Estou voltando da escola quando o rádio
fala de E.B. White1, seu aniversário, e eu saio
do aqui e agora da rodovia na hora do rush,
e viajo de volta ao passado, onde minha mãe está lendo
para mim e minha irmã a parte em que Charlotte2 põe seus ovos
e morre, e embora esta seja a quinta vez que Charlotte
morre, minha mãe está chorando novamente, e estamos rindo
dela porque não sabemos nada sobre a perda e sua triste matemática,
como cada subtração é exponencial, como cada dor
multiplica a anterior, como o autor tentou
dezessete vezes gravar as palavras Ela morreu sozinha
sem chorar, dezessete tentativas e uma curta caminhada durante
a qual ele chamou a si mesmo de ridículo, um homem adulto chorando
por uma aranha que ele havia tecido a partir do fio de seda da invenção —
é maravilhoso como essas palavras voltariam para fazê-lo
chorar, e, sim, é maravilhoso ouvir a voz de minha mãe
dez anos depois que ela morreu — o engasgo, a aspereza,
o esforço antes que ela pudesse nos dizer: Estou bem.
Trad.: Nelson Santander
N. do T.: 1) E.B. White foi um escritor, ensaísta e estilista literário americano, autor de vários livros populares para crianças, incluindo Stuart Little, A Teia de Charlotte e O Cisne e seu Trompete. Ele também foi editor e colaborador da revista The New Yorker e coautor do guia de estilo The Elements of Style.
2) Charlotte é a aranha protagonista do livro A Teia de Charlotte, de E.B. White. Ela se torna amiga de Wilbur, um porquinho que está em perigo de ser abatido pelo fazendeiro. Para salvá-lo, ela tece palavras e frases elogiosas a Wilbur em sua teia, para convencer o fazendeiro a deixá-lo viver. Ela também ajuda Wilbur a se tornar famoso e respeitado pelos outros animais.
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Wondrous
I’m driving home from school when the radio talk
turns to E.B. White, his birthday, and I exit
the here and now of the freeway at rush hour,
travel back into the past, where my mother is reading
to my sister and me the part about Charlotte laying her eggs
and dying, and though this is the fifth time Charlotte
has died, my mother is crying again, and we’re laughing
at her because we know nothing of loss and its sad math,
how every subtraction is exponential, how each grief
multiplies the one preceding it, how the author tried
seventeen times to record the words She died alone
without crying, seventeen takes and a short walk during
which he called himself ridiculous, a grown man crying
for a spider he’d spun out of the silk thread of invention —
wondrous how those words would come back and make
him cry, and, yes, wondrous to hear my mother’s voice
ten years after the day she died — the catch, the rasp,
the gathering up before she could say to us, I’m OK.