Rosanna Warren – Lago

Você estava com água até as coxas e a luz verde refletia
nas cavidades dos seus quadris e no estômago, que é onde a chama piloto
ardia nas antigas estátuas de Dionísio,
e por um momento, enquanto você caminhava mais em direção ao fundo, parecia que
aquela água poderia lavar o peso
de suas próprias estações e de doenças que não eram as suas: era uma carícia
fria e infiel, que envolvia sua cintura,
que a tomava em seus braços e você a ela se entregava, um pouco,
só um pouco, sabendo com que rapidez e leveza aquele toque seria retirado,
e quão rapidamente você estaria de pé novamente sobre a teia de raízes da margem, secando, restaurada
aos pesos e medidas, pulsos, dores e cicatrizes que você conhece bem,
ombro debilitado, câimbras nos tendões do tornozelo, joelhos ruins, sonhos ruins
que você reconheceria no escuro, em qualquer lugar, como seus;
e você também sabia que aqueles que você não podia curar permaneceriam sem cura
embora você os alcançasse, os beijasse na testa, e eles olhassem de volta para fora da deriva;
e sabia que as montanhas continuariam seu lento e degradante deslocamento para o mar
até que as placas continentais se movimentassem em seu sono, e todo este lago fosse engolido
pelos estertores da terra, pelo bocejo do oceano.

Trad.: Nelson Santander

Lake

You stood thigh-deep in water and green light glanced
off your hip hollows and stomach which is where the pilot light
flickers in ancient statues of Dionysus,
and for a moment as you strode deeper it seemed as if
this water might rinse away the heaviness
of your own seasons and of illnesses not your own: it was a caress
cool and faithless, it lapped against your waist,
it took you in its arms and you gave yourself, a little,
only a little, knowing how soon and how lightly that touch would be withdrawn,
how soon you would be standing again on the rootwebbed shore, drying, restored
to the weights and measures, pulses, aches and scars you know by heart,
the cranky shoulder, cramping heel tendons, bad knees, bad dreams
you would recognize in the dark, anywhere, as your own;
and you knew, too, how those you cannot heal would remain unhealed
though you reach for them, kiss them on the forehead, and they stare back out of the drift;
and you knew the mountains would continue their slow, degrading shuffle to the sea
until continental plates shifted in their sleep, and this whole lake was swallowed
in earth’s gasp, ocean’s yawn.

Rosanna Warren – Comparação

Como quando seu amigo, excelente esquiador austríaco, na história
que ela sempre nos contava, teve que encarar
seu primeiro salto olímpico de esqui e, da
rampa de largada sobre o desfiladeiro que mergulhava
tão vertiginosamente que sua borda inferior
desaparecia de vista, olhou
para um horizonte de Alpes que nadava e balançava ao seu redor
como barcos de brinquedo em uma banheira, e ele não conseguiu,
apesar de toda sua determinação férrea,
treinamento e coragem,
desaferrar seus dedos da grade do portão de largada, de modo que
seus companheiros de equipe tiveram que se juntar para soltar
suas mãos, dedo por dedo,
a fim de libertá-lo, também

diante da morte minha
mãe agarrou as grades da cama, mas mesmo assim
olhava fixamente para a frente — e
quem foi, finalmente,
que desprendeu
suas mãos?

Trad.: Nelson Santander

Simile

As when her friend the crack Austrian skier, in the story
she often told us, had to face
his first Olympic ski jump and, from
the starting ramp over the chute that plunged
so vertiginously its bottom lip
disappeared from view, gazed
on a horizon of Alps that swam and dandled around him
like toy boats in a bathtub, and he could not
for all his iron determination,
training, and courage
ungrip his fingers from the railings of the starting gate, so that
his teammates had to join in prying
up, finger by finger, his hands
to free him, so

facing death, my
mother gripped the bed rails but still
stared straight ahead—and
who was it, finally,
who loosened
her hands?