Ian Hamilton – Memorial

Quatro lápides gastas apoiam-se na parede
do teu asilo Vitoriano.
Além dos limites, ajoelhas-te na grama alta
Decifrando nomes apagados:
Velhos lunáticos que aqui morreram.

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO com alterações na tradução: poema publicado anteriormente na página originalmente em 09/12/2018

Ian Hamilton – Memorial

Four weathered gravestones tilt against the wall
Of your Victorian asylum.
Out of bounds, you kneel in the long grass
Deciphering obliterated names:
Old lunatics who died here.

Ian Hamilton – Epitáfio

O aroma de rosas velhas e tabaco
Faz-me regressar.
Há quase vinte anos
Que não nos vemos
E a nossa desapegada paixão continua.

Foi isto que me deixaste:
A mão, entreaberta, imóvel
Sobre uma colcha verde.
O bastante para erguer
Alguns poemas melancólicos.

Se então eu te houvesse tocado
Um de nós podia ter sobrevivido.

Trad. Nuno Vidal

REPUBLICAÇÃO. Poema originalmente publicado no blog em 17/02/2016.

Epitaph

The scent of old roses and tobacco
Takes me back.
It’s almost twenty years
Since I last saw you
And our half-hearted love affair goes on.

You left me this:
A hand, half-open, motionless
On a green counterpane.
Enough to build
A few melancholy poems on.

If I had touched you then
One of us might have survived.

Ian Hamilton – Os quarenta

“O eu que sobreviveu àqueles anos desprezíveis”,
Sua “virtude austera” incrivelmente preservada. Pois bem,
Terá se perguntado, isto é
O “é isso”?; esta Vida resumida
Que nunca pensei encontrar
E nunca procurei: que começa no meio
De tal modo que no fim
O dano perdura mais do que a reparação?

Aos quarenta e cinco
Agora sou o patriarca da casa e ao entardecer
Você me verá fazendo meu “passeio noturno”
Até o adormecido lago dos lírios:
Do fundo do nosso quintal, cento e onze jardas.
E uma vez lá, farei uma pausa, meio sóbrio, sem dor
E parecendo escutar; mas já não mais “ouvindo”.
E às minhas costas,
Oito janelas, uma varanda, o lote limpo
Para as suas (por que não?) “verduras orgânicas”,
A treliça que precisa ser consertada, que eu irei consertar.

Trad.: Nelson Santander

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

The forties

“The self that has survived those trashy years”,
Its “austere virtue” magically intact. Well then,
He must have asked himself, is this
The “this is it”; that encapsulable Life
I never thought to find
And didn’t seek: beginning at the middle
So that in the end
The damage is outlived by the repair?

At forty-five
I’m father of the house now and at dusk
You’ll see me take my “evening stroll”
Down to the dozing lily pond:
From our rear deck, one hundred and eleven yards.
And there I’ll pause, half-sober, without pain
And seem to listen; but no longer “listen out”.
And at my back,
Eight windows, a veranda, the neat plot
For your (why not?) “organic greens”,
The trellis that needs fixing, that I’ll fix.

Ian Hamilton – Fantasmas

O caixão lustroso e suntuosamente adornado
Desliza como um novo navio para as profundezas em chamas.
Na terra firme,
A congregação se ajoelha em murmúrios.

Do meu banco no canto
Tenho uma visão livre e desimpedida
de sua partida.
Se você estivesse deitada de lado
Talvez pudesse captar seu olhar insuspeito.

No pátio, ao anoitecer,
Os tributos florais. Eu poderia jurar
Ter visto você
Aspirando o aroma das coroas de flores
E contando as cabeças inclinadas dos enlutados por você.

Trad.: Nelson Santander

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Ghosts

The scrubbed, magnificently decked coffin
Skates, like a new ship, into the fiery deep.
On dry land,
The congregation rustles to its knees.

From my corner pew
I command an unobstructed view
Of your departure.
If you had been lying on your side
I might have caught your unsuspecting eye.

Out on the patio, at dusk,
The floral tributes. I could almost swear
That it was you I saw
Sniffing the wreath-scented air
And counting the bowed heads of your bereaved.

Ian Hamilton – Vizinhos

Das janelas
Do decadente hotel do outro lado da rua
Misteriosos hóspedes noturnos emergem
Em suas varandas
Para aspirar o ar fresco da noite.

Nós os deixamos nos observar
Em nossas vidas pacatas.
Eles nos permitem imaginar
o que o destino lhes reservou.

Trad.: Nelson Santander

Neighbours

From the bay windows
Of the mouldering hotel across the road from us
Mysterious, one-night itinerants emerge
On to their balconies
To breathe the cool night air.

We let them stare
In at our quiet lives.
They let us wonder what’s become of them.

Ian Hamilton – Última Valsa

De onde estamos quase que podemos identificar
Os rostos destas pessoas que não conhecemos:
Um semi-círculo sombreado
Ao redor do enorme aparelho de TV doado
Que domina nossa ala.

A ‘Última Valsa’ espalha-se sobre eles
Iluminando
Amistosos, exaustos sorrisos. E nós,
Como se nos importássemos, também sorrimos.

Para cada alma perdida, nesta hora tardia
Um sedado espasmo de felicidade.

Trad.: Nelson Santander

Last Waltz

From where we sit, we can just about identify
The faces of these people we don’t know:
A shadowed semi-circle
Ranged around the huge, donated television set
That dominates the ward.

The ‘Last Waltz’ floods over them
Illuminating
Fond, exhausted smiles. And we,
As if we cared, are smiling too.

To each lost soul, at this late hour
A medicated pang of happiness.

Ian Hamilton – Lamento

Fiz o que pude. Meus garotos correm soltos agora.
Eles buscam oportunidades enquanto a mãe deles apodrece aqui.
E rua acima, o homem,
Meu único homem, que me tocou em todos os lugares,
Desmancha-se sob a terra.

Sou triste, obtusa, velha e alienada.
À noite, sinto minhas mãos vagando sobre mim,
Sondando meus seios, meus joelhos,
As dobras do meu ventre,
Vez ou outra pressionando e às vezes,
Em sua fome, dilacerando-me.
Vivo só.

Meus garotos correm, deixando a mãe deles como se fosse um calhau
Rolando no recreio depois que tocou o sinal.
Acumulo poeira e quase desejo a sepultura.
Ter bichinhos habitando em mim já seria algo.
Mas aqui, aos oito novamente, observo os brotos desabrochando
Além deste quintal.
Eu sei como me comportar.

Trad.: Nelson Santander

Complaint

I’ve done what i could. My boys run wild now.
They seek their chances while their mother rots here.
And up the road, the man,
My one man, who touched me everywhere,
Falls to bits under the ground.

I am dumpy, obtuse, old and out of it.
At night, i can feel my hands prowl over me,
Lightly probing at my breasts, my knees,
The folds of my belly,
Now and then pressing and sometimes,
In their hunger, tearing me.
I live alone.

My boys run, leaving their mother as they would a stone
That rolls on in the playground after the bell has gone.
I gather dust and i could almost love the grave.
To have small beasts room in me would be something.
But here, at eight again, i watch the blossoms break
Beyond this gravel yard.
I know how to behave.

Ian Hamilton – Admissão

Os lábios rachados do porteiro noturno uniformizado
Murmuram horrivelmente contra o vidro embaçado
De nossa ambulância escura.
Nossa aflição
Inspira um único olhar marcial de desdém
E logo ele nos indica o caminho, para a “Pátria”.

Trad.: Nelson Santander

Admission

The chapped lips of the uniformed night-porter
Mumble horribly against the misted glass
Of our black ambulance.
Our plight
Inspires a single, soldierly, contemptuous stare
And then he waves us on, to Blighty.

Ian Hamilton – Legado

Estamos no inverno agora e estou aquecido,
Acamado, feliz por ter sobrevivido.
Minha mobília
Me cerca. Eu posso alcançar meus livros.
E você, noite após noite,
Até “o fim”
Ficará comigo.

Entre nós
Há lenitivos, esta dor
E estes poemas inacabados eu lego a você.
Muitas vezes deve ser assim.
Escurecemos suavemente enquanto você conta os dias.
Sua respiração na minha
Monotonamente quente.

Trad.: Nelson Santander

Bequest

It is midwinter now and I am warm,
Bedridden, glad to be outlived.
My furniture
Surrounds me. I can reach my books.
And you, night after night
Until ‘the end’
Will sit with me.

Between us
There are medicines, this pain
And these unfinished poems I bequeath you.
It must often be like this.
We darken gently as you count the days.
Your breath on mine,
Monotonously warm.

Ian Hamilton – A Tempestade

Longe, uma tempestade irrompe. Ela avança em ondas até o nosso quarto.
Olhas para a luz, de modo que ela ilumina um lado
Do teu rosto, tua boca contraída, teu assustado.
Voltas-te para mim e quando chamo, tu vens
E ajoelhas-te ao meu lado, desejando que eu tome
Tua cabeça entre minhas mãos, como se fosse
Uma delicada tigela que a tempestade pudesse quebrar.
Queres que eu me coloque entre ti e o brutal trovão.
Pousando em tuas carnes, minhas grandes mãos se agitam,
Pulsam em ti e então, perguntando-se como, apertam.
A tempestade me atravessa enquanto tua boca se abre.

Trad.: Nelson Santander

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog.

The Storm

Miles off, a storm breaks. It ripples to our room.
You look up into the light so it catches one side
Of your face, your tight mouth, your startled eye.
You turn to me and when I call you come
Over and kneel beside me, wanting me to take
Your head between my hands as if it were
A delicate bowl that the storm might break.
You want me to get between you and the brute thunder.
Settling on your flesh my great hands stir,
Pulse on you and then, wondering how to do it, grip.
The storm rolls through me as your mouth opens.