William Stafford – Sim

Pode acontecer a qualquer momento, tornado,
terremoto, Armageddon. Pode acontecer.
Ou luz solar, amor, salvação.

Pode acontecer, você sabe. É por isso que despertamos
e olhamos para fora – não há garantias
nesta vida.

Apenas alguns bônus: a manhã,
este instante, o meio-dia,
o entardecer.

Trad.: Nelson Santander

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Yes

It could happen any time, tornado,
earthquake, Armageddon. It could happen.
Or sunshine, love, salvation.

It could, you know. That’s why we wake
and look out – no guarantees
in this life.

But some bonuses, like morning,
like right now, like noon,
like evening.

William Stafford – Como é

Há um fio que você segue. Ele passa entre
as coisas que mudam. Mas ele não muda.
As pessoas se perguntam o que você persegue.
Você precisa explicar sobre o fio.
Mas é difícil para os outros enxergá-lo.
Enquanto o segura, você não pode se perder.
Tragédias ocorrem; pessoas se ferem
ou morrem; e você sofre e envelhece.
Nada que você faz pode deter o desenrolar do tempo.
Você nunca solta o fio.

Trad.: Nelson Santander Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

The Way It Is

There’s a thread you follow. It goes among
things that change. But it doesn’t change.
People wonder about what you are pursuing.
You have to explain about the thread.
But it is hard for others to see.
While you hold it you can’t get lost.
Tragedies happen; people get hurt
or die; and you suffer and get old.
Nothing you do can stop time’s unfolding.
You don’t ever let go of the thread.

William Stafford – No monumento não-nacional ao longo da fronteira canadense

Este é o campo onde a batalha não aconteceu,
onde o soldado desconhecido não morreu.
Este é o campo onde deu as mãos o gramado
onde monumento algum foi levantado
e a única coisa heroica é o céu.

Pássaros voam aqui sem nenhuma agitação,
abrindo suas asas ao ar livre.
Ninguém matou – ou foi morto – neste torrão
consagrado pelo esquecimento e por um ar tão brando
que as pessoas o celebram dele se esquecendo.

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO: poema originalmente publicado na página em 16/09/2020

At the Un-National Monument Along the Canadian Border

This is the field where the battle did not happen,
where the unknown soldier did not die.
This is the field where grass joined hands,
where no monument stands,
and the only heroic thing is the sky.

Birds fly here without any sound,
unfolding their wings across the open.
No people killed — or were killed — on this ground
hallowed by neglect and an air so tame
that people celebrate it by forgetting its name.

William Stafford – Uma cópia de arquivo

Deus tira seu retrato: não desvie o olhar –
agora, neste quarto, seu rosto inclinado
exatamente como é, antes de você pensar
ou controla-lo. Vá em frente, deixe-se trair por
todas as urgências secretas e ainda mantenha
aquele disfarce parcial que você chama de caráter.

Mesmo o seu lábio, dizem, o modo como ele arqueia
ou não, ou hesita, entregará
volumes de provas. A câmera, totalmente aberta,
está pronta; a exposição é de uns trinta e cinco anos
ou mais – depois disso você se torna
aquilo que verniz já era, por completo.

Agora você quer se explicar. Sua mãe
foi uma certa – como expressa-lo? – influência.
Sim. E seu pai, seja lá o que tenha sido,
não poderia mudar isso. Não. E sua cidade,
claro, tinha seus limites. Continue, siga falando:
Espere. Não se mexa. Esse é você para sempre.

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO: poema originalmente publicado na página em 21/03/2020

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

An archival print

God snaps your picture: don’t look away –
this room right now, your face tilted
exactly as it is before you can think
or control it. Go ahead, let it betray
all the secret emergencies and still hold
that partial disguise you call your character.

Even your lip, they say, the way it curves
or doesn’t, or can’t decide, will deliver
bales of evidence. The camera, wide open,
stands ready; the exposure is thirty-five years
or so – after that you have become
whatever the veneer is, all the way through.

Now you want to explain. Your mother
was a certain – how to express it? – influence.
Yes. And your father, whatever he was,
you couldn’t change that. No. And your town
of course had its limits. Go on, keep talking :
Hold it. Don’t move. That’s you forever.

William Stafford – Viajando na Escuridão

Viajando na escuridão, encontrei um cervo
morto à margem da estrada junto ao Rio Wilson.
Geralmente é melhor rolá-los para o cânion:
a estrada é estreita; desvios poderiam causar mais mortos.

À luz da lanterna traseira, caminhei até o carro
e me coloquei ao lado do monte, uma corsa, recém-abatida;
ela já estava rígida, quase fria.
Eu a arrastei para longe; ela estava inchada na barriga.

Ao tocar seu flanco, descobri a razão —
ela estava quente do lado; sua cria estava ali esperando,
viva, imóvel, para nunca mais nascer.
Ao lado daquela estrada da montanha, hesitei.

O carro apontava para frente com as luzes baixas ligadas;
sob o capô, ronronava o motor estável.
Fiquei diante do reflexo do escapamento quente que se tornava vermelho;
ao nosso redor, eu podia sentir a natureza selvagem nos observando.

Refleti profundamente por todos nós — meu único desvio —,
e depois a empurrei para dentro do rio.

Trad.: Nelson Santander

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Traveling through the Dark

Traveling through the dark I found a deer
dead on the edge of the Wilson River road.
It is usually best to roll them into the canyon:
that road is narrow; to swerve might make more dead.

By glow of the tail-light I stumbled back of the car
and stood by the heap, a doe, a recent killing;
she had stiffened already, almost cold.
I dragged her off; she was large in the belly.

My fingers touching her side brought me the reason—
her side was warm; her fawn lay there waiting,
alive, still, never to be born.
Beside that mountain road I hesitated.

The car aimed ahead its lowered parking lights;
under the hood purred the steady engine.
I stood in the glare of the warm exhaust turning red;
around our group I could hear the wilderness listen.

I thought hard for us all—my only swerving—,
then pushed her over the edge into the river.

William Stafford – No monumento não-nacional ao longo da fronteira canadense

Este é o campo onde a batalha não aconteceu,
onde o soldado desconhecido não morreu.
Este é o campo onde deu as mãos o gramado
onde monumento algum foi levantado
e a única coisa heroica é o céu.

Pássaros voam aqui sem nenhuma agitação,
abrindo suas asas ao ar livre.
Ninguém matou – ou foi morto – neste torrão
consagrado pelo esquecimento e por um ar tão brando
que as pessoas o celebram dele se esquecendo.

Trad.: Nelson Santander

At the Un-National Monument Along the Canadian Border

This is the field where the battle did not happen,
where the unknown soldier did not die.
This is the field where grass joined hands,
where no monument stands,
and the only heroic thing is the sky.

Birds fly here without any sound,
unfolding their wings across the open.
No people killed — or were killed — on this ground
hallowed by neglect and an air so tame
that people celebrate it by forgetting its name.

William Stafford – O sonho de agora

Quando acorda, da noite e dos outros
sonhos, para o sonho de agora,
você conduz o dia para fora das trevas
como a uma chama.
Quando a primavera acontece no norte e as flores
desabrocham no solo e até adormecem,
você alteia o verão com sua respiração
para que ele não se perca jamais tão profundamente.
Sua vida você vive com a luz que encontra
e escolta da melhor maneira possível,
conduzindo na escuridão por onde quer que vá
sua diminuta chama que outra vez se acenderá.

Trad.: Nelson Santander

The Dream of Now

When you wake to the dream of now
from night and its other dream,
you carry day out of the dark
like a flame.
When spring comes north and flowers
unfold from earth and its even sleep,
you lift summer on with your breath
lest it be lost ever so deep.
Your life you live by the light you find
and follow it on as well as you can,
carrying through darkness wherever you go
your one little fire that will start again.

William Stafford – Uma cópia de arquivo

Deus tira seu retrato: não desvie o olhar –
agora, neste quarto, seu rosto inclinado
exatamente como é, antes de você pensar
ou controla-lo. Vá em frente, deixe-se trair por
todas as urgências secretas e ainda mantenha
aquele disfarce parcial que você chama de caráter.

Mesmo o seu lábio, dizem, o modo como ele arqueia
ou não, ou hesita, entregará
volumes de provas. A câmera, totalmente aberta,
está pronta; a exposição é de uns trinta e cinco anos
ou mais – depois disso você se torna
aquilo que verniz já era, por completo.

Agora você quer se explicar. Sua mãe
foi uma certa – como expressa-lo? – influência.
Sim. E seu pai, seja lá o que tenha sido,
não poderia mudar isso. Não. E sua cidade,
claro, tinha seus limites. Continue, siga falando:
Espere. Não se mexa. Esse é você para sempre.

Trad.: Nelson Santander

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

An archival print

God snaps your picture: don’t look away –
this room right now, your face tilted
exactly as it is before you can think
or control it. Go ahead, let it betray
all the secret emergencies and still hold
that partial disguise you call your character.

Even your lip, they say, the way it curves
or doesn’t, or can’t decide, will deliver
bales of evidence. The camera, wide open,
stands ready; the exposure is thirty-five years
or so – after that you have become
whatever the veneer is, all the way through.

Now you want to explain. Your mother
was a certain – how to express it? – influence.
Yes. And your father, whatever he was,
you couldn’t change that. No. And your town
of course had its limits. Go on, keep talking :
Hold it. Don’t move. That’s you forever.