se habían separado,
llevándose
cada uno consigo
su nunca o su jamás
su afirmación de olvido,
su golpeador dolor.

Pero el último beso
que volara de sus bocas,
era un planeta azul.
Girando
en torno a su ausencia.
Y ellos
vivían de su luz
igual que de su recuerdo.

Charles Bukowski – Para Jane Cooney Baker, morta em 22/01/1962

e então você se foi
me deixando aqui
num quarto com uma cortina rasgada
e o Idílio de Siegfried tocando no radinho vermelho.

e então você se foi tão rápido
quanto quando você veio pra mim,
e nós tínhamos dito adeus antes,
e quando eu estava limpando seu rosto e lábios
você abriu os maiores olhos que eu já tinha visto
e disse “Eu devia saber
que era você”
você conseguiu ver
mas não por muito tempo

e um homem velho com pernas brancas e finas
na cama ao lado
dizia, “Eu não quero morrer,”
e seu sangue veio de novo
e eu o aparei com as mãos em concha
tudo o que ficou
das noites e dos dias também,
e o homem velho ainda estava vivo
mas você não estava
nós não estamos.
e você foi como você veio,
você me deixou tão rápido
você já tinha me deixado várias vezes antes
quando eu pensava que isso me mataria
mas não
e você sempre voltava.

agora eu desliguei o rádio vermelho
e alguém no apartamento ao lado bate uma porta
a sentença final: eu não vou te encontrar na rua
o telefone não vai tocar, e nenhum movimento vai
me deixar em paz.

não basta que haja várias mortes
e que esta não seja a primeira;
não basta que eu viva mais muitos dias,
talvez até muitos anos.
não basta.

o telefone é como um bicho morto que
não vai falar.
E quando falar de novo será
sempre a voz errada agora.

antes eu esperava e você sempre entrava
porta adentro.
agora você vai esperar
por mim.

Trad.: Sigval Schaitel, Fabio Soares e Gerciana de Espíndola

Conheça outros livros de Charles Bukowski clicando aqui

TO JANE COONEY BAKER, DIED 1-22-62

and so you go
leaving me here
in a room with a torn shade
and Siegfried’s Idol playing on a small red radio.

and so you left quickly
as you arrived to me,
and we have said goodbyes before,
and as I wiped your face and lips
you opened the largest eyes I have yet to see
and said, “I might have known
it would be you,” …you did see
but not long
an old man of white thin legs
said, “I don’t want to die,”
and your blood came again
and I held it in the pail of my hands,
all that was left
of the nights, and the days too,
and the old man was still alive
but we were not
we are not.

and you went as you arrived,
you left me quickly,
you left me many times before
when I thought it would kill
but it did not
and you returned.

now I have turned off the red radio
and somebody in the next apartment slams a door.
the indictment is final: I will not find you on the street
or will the phone ring, and yet each moment will not
let me be.

it is not enough that there are many deaths
and that this is not the first;
it is not enough that I may live more days,
perhaps, more years.

it is not enough.
the phone is like a dead animal that will
not speak. it has spoken
but always the wrong voice now.

I have waited before and you have walked through
the door. now you must wait for me.

Manuel António Pina – Talvez de noite (1)

À minha volta tudo envelheceu
como se fosse eu, e no entanto
uma casa, ou um espaço em branco
entre as palavras, ou uma possibilidade de sentido.

Pois nada
surge com a sua própria forma.

Digo “casa”, mas refiro-me a luas e umbrais,
a lembranças extenuadas,
às trevas do corpo, lúcidas,
latejando na obscuridade de quartos interiores.

E digo “palavras” porque
não sei que coisa chamar
à mudez do mundo.

E digo “sentido” sufocado
sob o pensamento
tentando respirar
a golpes de coração,
agora que se desmorona a casa
sobre todas as palavras possíveis.

Francisca Aguirre – E se, depois de tudo

E se, depois de tudo, fosse o resto
um ir morrendo para ao fim morrermos
por este louco afã de convertermo-nos
em contadores de um momento lesto.

E se afigura que o correto era
este sermão que vem nos repetir
que avança o furacão de nos ferir,
e é vã e absurda esta carreira.

Então fique tranquilo, amor meu,
e goza desta gruta que ofereço,
e esgota a água que eu não consumi.

O vento nos arrasta, cego e frio,
toma esta manta enquanto eu envelheço,
amar-te de outro modo não aprendi.

Trad.: Nelson Santander

 

Francisca Aguirre – Y si después de todo

Y si después de todo, todo fuera,
un ir muriendo para al fin morirnos
a qué este loco empeño en convertirnos
en contables de un tiempo que no espera.

Y si resulta que lo cierto era
este sermón que viene a repetirnos
que avanza el huracán para abatirnos
y es inútil y absurda esta carrera.

Entonces, amor mío, ten sosiego,
y aprovecha esta cueva que te ofrezco
y apura el agua que yo no he bebido.

El viento nos arrastra, frío y ciego,
toma mi manta mientras yo envejezco,
amarte de otro modo no he sabido.

Hilda Hilst – de “Do Desejo”

Yehuda Amichai – Na história do nosso amor

Na história do nosso amor, um foi sempre
Uma tribo nômade, outro uma nação em seu próprio solo.
Quando trocamos de lugar, tudo tinha acabado.
O tempo passará por nós, como paisagens
Passam por trás de atores parados em suas marcas
Quando se roda um filme.
As palavras
Passarão por nossos lábios, até as lágrimas
Passarão por nossos olhos.
O tempo passará
Por cada um em seu lugar.
E na geografia do resto de nossas vidas,
Quem será uma ilha e quem uma península
Ficará claro pra cada um de nós no resto de nossas vidas
Em noites de amor com outros.

Trad.: Millôr Fernandes

Miguel Torga – Comunicado

Na frente ocidental nada de novo.
O povo
Continua a resistir.
Sem ninguém que lhe valha,
Geme e trabalha
Até cair.

Pedro Salinas – De “La voz a ti debida” [39]

A tua forma de amar
é deixar-me que te queiras.
O sim com que tu te rendes
é o silêncio. Teus beijos
são oferecer-me os lábios
para que eu possa beija-los.
Jamais palavras, abraços,
me dirão que existias,
que me quiseste: jamais.
Dizem-mo as folhas brancas,
mapas, augúrios, chamadas;
tu, não.
E fico abraçado a ti
sem perguntar-te, de medo
que não seja verdadeiro
que tu vives e me ama.
E fico abraçado a ti
sem olhar e sem tocar-te.
Não desejo que descubras
com perguntas, com carícias,
essa solidão imensa
de somente eu te amar.

Trad.: Nelson Santander

 

Pedro Salinas – La voz a ti debida [39]

La forma de querer tú
es dejarme que te quiera.
El sí con que te me rindes
es el silencio. Tus besos
son ofrecerme los labios
para que los bese yo.
Jamás palabras, abrazos,
me dirán que tú existías,
que me quisiste: jamás.
Me lo dicen hojas blancas,
mapas, augurios, teléfonos;
tú, no.
Y estoy abrazado a ti
sin preguntarte, de miedo
a que no sea verdad
que tú vives y me quieres.
Y estoy abrazado a ti
sin mirar y sin tocarte.
No vaya a ser que descubra
con preguntas, con caricias,
esa soledad inmensa
de quererte sólo yo.

Júlio Mendonça – Galáxias

galaxias - poema de julio mendonça