Czeslaw Milosz – A queda

A morte de um homem é como a queda de uma poderosa nação
Que teve valentes exércitos, capitães e profetas,
E ricos portos e barcos em todos os mares,
Mas agora não socorrerá nenhuma cidade sitiada,
Não entrará em nenhuma aliança,

Porque suas cidades estão vazias, sua população dispersa,
Sua terra que certa vez proveu de colheitas está saturada de cardos,
Sua missão olvidada, sua língua perdida,
O dialeto de um povo posto sobre inacessíveis montanhas.

Trad.: Pedro Gonzaga

REPUBLICAÇÃO: poema publicado na página originalmente em 07/07/2019

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Upadek

Śmierć człowieka jest jak upadek państwa potężnego,
Które miało bitne armie, wodzów i proroków,
I porty bogate, i na wszystkich morzach okręty,
A teraz nie przyjdzie nikomu z pomocą, z nikim nie zawrze przymierzy,

Bo miasta jego puste, ludność w rozproszeniu,
Oset porósł jego ziemie kiedyś dającą urodzaj,
Jego powołanie zapomniane, język utracony,
Dialekt wioski gdzieś daleko w niedostępnych górach.

Czesław Miłosz – Uma descrição honesta de mim mesmo com um copo de whisky num aeroporto, digamos, em Minneapolis

Meus ouvidos captam cada vez menos as conversas, meus olhos vêm se tornando fracos, embora sigam insaciáveis.

Vejo suas pernas em minissaias, em calças compridas, em tecidos ondulantes,

Observo uma a uma, separadamente, suas bundas e coxas, acalentado por sonhos pornô.

Velho depravado, é chegada a hora da cova, não dos jogos e folguedos da juventude.

Mas eu faço o que sempre fiz: componho cenas dessa terra sob as ordens da imaginação erótica.

Não é que eu deseje estas criaturas em particular, desejo tudo, e elas são como um signo de uma união extática.

Não é minha culpa se somos feitos assim, metade contemplação desinteressada, metade apetite.

Se um dia eu puder subir aos Céus, lá haverá de ser como aqui, exceto por estar eu desfeito de meus sentidos embotados e do peso de meus ossos.

Transformado em puro olhar, absorverei, como antes, as proporções dos corpos humanos, as cores das irises, uma rua parisiense na alvorada de junho, e toda a inconcebível, a inconcebível multiplicidade das coisas visíveis.

Trad.: Pedro Gonzaga

REPUBLICAÇÃO: poema publicado na página originalmente em 09/06/2019

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Uczciwe opisanie samego siebie nad szklanką whisky na lotnisku, dajmy na to w Minneapolis

Moje uszy coraz mniej słyszą z rozmów, moje oczy słabną, ale dalej są nienasycone.

Widzę ich nogi w minispódniczkach, spodniach albo w powiewnych tkaninach,

Każdą podglądam osobno, ich tyłki i uda, zamyślony, kołysany marzeniami porno.

Stary lubieżny dziadu, pora tobie do grobu, nie na gry i zabawy młodości.

Nieprawda, robię to tylko, co zawsze robiłem, układając sceny tej ziemi z rozkazu erotycznej wyobraźni.

Nie pożądam tych właśnie stworzeń, pożądam wszystkiego, a one są jak znak ekstatycznego obcowania.

Nie moja wina, że jesteśmy tak ulepieni, w połowie z bezinteresownej kontemplacji, i w połowie z apetytu.

Jeżeli po śmierci dostanę się do Nieba, musi tam być jak tutaj, tyle że pozbędę się tępych zmysłów i ociężałych kości.

Zmieniony w samo patrzenie, będę dalej pochłaniał proporcje ludzkiego ciała, kolor irysów, paryską ulicę w czerwcu o świcie, całą niepojętą, niepojętą mnogość widzianych rzeczy.

Nicolás Guillén – Um poema de amor

Não sei. Ignoro-o.
Desconheço todo o tempo que andei
sem encontrá-la novamente.
Quem sabe um século? Talvez.
Talvez um pouco menos: noventa e nove anos.
Ou um mês. Poderia ser. De qualquer forma
um tempo enorme, enorme, enorme.
Ao fim como uma rosa súbita,
repentina campânula tremendo,
a notícia.
Saber de pronto
que ia voltar a vê-lá, que a teria
perto, tangível, real, como nos sonhos.
Que troar surdo
Rodando-me nas veias,
estalando lá em cima
sob meu sangue, em uma
noturna tempestade!
E o achado, em seguida? E a maneira
como ninguém compreenderia
que essa é nossa própria maneira?
Um roçar apenas, um contato elétrico,
um apertão conspiratório, uma olhada,
um palpitar do coração
gritando, ululando com silenciosa voz.
Depois
(já o sabeis desde os quinze anos)
esse ruflar das palavras presas,
palavras de olhos baixos,
penitenciais,
entre testemunhas inimigas,
ainda
um amor de “o amo”
de “você”, de “bem gostaria,
mas é impossível…” De “não podemos,
não, você deve pensar melhor…”
É um amor assim,
é um amor de abismo na primavera,
cortês, cordial, feliz, fatal.
A despedida, logo,
genérica,
no turbilhão dos amigos.
Vê-la partir e amá-la como nunca;
e já sem olhos seguir a vê-la ao longe,
lá longe, e ainda segui-lá
ainda mais longe,
feita de noite,
de mordida, beijo, insônia,
veneno, êxtase, convulsão,
suspiro, sangue, morte…
Feita
dessa substância conhecida
com que amassamos uma estrela.

Trad.: Pedro Gonzaga

REPUBLICAÇÃO: poema publicado na página originalmente em 06/06/2019

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Un poema de amor

No sé. Lo ignoro.
Desconozco todo el tiempo que anduve
sin encontrarla nuevamente.
¿Tal vez un siglo? Acaso.
Acaso un poco menos: noventa y nueve años.
¿O un mes? Pudiera ser. En cualquier forma,
un tiempo enorme, enorme, enorme.

Al fin, como una rosa súbita,
repentina campánula temblando,
la noticia.
Saber de pronto
que iba a verla otra vez, que la tendría
cerca, tangible, real, como en los sueños.
¡Qué explosión contenida!
¡Qué trueno sordo
rodándome en las venas,
estallando allá arriba
bajo mi sangre, en una
nocturna tempestad!
¿Y el hallazgo, en seguida? ¿Y la manera
de saludarnos, de manera
que nadie comprendiera
que ésa es nuestra propia manera?
Un roce apenas, un contacto eléctrico,
un apretón conspirativo, una mirada,
un palpitar del corazón
gritando, aullando con silenciosa voz.

Después
(ya lo sabéis desde los quince años)
ese aletear de las palabras presas,
palabras de ojos bajos,
penitenciales,
entre testigos enemigos.
Todavía
un amor de «lo amo»,
de «usted», de «bien quisiera,
pero es imposible»… De «no podemos,
no, piénselo usted mejor»…
Es un amor así,
es un amor de abismo en primavera,
cortés, cordial, feliz, fatal.
La despedida, luego,
genérica,,
en el turbión de los amigos.
Verla partir y amarla como nunca;
seguirla con los ojos,
y ya sin ojos seguir viéndola lejos,
allá lejos, y aun seguirla
más lejos todavía,
hecha de noche,
de mordedura, beso, insomnio,
veneno, éxtasis, convulsión,
suspiro, sangre, muerte…
Hecha
de esa sustancia conocida
con que amasamos una estrella.

Konstantinos Kaváfis – Velas

Os dias futuros se erguem diante de nós
como uma fileira de velas acesas –
douradas, vivazes, cálidas velas.

Os dias do passado ficaram tão para trás,
fúnebre fileira consumida
onde as mais próximas ainda fumam,
velas frias, retorcidas e desfeitas.

Não quero vê-las; seu aspecto me aflige,
me aflige recordar sua luz primeira.
Vejo diante de mim as velas acesas.

Não quero me voltar, e estremecer ao contemplar
que rapidamente aumenta a fileira sombria,
que rapidamente cresce com suas velas já consumidas.

Trad.: Pedro Gonzaga

REPUBLICAÇÃO: poema publicado na página originalmente em 01/06/2019

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Nâzim Hikmet – O último ônibus

Meia-noite. O último ônibus.
O condutor rasga os bilhetes.
Não me esperam em casa nem uma má notícia
nem a fartura da bebida.
Para mim, é a partida que espera.
Caminho em direção a ela sem medo
ou tristeza.

A escuridão imensa se aproxima de mim.
Posso olhar para o mundo
calma e serenamente, agora.
Já não me surpreende a traição de um amigo,
a faca estocada num aperto de mão.
É tudo em vão, o inimigo já não pode mais me provocar.
Cruzei a floresta dos ídolos
usando meu machado
de que maneira fácil todos desabaram.
Testei as coisas em que acredito, uma vez mais,
boa parte delas se revelou em sua pureza, pelo que sou grato.
Jamais foi meu fulgor tão brilhante,
nunca fui tão livre.

A escuridão imensa se aproxima de mim.
Posso olhar para o mundo
calma e serenamente, agora.
Ergo a cabeça de meu trabalho e olho em volta,
de súbito emerge do passado
uma palavra
um cheiro
um aceno de mão.

A palavra é amiga,
o cheiro maravilhoso,
quem me acena a mão é meu amor.
O que a memória evoca já não me deixa triste.
Não reclamo das memórias.
Não reclamo de nada, de fato,
nem sequer de meu coração
doendo sem parar como um dente gigantesco.

A escuridão imensa se aproxima de mim.
Agora nem o orgulho do ministro nem a conversa fiada do sacristão.
Despejo taças de luz sobre a minha cabeça,
Posso olhar para o sol sem que meus olhos se deslumbrem.
E talvez, que pena,
a mentira mais astuta
já não possa me enganar.
As palavras perderam o poder de me embriagar,
nem as dos outros, nem as minhas próprias.

Assim são as coisas, minha rosa,
terrivelmente a morte se aproxima de mim.
O mundo, mais belo do que nunca, o mundo.
O mundo era minha roupa de baixo, minhas vestes,
Comecei a me despir.
Eu era a janela de um trem,
agora sou a estação.
Eu era a parte interna da casa,
agora sou sua porta aberta.
Amo em dobro os convidados.
E o calor está mais amarelo do que nunca
a neve mais pura do que jamais foi.

Trad.: Pedro Gonzaga

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Son Otobüs

Gece yarısı.Son otobüs.
Biletçi kesti bileti.
beni ne bir kara haber bekliyor evde,
ne rakı ziyafeti.
Beni ayrılık bekliyor.
Yürüyorum ayrılığa korkusuz ve kedersiz.

İyice yaklaştı bana büyük karanlık.
Dünyayı telaşsız, rahat seyredebiliyorum artık
Artık şaşırtmıyor beni dostun kahpeliği,
elimi sıkarken sapladığı bıçak.
Nafile, artık kışkırtamıyor beni düşman.
Geçtim putların ormanından baltalayarak
nede kolay yıkılıyorlardı.
Yeniden vurdum mihenge inandığım şeyleri,
çoğu katkısız çıktı çok şükür.
Ne böylesine pırıl pırıl olmuşluğum vardı,
ne böylesine hür.

İyice yaklaştı bana büyük karanlık.
Dünyayı telaşsız, rahat seyredebiliyorum artık.
Bakınıyorum başımı kaldırıp işten,
karşıma çıkıveriyor geçmişten
bir söz
bir konu
bir el işareti.

Söz dostça
koku güzel,
el eden sevgilim.
Kederlendirmiyor artık beni hatıraların daveti
hatıralardan şikayetçi değilim.
Hiçbir şeyden şikayetim yok zaten,
yüreğimin durup dinlenmeden
kocaman bir diş gibi ağrımasından bile.

İyice yaklaştı bana büyük karanlık.
Artık ne kibri nazırın, ne katibin şakşağı.
Tas tas ışık döküyorum başımdan aşağı,
güneşe bakabiliyorum gözüm kamaşmadan.
Ve belki, ne yazık,
hatta en güzel yalan
beni kandıramıyor artık.
Artık söz sarhoş edemiyor beni,
ne başkasının ki, nede kendiminki.

İşte böyle gülüm,
iyice yaklaştı bana ölüm.
Dünya, her zamankinden güzel, dünya.
Dünya, iç çamaşırlarım, elbisemdi,
başladım soyunmağa.
Bir tren penceresiydim,
bir istasyonum şimdi.
Evin içerisiydim,
şimdi kapısıyım kilitsiz.
Bir kat daha seviyorum konukları.
Ve sıcak her zamankisinden sarı,
kar her zamankinden temiz.

Czeslaw Milosz – A queda

A morte de um homem é como a queda de uma poderosa nação
Que teve valentes exércitos, capitães e profetas,
E ricos portos e barcos em todos os mares,
Mas agora não socorrerá nenhuma cidade sitiada,
Não entrará em nenhuma aliança,

Porque suas cidades estão vazias, sua população dispersa,
Sua terra que certa vez proveu de colheitas está saturada de cardos,
Sua missão olvidada, sua língua perdida,
O dialeto de um povo posto sobre inacessíveis montanhas.

Trad.: Pedro Gonzaga

Upadek

Śmierć człowieka jest jak upadek państwa potężnego,
Które miało bitne armie, wodzów i proroków,
I porty bogate, i na wszystkich morzach okręty,
A teraz nie przyjdzie nikomu z pomocą, z nikim nie zawrze przymierzy,

Bo miasta jego puste, ludność w rozproszeniu,
Oset porósł jego ziemie kiedyś dającą urodzaj,
Jego powołanie zapomniane, język utracony,
Dialekt wioski gdzieś daleko w niedostępnych górach.

Czesław Miłosz – Uma descrição honesta de mim mesmo com um copo de whisky num aeroporto, digamos, em Minneapolis

Meus ouvidos captam cada vez menos as conversas, meus olhos vêm se tornando fracos, embora sigam insaciáveis.

Vejo suas pernas em minissaias, em calças compridas, em tecidos ondulantes,

Observo uma a uma, separadamente, suas bundas e coxas, acalentado por sonhos pornô.

Velho depravado, é chegada a hora da cova, não dos jogos e folguedos da juventude.

Mas eu faço o que sempre fiz: componho cenas dessa terra sob as ordens da imaginação erótica.

Não é que eu deseje estas criaturas em particular, desejo tudo, e elas são como um signo de uma união extática.

Não é minha culpa se somos feitos assim, metade contemplação desinteressada, metade apetite.

Se um dia eu puder subir aos Céus, lá haverá de ser como aqui, exceto por estar eu desfeito de meus sentidos embotados e do peso de meus ossos.

Transformado em puro olhar, absorverei, como antes, as proporções dos corpos humanos, as cores das irises, uma rua parisiense na alvorada de junho, e toda a inconcebível, a inconcebível multiplicidade das coisas visíveis.

Trad.: Pedro Gonzaga

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Uczciwe opisanie samego siebie nad szklanką whisky na lotnisku, dajmy na to w Minneapolis

Moje uszy coraz mniej słyszą z rozmów, moje oczy słabną, ale dalej są nienasycone.

Widzę ich nogi w minispódniczkach, spodniach albo w powiewnych tkaninach,

Każdą podglądam osobno, ich tyłki i uda, zamyślony, kołysany marzeniami porno.

Stary lubieżny dziadu, pora tobie do grobu, nie na gry i zabawy młodości.

Nieprawda, robię to tylko, co zawsze robiłem, układając sceny tej ziemi z rozkazu erotycznej wyobraźni.

Nie pożądam tych właśnie stworzeń, pożądam wszystkiego, a one są jak znak ekstatycznego obcowania.

Nie moja wina, że jesteśmy tak ulepieni, w połowie z bezinteresownej kontemplacji, i w połowie z apetytu.

Jeżeli po śmierci dostanę się do Nieba, musi tam być jak tutaj, tyle że pozbędę się tępych zmysłów i ociężałych kości.

Zmieniony w samo patrzenie, będę dalej pochłaniał proporcje ludzkiego ciała, kolor irysów, paryską ulicę w czerwcu o świcie, całą niepojętą, niepojętą mnogość widzianych rzeczy.

Nicolás Guillén – Um poema de amor

Não sei. Ignoro-o.
Desconheço todo o tempo que andei
sem encontrá-la novamente.
Quem sabe um século? Talvez.
Talvez um pouco menos: noventa e nove anos.
Ou um mês. Poderia ser. De qualquer forma
um tempo enorme, enorme, enorme.
Ao fim como uma rosa súbita,
repentina campânula tremendo,
a notícia.
Saber de pronto
que ia voltar a vê-lá, que a teria
perto, tangível, real, como nos sonhos.
Que troar surdo
Rodando-me nas veias,
estalando lá em cima
sob meu sangue, em uma
noturna tempestade!
E o achado, em seguida? E a maneira
como ninguém compreenderia
que essa é nossa própria maneira?
Um roçar apenas, um contato elétrico,
um apertão conspiratório, uma olhada,
um palpitar do coração
gritando, ululando com silenciosa voz.
Depois
(já o sabeis desde os quinze anos)
esse ruflar das palavras presas,
palavras de olhos baixos,
penitenciais,
entre testemunhas inimigas,
ainda
um amor de “o amo”
de “você”, de “bem gostaria,
mas é impossível…” De “não podemos,
não, você deve pensar melhor…”
É um amor assim,
é um amor de abismo na primavera,
cortês, cordial, feliz, fatal.
A despedida, logo,
genérica,
no turbilhão dos amigos.
Vê-la partir e amá-la como nunca;
e já sem olhos seguir a vê-la ao longe,
lá longe, e ainda segui-lá
ainda mais longe,
feita de noite,
de mordida, beijo, insônia,
veneno, êxtase, convulsão,
suspiro, sangue, morte…
Feita
dessa substância conhecida
com que amassamos uma estrela.

Trad.: Pedro Gonzaga

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Un poema de amor

No sé. Lo ignoro.
Desconozco todo el tiempo que anduve
sin encontrarla nuevamente.
¿Tal vez un siglo? Acaso.
Acaso un poco menos: noventa y nueve años.
¿O un mes? Pudiera ser. En cualquier forma,
un tiempo enorme, enorme, enorme.

Al fin, como una rosa súbita,
repentina campánula temblando,
la noticia.
Saber de pronto
que iba a verla otra vez, que la tendría
cerca, tangible, real, como en los sueños.
¡Qué explosión contenida!
¡Qué trueno sordo
rodándome en las venas,
estallando allá arriba
bajo mi sangre, en una
nocturna tempestad!
¿Y el hallazgo, en seguida? ¿Y la manera
de saludarnos, de manera
que nadie comprendiera
que ésa es nuestra propia manera?
Un roce apenas, un contacto eléctrico,
un apretón conspirativo, una mirada,
un palpitar del corazón
gritando, aullando con silenciosa voz.

Después
(ya lo sabéis desde los quince años)
ese aletear de las palabras presas,
palabras de ojos bajos,
penitenciales,
entre testigos enemigos.
Todavía
un amor de «lo amo»,
de «usted», de «bien quisiera,
pero es imposible»… De «no podemos,
no, piénselo usted mejor»…
Es un amor así,
es un amor de abismo en primavera,
cortés, cordial, feliz, fatal.
La despedida, luego,
genérica,,
en el turbión de los amigos.
Verla partir y amarla como nunca;
seguirla con los ojos,
y ya sin ojos seguir viéndola lejos,
allá lejos, y aun seguirla
más lejos todavía,
hecha de noche,
de mordedura, beso, insomnio,
veneno, éxtasis, convulsión,
suspiro, sangre, muerte…
Hecha
de esa sustancia conocida
con que amasamos una estrella.

Konstantinos Kaváfis – Velas

Os dias futuros se erguem diante de nós
como uma fileira de velas acesas –
douradas, vivazes, cálidas velas.

Os dias do passado ficaram tão para trás,
fúnebre fileira consumida
onde as mais próximas ainda fumam,
velas frias, retorcidas e desfeitas.

Não quero vê-las; seu aspecto me aflige,
me aflige recordar sua luz primeira.
Vejo diante de mim as velas acesas.

Não quero me voltar, e estremecer ao contemplar
que rapidamente aumenta a fileira sombria,
que rapidamente cresce com suas velas já consumidas.

Trad.: Pedro Gonzaga

Nâzim Hikmet – O último ônibus

Meia-noite. O último ônibus.
O condutor rasga os bilhetes.
Não me esperam em casa nem uma má notícia
nem a fartura da bebida.
Para mim, é a partida que espera.
Caminho em direção a ela sem medo
ou tristeza.

A escuridão imensa se aproxima de mim.
Posso olhar para o mundo
calma e serenamente, agora.
Já não me surpreende a traição de um amigo,
a faca estocada num aperto de mão.
É tudo em vão, o inimigo já não pode mais me provocar.
Cruzei a floresta dos ídolos
usando meu machado
de que maneira fácil todos desabaram.
Testei as coisas em que acredito, uma vez mais,
boa parte delas se revelou em sua pureza, pelo que sou grato.
Jamais foi meu fulgor tão brilhante,
nunca fui tão livre.

A escuridão imensa se aproxima de mim.
Posso olhar para o mundo
calma e serenamente, agora.
Ergo a cabeça de meu trabalho e olho em volta,
de súbito emerge do passado
uma palavra
um cheiro
um aceno de mão.

A palavra é amiga,
o cheiro maravilhoso,
quem me acena a mão é meu amor.
O que a memória evoca já não me deixa triste.
Não reclamo das memórias.
Não reclamo de nada, de fato,
nem sequer de meu coração
doendo sem parar como um dente gigantesco.

A escuridão imensa se aproxima de mim.
Agora nem o orgulho do ministro nem a conversa fiada do sacristão.
Despejo taças de luz sobre a minha cabeça,
Posso olhar para o sol sem que meus olhos se deslumbrem.
E talvez, que pena,
a mentira mais astuta
já não possa me enganar.
As palavras perderam o poder de me embriagar,
nem as dos outros, nem as minhas próprias.

Assim são as coisas, minha rosa,
terrivelmente a morte se aproxima de mim.
O mundo, mais belo do que nunca, o mundo.
O mundo era minha roupa de baixo, minhas vestes,
Comecei a me despir.
Eu era a janela de um trem,
agora sou a estação.
Eu era a parte interna da casa,
agora sou sua porta aberta.
Amo em dobro os convidados.
E o calor está mais amarelo do que nunca
a neve mais pura do que jamais foi.

Trad.: Pedro Gonzaga

Son Otobüs

Gece yarısı.Son otobüs.
Biletçi kesti bileti.
beni ne bir kara haber bekliyor evde,
ne rakı ziyafeti.
Beni ayrılık bekliyor.
Yürüyorum ayrılığa korkusuz ve kedersiz.

İyice yaklaştı bana büyük karanlık.
Dünyayı telaşsız, rahat seyredebiliyorum artık
Artık şaşırtmıyor beni dostun kahpeliği,
elimi sıkarken sapladığı bıçak.
Nafile, artık kışkırtamıyor beni düşman.
Geçtim putların ormanından baltalayarak
nede kolay yıkılıyorlardı.
Yeniden vurdum mihenge inandığım şeyleri,
çoğu katkısız çıktı çok şükür.
Ne böylesine pırıl pırıl olmuşluğum vardı,
ne böylesine hür.

İyice yaklaştı bana büyük karanlık.
Dünyayı telaşsız, rahat seyredebiliyorum artık.
Bakınıyorum başımı kaldırıp işten,
karşıma çıkıveriyor geçmişten
bir söz
bir konu
bir el işareti.

Söz dostça
koku güzel,
el eden sevgilim.
Kederlendirmiyor artık beni hatıraların daveti
hatıralardan şikayetçi değilim.
Hiçbir şeyden şikayetim yok zaten,
yüreğimin durup dinlenmeden
kocaman bir diş gibi ağrımasından bile.

İyice yaklaştı bana büyük karanlık.
Artık ne kibri nazırın, ne katibin şakşağı.
Tas tas ışık döküyorum başımdan aşağı,
güneşe bakabiliyorum gözüm kamaşmadan.
Ve belki, ne yazık,
hatta en güzel yalan
beni kandıramıyor artık.
Artık söz sarhoş edemiyor beni,
ne başkasının ki, nede kendiminki.

İşte böyle gülüm,
iyice yaklaştı bana ölüm.
Dünya, her zamankinden güzel, dünya.
Dünya, iç çamaşırlarım, elbisemdi,
başladım soyunmağa.
Bir tren penceresiydim,
bir istasyonum şimdi.
Evin içerisiydim,
şimdi kapısıyım kilitsiz.
Bir kat daha seviyorum konukları.
Ve sıcak her zamankisinden sarı,
kar her zamankinden temiz.