Josep M. Rodríguez – Primeira Visita ao Zoológico

Tinha doze anos e a minha mãe
me presenteava com um mundo só para mim:

– Se a tristeza fosse um animal?

– Se a tristeza fosse um animal…
seria um besouro.

E dizia-lhe então que havia dias
em que esse besouro fabricava
uma bola muito grande na minha garganta.

Os olhos da minha mãe eram de coruja.
Pareciam entender-me sem falar.

– E como te imaginas sendo mais velho?

Não sei o que respondi,
tinha doze anos:

ainda não compreendia que crescer
era ir ao zoológico
e só ver grades.

Trad.: Nelson Santander


Josep M. Rodríguez – Primera Visita al Zoo

Tenía doce años y mi madre
me regalaba un mundo para mí:

‒¿Si la tristeza fuese un animal?

‒Si la tristeza fuese un animal…
pues un escarabajo.

Y entonces le contaba que había días
en que ese escarabajo fabricaba
una bola muy grande en mi garganta.

Los ojos de mi madre eran de búho.
Parecía entenderme sin hablar.

‒¿Y cómo te imaginas ser mayor?

No sé qué respondí,
tenía doce años:

aún no comprendía que crecer
es ir al zoo
y sólo ver barrotes.

Joaquín Benito de Lucas – Elegia

Quando agora retorno
à minha cidade, não posso conter
a emoção de saber que não me esperam.
Não me espera meu pai, que desceu rio abaixo
muito lentamente entre os juncos, sob pontes de névoa.
Não me espera meu irmão,
que me esperava sempre ao lado de um balcão
qualquer, em uma rua qualquer
brindando ao meu último
livro ou por sua desgraça
ou por outro motivo interessante.
Nem me espera
o outro irmão que acabou de partir,
deixando-me à sombra
de seus sapatos e roupas,
que escovo e passo a ferro
e provo e volto a provar
sem saber o que me sobra ou o que me falta

Trad.: Nelson Santander


Joaquín Benito de Lucas – Elegía

Cuando regreso ahora
a mi ciudad, no puedo contener
la emoción de saber que no me esperan.
No me espera mi padre, que se marchó río abajo
muy despacio entre juncos, bajo puentes de niebla. 

No me espera mi hermano,
que me esperaba siempre al pie de un mostrador
cualquiera, en cualquier calle
brindando por mi último
libro o por su desgracia
o por otro motivo interesante.
Ni tampoco me espera
el otro hermano que recién se ha ido,
dejándome la sombra
de sus zapatos y sus trajes,
que cepillo y que plancho
y me pruebo y me pruebo
sin saber qué me sobra o qué me falta.


Rosario Castellanos – Destino

Matamos o que amamos. O resto
nunca esteve vivo.
Ninguém está tão perto. A nenhum outro fere
um esquecimento, uma ausência, às vezes menos.
Matamos o que amamos. Que cesse esta asfixia
de respirar por um pulmão distante!
O ar não é suficiente
para os dois. E não basta a terra
para os corpos juntos
e a ração de esperança é pouca
e a dor não se pode dividir.

O homem é um animal de solidões,
cervo com uma flecha no flanco
que foge e se dessangra.

Ah, porém o ódio, sua fixação insone
de pupilas de vidro; sua atitude
que alterna entre repouso e ameaça.

O cervo vai beber e na água aparece
o reflexo do tigre.

O cervo bebe a água e a imagem. Torna-se
– antes que o devorem – (cúmplice, fascinado)
igual ao seu inimigo.

Damos a vida apenas ao que odiamos.

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