William Blake – London (c.1790)

Perambulo por todas as ruas com barreiras
Vizinhas de onde o próprio Tâmisa
Entre barreiras flui, e em cada face que encontro
Marco marcas de fraqueza, marcas de pesar.

Ouço o ruído dos grilhões mentais apostos
Em cada alocução de cada homem
No grito de temor de cada infante
Nas vozes todas, em cada interdição.

Como o grito dos meninos que limpam chaminés
Ressoa intimidante nos tempos encardidos.
E o suspiro do infeliz conscrito
Escorre em sangue pelas paredes dos palácios.

Mas sobretudo como na calada da noite
A maldição das adolescentes prostitutas
Provoca o choro do recém-nascido
E envolve em pragas o ataúde nupcial.

Trad.: Benedicto Ferri de Barros

REPUBLICAÇÃO: poema publicado no blog originalmente em 03/07/2016

London

I wonder thro’ each charter’d street,
Near where the charter’d Thames doth flow,
And mark in every face I meet
Marks of weakness, marks of woe.

In ev’ry cry of every man,
In ev’ry Infant’s cry of fear,
In every voice, in every ban,
The mind-forg’d manacles I hear.

How the Chimney-sweeper’s cry
Every black’ning Church appalls;
And the helpless Soldier’s sigh
Runs in blood down Palace walls.

But most thro’ midnight street I hear
How the youthful Harlot’s curse
Blasts the new born Infant’s tear
And blights with plagues the Marriage hearse.

William Blake – A Tirzah

Tudo que nasceu para morrer
Deve-se a terra misturar
Para da geração se libertar:
Então, que tenho eu a ver contigo?

Do orgulho e da vergonha nasce o sexo
Pela manhã florido, à tarde morto.
Mas a piedade faz da Morte sono
E os sexos se levantam para o trabalho e o pranto.

Tu, mãe da minha mortal parte
Que cruelmente meu coração moldaste
E com fingidas lágrimas
Obliteraste meu olfato, meu olhar e meu ouvir.

E minha fala fizeste de cerâmica insensível
Falseando minha vida de mortal:
A morte de Jesus me liberou:
Então, que tenho eu que haver contigo?

Trad.: Benedicto Ferri de Barros

REPUBLICAÇÃO: Poema publicado no blog originalmente em 03/07/2016

To Tirzah

Whate’er is born of mortal birth
Must be consumed with the earth,
To rise from generation free:
Then what have I to do with thee?

The sexes sprung from shame and pride,
Blowed in the morn, in evening died;
But mercy changed death into sleep;
The sexes rose to work and weep.

Thou, mother of my mortal part,
With cruelty didst mould my heart,
And with false self-deceiving tears
Didst blind my nostrils, eyes, and ears,

Didst close my tongue in senseless clay,
And me to mortal life betray.
The death of Jesus set me free:
Then what have I to do with thee?

William Blake – London (c.1790)

Perambulo por todas as ruas com barreiras
Vizinhas de onde o próprio Tâmisa
Entre barreiras flui, e em cada face que encontro
Marco marcas de fraqueza, marcas de pesar.

Ouço o ruído dos grilhões mentais apostos
Em cada alocução de cada homem
No grito de temor de cada infante
Nas vozes todas, em cada interdição.

Como o grito dos meninos que limpam chaminés
Ressoa intimidante nos tempos encardidos.
E o suspiro do infeliz conscrito
Escorre em sangue pelas paredes dos palácios.

Mas sobretudo como na calada da noite
A maldição das adolescentes prostitutas
Provoca o choro do recém-nascido
E envolve em pragas o ataúde nupcial.

Trad.: Benedicto Ferri de Barros

William Blake – A Tirzah

Tudo que nasceu para morrer
Deve-se a terra misturar
Para da geração se libertar:
Então, que tenho eu a ver contigo?

Do orgulho e da vergonha nasce o sexo
Pela manhã florido, à tarde morto.
Mas a piedade faz da Morte sono
E os sexos se levantam para o trabalho e o pranto.

Tu, mãe da minha mortal parte
Que cruelmente meu coração moldaste
E com fingidas lágrimas
Obliteraste meu olfato, meu olhar e meu ouvir.

E minha fala fizeste de cerâmica insensível
Falseando minha vida de mortal:
A morte de Jesus me liberou:
Então, que tenho eu que haver contigo?

Trad.: Benedicto Ferri de Barros