Merrit Malloy – Epitáfio

Quando eu morrer
Doa o que restar de mim
Às crianças
E aos idosos que esperam para morrer.

E se precisares chorar,
Chora por teu irmão
Que caminha pela rua ao teu lado.
E quando precisares de mim,
Põe teus braços
Em volta de alguém
E dá-lhe o que tens a me oferecer.

Quero deixar-te algo,
Algo melhor
Que palavras
Ou sons.

Busca por mim
Nas pessoas que conheci
Ou amei,
E se não puderes me doar
Ao menos deixa-me viver em teus olhos
E não em teus pensamentos.

Podes me amar mais
Permitindo que as mãos
Toquem as mãos,
Que os corpos toquem os corpos,
E deixando ir
As crianças
Que precisam ser livres.

O amor não morre,
As pessoas sim.
Portanto, quando tudo que restar de mim
For amor,
Doa-me.

Trad.: Nelson Santander

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Epitaph

When I die
Give what’s left of me away
To children
And old men that wait to die.

And if you need to cry,
Cry for your brother
Walking the street beside you.
And when you need me,
Put your arms
Around anyone
And give them
What you need to give to me.

I want to leave you something,
Something better
Than words
Or sounds.

Look for me
In the people I’ve known
Or loved,
And if you cannot give me away,
At least let me live on in your eyes
And not your mind.

You can love me most
By letting
Hands touch hands,
By letting bodies touch bodies,
And by letting go
Of children
That need to be free.

Love doesn’t die,
People do.
So, when all that’s left of me
Is love,
Give me away.

José Emílio Pacheco – Crianças e adultos

Aos dez anos, acreditava
que o mundo era dos adultos.
Podiam fazer amor, fumar, beber à vontade,
ir aonde quisessem.
Sobretudo, nos esmagar com seu poder indomável.

Agora sei, por vasta experiência, o lugar-comum:
em verdade, não há adultos,
apenas crianças envelhecidas.

Desejam o que não têm:
o brinquedo do outro.
Sentem medo de tudo.
Obedecem sempre a alguém.
Não governam a própria existência.
Choram por qualquer motivo.

Mas não são valentes como eram aos dez anos:
fazem-no à noite e em silêncio e sozinhos.

Trad.: Nelson Santander

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Niños y adultos

A los diez años creía
que la tierra era de los adultos.
Podían hacer el amor, fumar, beber a su antojo,
ir a donde quisieran.
Sobre todo, aplastarnos con su poder indomable.

Ahora sé por larga experiencia el lugar común:
en realidad no hay adultos,
sólo niños envejecidos.

Quieren lo que no tienen:
el juguete del otro.
Sienten miedo de todo.
Obedecen siempre a alguien.
No disponen de su existencia.
Lloran por cualquier cosa.

Pero no son valientes como lo fueron a los diez años:
lo hacen de noche y en silencio y a solas.