Bob Hicok – Experiência não mediada

Ela faz isso. Nossa cachorra
de dezessete anos. Quase surda.
Quase morta, estatisticamente
falando. Quando me abaixo.
Quando ponho a boca no ouvido dela
e grito seu nome. Ela se afasta,
caminhando rumo ao nada da fala.
Chega a trotar pela estrada, orelhas em pé,
como se ouvisse minha voz chegando em casa.
É como ver uma criança
que acredita no natal, bem
antes de você queimar a árvore.
Toda vez que faço isso, penso: desta vez
ela vai se virar para mim. Desta vez
ela vai associar a voz ao rosto. Desta vez,
serei absolvido da decadência.
O que é como ser uma criança
que acredita no natal
enquanto a árvore queima, as cortinas pegam fogo,
e o Papai Noel acende um cigarro
com seu maçarico e pergunta: quer um?

Trad.: Nelson Santander

Unmediated experience

She does this thing. Our seventeen-
year-old dog. Our mostly deaf dog.
Our mostly dead dog, statistically
speaking. When I crouch.
When I put my mouth to her ear
and shout her name. She walks away.
Walks toward the nothing of speech.
She even trots down the drive, ears up,
as if my voice is coming home.
It’s like watching a child
believe in Christmas, right
before you burn the tree down.
Every time I do it, I think, this time
she’ll turn to me. This time
she’ll put voice to face. This time,
I’ll be absolved of decay.
Which is like being a child
who believes in Christmas
as the tree burns, as the drapes catch,
as Santa lights a smoke
with his blowtorch and asks, want one?

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