Tennessee Williams – Não temos muito tempo para amar

Não temos muito tempo para amar.
Nenhuma luz é eterna.
Não costumamos nos desvencilhar
de todas as coisas ternas.
Os tecidos grosseiros são aqueles
para uso corrente.
Mudo, vi você desembaraçar
seus cabelos com um pente.
Imperava um silêncio profundo,
aconchegante e baço.
Eu poderia, mas não consegui,
não pude tocar seu braço.
Eu poderia, mas não quis, romper
toda aquela mansidão.
(até mesmo o menor dos sussurros
seria uma explosão)
E assim os momentos passam como
se não quisessem passar.
Não temos muito tempo para amar.
Uma noite. Um raiar…

Trad.: Nelson Santander

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

We Have Not Long to Love

We have not long to love.
Light does not stay.
The tender things are those
we fold away.
Coarse fabrics are the ones
for common wear.
In silence I have watched you
comb your hair.
Intimate the silence,
dim and warm.
I could but did not, reach
to touch your arm.
I could, but do not, break
that which is still.
(Almost the faintest whisper
would be shrill.)
So moments pass as though
they wished to stay.
We have not long to love.
A night. A day….

Hugo Mujica – Há escassos dias

Há escassos dias morreu meu pai,
há muito tempo atrás.

Caiu suavemente,
como as pálpebras ao chegar
a noite, ou uma folha
que o vento não arranca, embala.

Hoje não é como outras chuvas,
hoje chove pela primeira vez
sobre o mármore de sua lápide.

Sob cada chuva
poderia ser eu quem jaz, agora eu sei,
agora que morri em outro.

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO: poema publicado na página originalmente em 05/02/2020

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Hace apenas días

Hace apenas días murió mi padre,
hace apenas tanto.

Cayó sin peso,
como los párpados al llegar
la noche o una hoja
cuando el viento no arranca, acuna.

Hoy no es como otras lluvias
hoy llueve por vez primera
sobre el mármol de su tumba.

Bajo cada lluvia
podría ser yo quien yace, ahora lo sé,
ahora que he muerto en otro.

José Infante – A ausência

Ali estão eles. Povoam
meus dias, preenchem minhas noites
com seus corpos distantes.
Não preciso chamá-los pelos nomes.
Estão ali. Sinto-os como eram,
belos, jovens, desejados,
infiéis ao sagrado juramento
do amor.

Eles formam a ausência
que envolve as paredes,
que reveste minha alma,
que se expande como o magma
implacável de meus dias.

Eles foram minha vida. Foram
a vida e agora retornam
à medida que a vida se afasta
de minhas mãos.

Não confundo
seus olhos, nem suas vozes.
Não confundo suas mãos, suas carícias,
nem o aroma de seus corpos.

Mas quando chega a noite
apenas um fantasma aparece:
o da ausência do amor
que usou seus corpos e seus nomes
para me iludir com a felicidade.

Trad.: Nelson Santander

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

La Ausencia

Ellos están ahí. Pueblan
mis días, llenan mis noches
con sus cuerpos lejanos.
No necesito llamarles por sus nombres.
Están ahí. Los siento, como fueron,
hermosos, jóvenes, deseados,
infieles al juramento sagrado
del amor.

Ellos forman la ausencia
que envuelve las paredes,
que recubre mi alma,
que se expande como el magma
sin tregua de mis días.

Ellos fueron mi vida. Fueron
la vida y ahora vuelven
cuando la vida se aleja
de mis manos.

No confundo
sus ojos, ni sus voces.
No confundo sus manos, sus caricias,
ni el olor de sus cuerpos.

Pero cuando llega la noche
sólo un fantasma acude:
es la ausencia del amor
que utilizó sus cuerpos y sus nombres
para engañarme con la felicidad.

Joan Margarit – A aventura

Quando me ausento por um momento, ao finalizar
uma inspeção de obra em algum bairro estranho
e entro para tomar café em um pequeno bar
onde não me conhecem, penso que sou
alguém que parte para não mais voltar.
Quando me refugio no vazio
de um entreato e procuro a escada
que leva aos banheiros,
sinto que ali poderia começar minha ausência.
Instantes que são fendas para o frio.
Imagino as ruas que sempre nos aguardam
em futuros perdidos dentro de um só instante.
Ao redor está a eternidade:
atravessamo-la velozes
neste trem blindado que é o tempo.
A eternidade
se move tão devagar que a lua
na janela é a mesma da infância.
Não sei o que mais me surpreende nesta história,
se o quanto odeio o mundo cotidiano
ou quantos anos poderei
permanecer paralisado por uma covardia.

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO: poema publicado na página originalmente em 04/02/2020

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

La aventura

Cuando me ausento un rato, al acabarse
una visita de obra en algún barrio extraño
y entro a tomar café en un pequeño bar
donde no me conocen, pienso que soy
alguien que se está yendo para ya no volver.
Cuando me escapo en el vacío
de un entreacto y busco la escalera
que va hacia los lavabos,
siento que allí podría dar comienzo mi ausencia.
Instantes que son grietas hacia el frío.
Imagino las calles que siempre nos aguardan
en futuros perdidos dentro de un solo instante.
Alrededor está la eternidad:
la atravesamos raudos
en este tren blindado que es el tiempo.
La eternidad
se mueve tan despacio que la luna
del cristal es la misma de la infancia.
De esta historia no sé lo que más me sorprende,
si cómo se odia el mundo cotidiano
o cuántos años puedo
permanecer helado por una cobardía.

Adam Zagajewski – O portão

Para Barbara Torunczyk

Aprecias as palavras como um tímido ilusionista aprecia o momento de quietude
depois de deixar o palco, sozinho em um camarim onde
uma vela amarela arde com sua chama oleosa e negra como breu?

Que anseio te impulsionará a empurrar o pesado portão, a sentir
uma vez mais o cheiro daquela madeira e o gosto ferroso da água de um antigo poço,
a ver novamente a pereira altaneira, a matrona orgulhosa que nos presenteava
aristocraticamente com seus frutos perfeitamente formados a cada outono,
e depois caía na muda expectativa pelos males do inverno?

Ao lado, a impassível chaminé da fábrica fumegava, e a feia cidade permanecia quieta,
mas a terra fértil e infatigável trabalhava sob os tijolos dos jardins,
nossas memórias sombrias e a vasta despensa dos mortos.

Quanta coragem é necessário reunir para abrir o pesado portão,
quanta coragem para nos vermos de novo,
reunidos na pequena sala sob uma lâmpada gótica?
A mãe folheia o jornal, as mariposas chocam-se contra as vidraças,
nada acontece, nada, apenas a noite, a oração; ficamos à espera…

Só se vive uma vez.

Trad.: Nelson Santander a partir da versão do poema em inglês traduzido por Clare Cavanagh

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Gate

To Barbara Torunczyk

Do you love words as a shy magician loves the moment of quiet
after he’s left the stage, alone in a dressing room where
a yellow candle burns with its greasy, pitch-black flame?

What yearning will encourage you to push the heavy gate, to sense
once more the odor of that wood and the rusty taste of water from an ancient well,
to see again the tall pear tree, the proud matron who presented us
aristocratically with its perfectly formed fruit each fall,
and then fell into mute anticipation of the winter’s ills?

Next door a factory’s stolid chimney smoked and the ugly town kept still,
but the indefatigable earth worked on beneath the bricks in gardens,
our black memory and the vast pantry of the dead, the good earth.

What courage does it take to budge the heavy gate,
what courage to catch sight of us again,
gathered in the little room beneath a Gothic lamp –
mother skims the paper, moths bump the windowpanes,
nothing happens, nothing, only evening, prayer; we wait . . .

We lived only once.

Jenny Joseph – Advertência

Quando estiver velha, usarei roxo
Com um chapéu vermelho que não combina e que não me cai bem.
E torrarei minha aposentadoria em conhaques e luvas de verão
e sandálias de cetim, e direi que não temos dinheiro para manteiga.
Sentarei na calçada quando me cansar
E provarei amostras nas lojas e tocarei as campainhas
E correrei minha bengala pelas grades públicas
E compensarei a sobriedade de minha juventude.
Sairei de chinelos na chuva
E colherei flores dos jardins de outras pessoas
E aprenderei a cuspir.

Você pode vestir camisetas horrorosas e cultivar mais gordura
E comer três quilos de salsicha de uma só vez
ou apenas pão com picles por uma semana
E guardar lápis e canetas e bolachas de chope
e coisas em caixas.

Mas agora precisamos ter roupas que nos mantenham secos
E pagar o aluguel e não praguejar na rua
E dar um bom exemplo para as crianças.
Precisamos ter amigos com quem jantar e ler os jornais.

Mas e se eu praticasse um pouco agora?
Assim, as pessoas que me conhecem não ficariam tão chocadas e surpresas
Quando eu subitamente envelhecesse, e começasse a usar roxo.

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO: poema publicado na página originalmente em 01/02/2020

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Warning

When I am an old woman I shall wear purple
With a red hat which doesn’t go, and doesn’t suit me.
And I shall spend my pension on brandy and summer gloves
And satin sandals, and say we’ve no money for butter.
I shall sit down on the pavement when I’m tired
And gobble up samples in shops and press alarm bells
And run my stick along the public railings
And make up for the sobriety of my youth.
I shall go out in my slippers in the rain
And pick flowers in other people’s gardens
And learn to spit.

You can wear terrible shirts and grow more fat
And eat three pounds of sausages at a go
Or only bread and pickle for a week
And hoard pens and pencils and beermats and things in boxes.

But now we must have clothes that keep us dry
And pay our rent and not swear in the street
And set a good example for the children.
We must have friends to dinner and read the papers.

But maybe I ought to practice a little now?
So people who know me are not too shocked and surprised
When suddenly I am old, and start to wear purple.

Nâzim Hikmet – Sobre viver

Sobre viver

I

Viver não é motivo de riso:
           você deve levar a vida a sério
                        como um esquilo, por exemplo —
                                ou seja, sem buscar nada além da própria vida,
          viver deve ser sua única ocupação.
Viver não é motivo de riso:
                       você deve levar isto a sério,
                       tanto e a tal ponto
         que, por exemplo, mesmo com as mãos amarradas,
                                                         de costas para a parede,
        ou em um laboratório
                               vestido de branco e com óculos de proteção,
                               você pode dar sua vida pelas pessoas —
        até mesmo por pessoas cujos rostos você nunca viu,
        mesmo sabendo que viver
                               é a coisa mais real e bela que existe.
Quero dizer, você deve levar a vida tão a sério
        que mesmo aos setenta, por exemplo, você plantará oliveiras —
        e não para seus filhos
        mas porque, embora tema a morte, você não crê nela,
        porque viver, afinal, tem um peso maior.

II

Imaginemos que estamos gravemente doentes e precisamos de uma cirurgia —
o que significa que talvez não levantemos mais
         daquela mesa branca.
Mesmo sendo inevitável a tristeza
 por ter que partir antes da hora,
ainda riremos das piadas que forem contadas,
olharemos pela janela para ver se está chovendo,
ou ainda esperaremos ansiosamente
     pelas últimas notícias...
Imaginemos que estamos na linha de frente de uma batalha —
         por algo que vale a pena lutar, por exemplo.
Ali, na primeira ofensiva, naquele mesmo dia,
         podemos cair de cara no chão, mortos.
Teremos consciência disso com uma curiosa indignação,
        mas ainda nos preocuparemos até a morte
        com o resultado da guerra, que pode durar anos.
Imaginemos que estamos na prisão
com quase cinquenta anos,
e que ainda tenhamos, digamos, dezoito pela frente
                             antes que as grades se abram.
Ainda viveremos voltados para o mundo exterior,
com sua gente, seus animais, lutas e o vento —
                                  Por mundo exterior, quero dizer além desses muros.
O que eu quero dizer é que, onde quer que estejamos, e seja como for,
        devemos viver como se nunca fôssemos morrer.

III

Esta terra resfriará,
uma estrela entre estrelas
             e uma das menores,
uma partícula dourada sobre o veludo azul —
     Refiro-me a esta, nossa grande terra.
Ela resfriará um dia,
não como um bloco de gelo
nem como uma nuvem morta, 
mas como uma noz vazia rolando
     na escuridão profunda do espaço...
Você deve lamentar por isso já
— você precisa sentir essa tristeza agora —
pois é assim que se deve amar o mundo
                       se você quiser dizer 'eu vivi'...

Trad.: Nelson Santander (a partir da versão em inglês vertida do original em turco por Randy Blasing and Mutlu Konuk)

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

On Living

I

Living is no laughing matter:
           you must live with great seriousness
                 like a squirrel, for example—
    I mean without looking for something beyond and above living,
          I mean living must be your whole occupation.
Living is no laughing matter:
                     you must take it seriously,
                     so much so and to such a degree
    that, for example, your hands tied behind your back,
                                               your back to the wall,
    or else in a laboratory
in your white coat and safety glasses,
                    you can die for people—
   even for people whose faces you’ve never seen,
   even though you know living
is the most real, the most beautiful thing.
I mean, you must take living so seriously
that even at seventy, for example, you’ll plant olive trees—
and not for your children, either,
but because although you fear death you don’t believe it,
because living, I mean, weighs heavier.

II

Let’s say we’re seriously ill, need surgery —
which is to say we might not get up
         from the white table.
Even though it’s impossible not to feel sad
 about going a little too soon,
we’ll still laugh at the jokes being told,
we’ll look out the window to see if it’s raining,
or still wait anxiously
     for the latest newscast...
Let’s say we’re at the front—
for something worth fighting for, say.
There, in the first offensive, on that very day,
  we might fall on our face, dead.
We’ll know this with a curious anger,
  but we’ll still worry ourselves to death
about the outcome of the war, which could last years.
Let’s say we’re in prison
and close to fifty,
and we have eighteen more years, say,
                             before the iron doors will open.
We’ll still live with the outside,
with its people and animals, struggle and wind—
                               I  mean with the outside beyond the walls.
I mean, however and wherever we are,
we must live as if we will never die.

III

This earth will grow cold,
a star among stars
             and one of the smallest,
a gilded mote on blue velvet—
     I mean this, our great earth.
This earth will grow cold one day,
not like a block of ice
or a dead cloud even
but like an empty walnut it will roll along
     in pitch-black space...
You must grieve for this right now
— you have to feel this sorrow now—
for the world must be loved this much
                       if you’re going to say “I lived”...


Dylan Thomas – Colina de samambaias

Quando, junto à casa em festa, sob os ramos da macieira,
Eu era lépido e jovem, e feliz como era verde a relva,
A noite suspensa sobre as estrelas do desfiladeiro,
O tempo a permitir que eu gritasse e me erguesse,
Dourado, no fulgurante apogeu de seus olhos,
Eu, venerado entre as carroças, era o príncipe da cidade das maçãs,
E certa vez, com orgulho, fiz com que as árvores e as folhas
Se arrastassem com margaridas e cevada
Até os rios iluminados pelos frutos caídos sobre a terra.

E como era moço e descuidado, famoso entre os celeiros
Ao redor do pátio feliz, e cantava, pois a fazenda era o meu lar,
Sob o sol, que é jovem apena uma vez,
O tempo deixava-me brincar e ser dourado
Na misericórdia de seus bens,
E, verde e dourado, eu era caçador e pastor, mugiam os bezerros
Ao som de minha trompa, das colinas vinha o uivo claro e frio das raposas,
E lentamente ecoava a celebração do domingo
Nos seixos dos córregos sagrados.

Tudo fluía e era belo sob o sol: os campos de feno
Altos como a casa, a música das chaminés, tudo era ar
E ecoava, cheio de água e sortilégio,
E fogo era tão verde quanto a relva,
E à noite, sob a luz das estrelas humildes,
Enquanto eu cavalgava rumo ao sono, as corujas subjugavam a fazenda,
E sob a lua, abençoado entre os estábulos, eu ouvia os noitibós
Voando entre as medas, e os cavalos
Que flamejavam em meio às trevas.

E então, ao despertar, a fazenda, como um vagabundo
Branco de orvalho, regressa com o galo sobre o ombro: tudo
Fulgia, tudo era Adão e sua donzela,
O céu se adensava outra vez
E o sol crescia ao redor daquele dia imaculado.
Assim deve ter sido após o nascimento da luz elementar
No primitivo espaço giratório, e os ardentes cavalos encantados
Saíam relinchando da verde estrebaria
Rumo ao campos da celebração.

E na casa em festa, venerado entre raposas e faisões,
Sob as nuvens recém-formadas, e tão feliz quanto era grande o coração,
Ao sol que renasce a cada dia,
Eu corria por meus caminhos temerários,
Meus desejos se precipitavam pelo alto feno da casa
E nada me importava, em meu comércio celestial, pois o tempo
Em suas órbitas melodiosas, só concede raras canções matinais
Antes que as crianças verdes e douradas
O acompanham até o estertor da graça,

Nada me importava, nos dias brancos como cordeiros, que o tempo
[me levasse,
Pela sombra de minhas mãos, até o paiol cheio de andorinhas,
Sob a lua que jamais deixa de galgar os céus,
Nem mesmo, ao cavalgar rumo ao sono,
Que chegasse a ouvi-la flutuar entre os altos campos
E acordasse na fazenda apagada para sempre nessa terra sem crianças,
Ah! Quando eu era lépido e jovem, na misericórdia de seus bens,
Embora eu cantasse em meus grilhões como canta o mar.

Trad.: Ivan Junqueira

REPUBLICAÇÃO: poema publicado na página originalmente em 16/01/2020

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Fern hill

Now as I was young and easy under the apple boughs
About the lilting house and happy as the grass was green,
The night above the dingle starry,
Time let me hail and climb
Golden in the heydays of his eyes,
And honoured among wagons I was prince of the apple towns
And once below a time I lordly had the trees and leaves
Trail with daisies and barley
Down the rivers of the windfall light.

And as I was green and carefree, famous among the barns
About the happy yard and singing as the farm was home,
In the sun that is young once only,
Time let me play and be
Golden in the mercy of his means,
And green and golden I was huntsman and herdsman, the calves
Sang to my horn, the foxes on the hills barked clear and cold,
And the sabbath rang slowly
In the pebbles of the holy streams.

All the sun long it was running, it was lovely, the hay
Fields high as the house, the tunes from the chimneys, it was air
And playing, lovely and watery
And fire green as grass.
And nightly under the simple stars
As I rode to sleep the owls were bearing the farm away,
All the moon long I heard, blessed among stables, the nightjars
Flying with the ricks, and the horses
Flashing into the dark.

And then to awake, and the farm, like a wanderer white
With the dew, come back, the cock on his shoulder: it was all
Shining, it was Adam and maiden,
The sky gathered again
And the sun grew round that very day.
So it must have been after the birth of the simple light
In the first, spinning place, the spellbound horses walking warm
Out of the whinnying green stable
On to the fields of praise.

And honoured among foxes and pheasants by the gay house
Under the new made clouds and happy as the heart was long,
In the sun born over and over,
I ran my heedless ways,
My wishes raced through the house high hay
And nothing I cared, at my sky blue trades, that time allows
In all his tuneful turning so few and such morning songs
Before the children green and golden
Follow him out of grace,

Nothing I cared, in the lamb white days, that time would take me
Up to the swallow thronged loft by the shadow of my hand,
In the moon that is always rising,
Nor that riding to sleep
I should hear him fly with the high fields
And wake to the farm forever fled from the childless land.
Oh as I was young and easy in the mercy of his means,
Time held me green and dying
Though I sang in my chains like the sea.

Antonio Cícero – O Fim da Vida

Conheci da humana lida
a sorte:
o único fim da vida
é a morte
e não há, depois da morte,
mais nada.
Eis o que torna esta vida
sagrada:
ela é tudo e o resto, nada.

Antonio Cícero 1946 🌟 2024

Brenda Shaughnessy – Eu tenho uma máquina do tempo

Mas, infelizmente, ela só pode viajar para o futuro
a uma velocidade de um segundo por segundo,

o que parece lento para os físicos, para os comitês
de financiamento e até para mim.

Mas eu consigo chegar lá – dia após dia – ao próximo
momento e ao seguinte.

O problema é que não consigo desligá-la. Continuo avançando —
bem, não exatamente avançando — e se eu tentar

sair desta máquina do tempo, abrir a trava,
cairei no espaço, ficarei inconsciente,

e depois serei desidratada! E com certeza tenho medo disso.
Por isso eu fico lá dentro.

Mas existe uma janela. Ela mostra o passado.
É como uma televisão ou um aquário de peixes,

mas nunca passa ao vivo, e sempre acaba. Os peixes nadam
em círculos invertidos.

Às vezes é como um espelho retrovisor, outra chance
de ver o que estou deixando para trás,

e às vezes é como um apagão, todo aquele tempo
desperdiçado dormindo.

Eu mesma aos oito anos de idade, toda a cabeça ardendo de vergonha
por ter perdido um livro da biblioteca.

Eu me esgueirando em um canto iluminado, charmosamente
esperando ser encontrada.

Eu segurando uma rosa, mas querendo larga-la
para poder fumar.

Eu explodindo com minha mãe que explode comigo
porque a explosão

de alguma estrela negra lá atrás atingiu em cheio
a mãe da mãe da minha mãe.

Eu me afasto da janela, antecipando um golpe.
Pensei que eu já seria

uma velha agora, viajando tão leve no tempo.
Mas não fui muito longe.

É estranho não poder acelerar o ritmo como eu gostaria;
o passado é tão terrivelmente rápido.

Trad.: Nelson Santander

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

I Have a Time Machine

But unfortunately it can only travel into the future
at a rate of one second per second,

which seems slow to the physicists and to the grant
committees and even to me.

But I manage to get there, time after time, to the next
moment and to the next.

Thing is, I can’t turn it off. I keep zipping ahead—
well, not zipping—And if I try

to get out of this time machine, open the latch,
I’ll fall into space, unconscious,

then desiccated! And I’m pretty sure I’m afraid of that.
So I stay inside.

There’s a window, though. It shows the past.
It’s like a television or fish tank

but it’s never live, it’s always over. The fish swim
in backward circles.

Sometimes it’s like a rearview mirror, another chance
to see what I’m leaving behind,

and sometimes like blackout, all that time
wasted sleeping.

Myself age eight, whole head burnt with embarrassment
at having lost a library book.

Myself lurking in a candled corner expecting
to be found charming.

Me holding a rose though I want to put it down
so I can smoke.

Me exploding at my mother who explodes at me
because the explosion

of some dark star all the way back struck hard
at mother’s mother’s mother.

I turn away from the window, anticipating a blow.
I thought I’d find myself

an old woman by now, travelling so light in time.
But I haven’t gotten far at all.

Strange not to be able to pick up the pace as I’d like;
the past is so horribly fast.