Catulo – Vivamus, mea Lésbia, ataque amemus

Vivamos minha Lésbia, e amemos,
e as graves vozes velhas
– todas –
valham para nós menos que um vintém.
Os sóis podem morrer e renascer:
quando se apaga nosso fogo breve
dormimos uma noite infinita.
Dá-me pois mil beijos, e mais cem,
e mil, e cem, e mil, e mil e cem.
Quando somarmos muitas vezes mil
misturaremos tudo até perder a conta:
que a inveja não ponha o olho de agouro
no assombro de uma tal soma de beijos.

  Trad.: Haroldo de Campos

Horácio – Ode XI, I

não me perguntes
— é vedado saber —
o fim
que a mim
e a ti                darão os deuses
Leucônoe
nem babilônios
números consultes                                        antes
o que for        recebe
quer te atribua Júpiter muitos invernos
quer o último
que o mar tirreno debilita com abruptas
r
o
c
h
a
s
bebe o vinho              sabe a vida                 e corta
a longa esperança
enquanto falamos
foge
invejoso
o tempo:
curte o dia
desamando amanhãs

Trad.: Augusto de Campos

Petrarca – Soneto XXXII

Quanto mais perto estou do dia extremo
Que o sofrimento humano torna breve,
Mais vejo o tempo andar veloz e leve
E o que dele esperar falaz e menos.

E a mim me digo: Pouco ainda andaremos
De amor falando, até que como neve
Se dissolva este encargo que a alma teve,
Duro e pesado, e a paz então veremos:

Pois que nele cairá essa esperança
Que nos fez delirar tão longamente
E o riso, e o pranto, e o medo, e também a ira;

E veremos o quão freqüentemente
Por coisas dúbias o ânimo se cansa
E que não raro é em vão que se suspira.

Trad.: Renato Suttana