Janeiro
Retorcidas pelo vento,
meras estruturas para gelo ou neve,
as árvores decidem
resistir por enquanto,
elas brotarão em abril.
E eu devo ser paciente
como as árvores —
uma resolução de inverno
que quebro novamente,
enquanto o frio pressiona
sua lâmina afiada
contra minha garganta.
Fevereiro
Após uma interminável
hibernação
no peitoril da janela,
a orquídea floresce —
pontos púrpuras bordados,
acima e abaixo,
numa fina haste.
Lá fora, a neve
derrete no ar e se transforma
em chuva.
Mês abreviado.
Todo tipo de clima.
Março
Quando o Rei dos Elfos veio
levar a criança
no poema de Goethe, o pai disse:
não tenha medo,
é apenas o vento…
Como se não fosse o vento
que leva embora os fragmentos
delicados deste mundo —
folhas remanescentes nos cantos
do jardim, uma rosa quaresmal
que pensou estar segura
ao florescer tão cedo.
Abril
No borrão em tons pastéis
do jardim,
a cereja
e a Cercis1
sacodem a chuva
de seus delicados
ombros, enquanto pétalas
da dogwood
rosa
descem pelas valetas
como oníricos
rios de cores.
Maio
Maçã-de-maio, narciso,
jacinto, lírio,
e junto aos degraus
da varanda da frente
todos os tons
ondulantes de lilás
e lavanda roxa,
a flor favorita de minha mãe,
doce respiração flutuando pelas
janelas abertas:
perfume da memória — condutora
da primavera.
Junho
O besouro de junho
na porta telada
zune como uma máquina
pequena e feia,
e um coro de sapos
e grilos zumbindo como Musak2
em todas as janelas.
O que não vemos claramente
nos conforta.
Cintilação de relâmpago, rosnado
de trovão — apenas o calor
limpando a garganta.
Julho
Nesta noite, os vagalumes
acendem suas breves
velas
em todas as árvores
de verão —
cor de flocos de lua,
cor de renda
fluorescente
onde o oceano arrasta
sua bainha rasgada
sobre a areia
escura.
Agosto
Descalça
e atordoada pelo sol,
mordo esse pêssego maduro
de um mês,
reunindo crianças
em meus braços
em toda sua glória
areenta,
enchendo
minha mesa todas as noites
com nada além
de milho e tomates.
Setembro
Seu romance de verão
acabou, mas os amantes
ainda se agarram
um ao outro
assim como as
folhas verdes se agarram
às árvores
no calor estranho
de setembro, como se
desta vez
não houvesse
outono.
Outubro
Quão repentinamente
a floresta
se transformou
novamente. Sinto-me
como Daphne3, parada
com os braços
estendidos em direção
à estação,
envolvida
pelas cores, coroada
com o dourado martelado
das folhas.
Novembro
Essas folhas
anônimas, seus corpos
molhados pressionados
contra a janela
ou caindo —
eu as conto
enquanto durmo,
absolvendo a gravidade,
absolvendo até mesmo a morte
que conhece como eu
os imperativos
da estação.
Dezembro
A pomba branca do inverno
perde suas primeiras
preciosas penas;
elas derretem
ao tocar
o chão quente
como notas
de uma música que já foi
familiar; a terra
estremece e
e se volta para
o solstício.
Trad.: Nelson Santander
N. do T.:
- Cercis é o nome científico do gênero de árvores que inclui a Redbud, mencionada no original do poema. Optei por usar o termo Cercis em vez de manter “redbud” para aproveitar a meia-rima com a palavra “jardim” e criar a aliteração formada pelas palavras “cereja”, “Cercis” e “sacodem”, evocando o som da chuva sobre as plantas do jardim.
- Música ambiente
- Daphne, na mitologia grega, era uma ninfa da natureza, conhecida por sua beleza e conexão com o mundo natural. Segundo a lenda, ela foi transformada em uma árvore de loureiro para escapar do deus Apolo, que estava obcecado por ela. Essa história simboliza a profunda ligação entre Daphne e a natureza, mostrando sua identificação com o ambiente natural e sua escolha de se tornar parte dele.
Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog
The Months
January
Contorted by wind,
mere armatures for ice or snow,
the trees resolve
to endure for now,
they will leaf out in April.
And I must be as patient
as the trees—
a winter resolution
I break all over again,
as the cold presses
its sharp blade
against my throat.
February
After endless
hibernation
on the windowsill,
the orchid blooms—
embroidered purple stitches
up and down
a slender stem.
Outside, snow
melts midair
to rain.
Abbreviated month.
Every kind of weather.
March
When the Earl King came
to steal away the child
in Goethe’s poem, the father said
don’t be afraid,
it’s just the wind. . .
As if it weren’t the wind
that blows away the tender
fragments of this world—
leftover leaves in the corners
of the garden, a Lenten Rose
that thought it safe
to bloom so early.
April
In the pastel blur
of the garden,
the cherry
and redbud
shake rain
from their delicate
shoulders, as petals
of pink
dogwood
wash down the ditches
in dreamlike
rivers of color.
May
May apple, daffodil,
hyacinth, lily,
and by the front
porch steps
every billowing
shade of purple
and lavender lilac,
my mother’s favorite flower,
sweet breath drifting through
the open windows:
perfume of memory—conduit
of spring.
June
The June bug
on the screen door
whirs like a small,
ugly machine,
and a chorus of frogs
and crickets drones like Musak
at all the windows.
What we don’t quite see
comforts us.
Blink of lightning, grumble
of thunder—just the heat
clearing its throat.
July
Tonight the fireflies
light their brief
candles
in all the trees
of summer—
color of moonflakes,
color of fluorescent
lace
where the ocean drags
its torn hem
over the dark
sand.
August
Barefoot
and sun-dazed,
I bite into this ripe peach
of a month,
gathering children
into my arms
in all their sandy
glory,
heaping
my table each night
with nothing
but corn and tomatoes.
September
Their summer romance
over, the lovers
still cling
to each other
the way the green
leaves cling
to their trees
in the strange heat
of September, as if
this time
there will be
no autumn.
October
How suddenly
the woods
have turned
again. I feel
like Daphne, standing
with my arms
outstretched
to the season,
overtaken
by color, crowned
with the hammered gold
of leaves.
November
These anonymous
leaves, their wet
bodies pressed
against the window
or falling past—
I count them
in my sleep,
absolving gravity,
absolving even death
who knows as I do
the imperatives
of the season.
December
The white dove of winter
sheds its first
fine feathers;
they melt
as they touch
the warm ground
like notes
of a once familiar
music; the earth
shivers and
turns towards
the solstice.