Carlos Pena Filho – A Solidão e sua Porta

Quando mais nada resistir que valha
a pena de viver e a dor de amar
e quando nada mais interessar,
(nem o torpor do sono que se espalha).

Quando pelo desuso da navalha
a barba livremente caminhar
e até Deus em silêncio se afastar
deixando-te sozinho na batalha

a arquitetar na sombra a despedida
do mundo que te foi contraditório,
lembra-te que afinal te resta a vida

com tudo que é insolvente e provisório
e de que ainda tens uma saída:
entrar no acaso e amar o transitório.

Emily Dickinson – Cemitério

Este pó foram damas, cavalheiros,
Rapazes e meninas;
Foi riso, foi espírito e suspiro,
Vestidos, tranças finas.

Este lugar foram jardins que abelhas
E flores alegraram.
Findo o verão, findava o seu destino…
E como estes, passaram.

Tradução Manuel Bandeira

Robinson Jeffers – The Inhumanist (Parte II de “The Double Axe”) (excerto)

Chegará um tempo, sem dúvida,
Em que também o sol morrerá; os planetas congelarão
e o ar sobre eles; gases congelados, com flocos de ar
Serão a poeira: que nenhum vento jamais bulirá:
essa poeira mesma a cintilar à luz baixa dos astros
É o vento morto, o corpo branco do vento.

Também a galáxia morrerá; o brilho da Via Láctea,
nosso universo, todos os astros que têm nomes estão mortos.
Vasta é a noite. Cresceste tanto, querida noite,
andando por teus salões vazios, tão alta!

Rainer Maria Rilke – A Pantera (em 3 traduções)

A PANTERA – trad. Augusto de Campos

(No Jardin des Plantes, Paris)

De tanto olhar as grades seu olhar
esmoreceu e nada mais aferra.
Como se houvesse só grades na terra:
grades, apenas grades para olhar.

A onda andante e flexível do seu vulto
em círculos concêntricos decresce,
dança de força em torno a um ponto oculto
no qual um grande impulso se arrefece.

De vez em quando o fecho da pupila
se abre em silêncio. Uma imagem, então,
na tensa paz dos músculos se instila
para morrer no coração.

A PANTERA – Trad. Geir Campos

(No Jardin des Plantes, Paris)

Varando a grade, a nada mais se agarra
o olhar tomado de um torpor profundo:
para ela é como se houvesse mil barras
e, atrás dessas mil barras, nenhum mundo.

Seu firme andar de passos gráceis, dentro
dum círculo talvez muito apertado,
é uma dança de força em cujo centro
ergue-se um grande anseio atordoado.

De raro em raro, só, o véu das pupilas
abre-se sem ruído — e deixa entrar
a imagem, que sobe, pelas tranqüilas
patas, ao coração, para aí ficar.

A PANTERA – Trad. José Paulo Paes

(No Jardin des Plantes, Paris)

Seu olhar, de tanto percorrer as grades,
está fatigado, já nada retém.
É como se existisse uma infinidade
de grades e mundo nenhum mais além.

O seu passo elástico e macio, dentro
do círculo menor, a cada volta urde
como que uma dança de força: no centro
delas, uma vontade maior se aturde.

Certas vezes, a cortina das pupilas
ergue-se em silêncio. – Uma imagem então
penetra, a calma dos membros tensos trilha –
e se apaga quando chega ao coração

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Der Panther

Im Jardin des Plantes, Paris

Sein Blick ist vom Vorübergehn der Stäbe
so müd geworden,dass er nichts mehr hält.
Ihm ist, als ob es tausend Stäbe gäbe
und hinter tausend Stäben keine Welt.

Der weiche Gang geschmeidig starker Schritte,
der sich im allerkleinsten Kreise dreht,
ist wie ein Tanz von Kraft um eine Mitte,
in der betäubt ein grosser Wille steht.

Nur manchmal schiebt der Vorhang der Pupille
sich lautlos auf -. Dann geht ein Bild hinein,
geht durch der Glieder angespannte Stille –
und hört im Herzen auf zu sein.

Ian Curtis – 24 Hours

24 Horas

Então isso é a permanência – o orgulho despedaçado do amor
O que uma vez foi inocência perdeu sua vez
Uma nuvem paira sobre mim, marca cada movimento
Fundo na memória do que uma vez foi amor

Oh, como eu compreendi, como eu queria tempo para
Colocar em perspectiva. Tentei tanto encontrar
Só por um instante pensei que encontraria meu caminho
O destino desvendado eu vi escapar

Luzes em excesso, além de todo o alcance
Pedidos solitários por tudo que eu gostaria de guardar
Vamos dar uma volta, ver o que podemos encontrar
Uma coleção sem valor de esperanças e desejos antigos

Eu nunca percebi a distância que teria que percorrer
Todos os lados obscuros de um sentido que eu não conhecia

Por apenas um segundo ouvi alguém me chamar
Olhei para além do dia presente, e não havia nada ali afinal…

Agora que eu percebi como tudo está dando errado
Tenho que fazer terapia, tratamentos demoram muito
No cerne onde a simpatia dominou
Tenho que achar meu destino antes que seja tarde demais…

Augusto de Campos – o pulsar

Augusto de Campos – o quasar

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