Mary Oliver – Prece

Não precisa ser
a íris azul, pode ser
a erva daninha em um terreno baldio, ou algumas
pedras pequenas; apenas
preste atenção, então junte

algumas palavras e não tente
torná-las rebuscadas, isso não é
uma competição mas uma porta

que leva à gratidão, e a um silêncio onde
outra voz pode falar.

Trad.: Nelson Santander

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Praying

It doesn’t have to be
the blue iris, it could be
weeds in a vacant lot, or a few
small stones; just
pay attention, then patch

a few words together and don’t try
to make them elaborate, this isn’t
a contest but the doorway

into thanks, and a silence in which
another voice may speak.

Mary Oliver – Nos bosques de Blackwater

Veja, as árvores
estão transformando
seus próprios corpos
em pilares

de luz,
exalando a rica
fragrância de canela
e completude,

as longas velas
de taboas
explodem e flutuam sobre
as orlas azuis

das lagoas,
e cada lagoa,
não importa seu
nome, nome

não tem agora.
A cada ano
tudo o que já
aprendi

em minha vida
me leva de volta a isto: os incêndios
e o rio negro da perda
cuja outra margem

é a salvação,
e cujo significado
nenhum de nós jamais saberá.
Para viver neste mundo

você deve ser capaz
de fazer três coisas:
amar o que é mortal;
cingi-lo

no peito, sabendo
que sua própria vida depende disso;
e, quando chegar a hora de deixa-lo ir,
deixa-lo ir.

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO: poema originalmente publicado na página em 19/08/2020

In Blackwater Woods

Look, the trees
are turning
their own bodies
into pillars

of light,
are giving off the rich
fragrance of cinnamon
and fulfillment,

the long tapers
of cattails
are bursting and floating away over
the blue shoulders

of the ponds,
and every pond,
no matter what its
name is, is

nameless now.
Every year
everything
I have ever learned

in my lifetime
leads back to this: the fires
and the black river of loss
whose other side

is salvation,
whose meaning
none of us will ever know.
To live in this world

you must be able
to do three things:
to love what is mortal;
to hold it

against your bones knowing
your own life depends on it;
and, when the time comes to let it
go,
to let it go.

Mary Oliver – O dia de verão

Quem criou o mundo?
Quem fez o cisne e o urso-negro?
Quem fez o gafanhoto?
Digo, aquele gafanhoto –
aquele que saltou da grama,
aquele que agora come açúcar na minha mão,
aquele que move as mandíbulas para frente e para trás, não de cima para baixo –
aquele que olha ao redor com seus olhos enormes e complexos.
Agora ele ergue os pálidos antebraços e lava a cara com cuidado.
Agora ele abre as asas e levanta voo.
Eu não sei ao certo o que é uma oração.
Eu sei como prestar atenção, como me prostrar
no chão, ajoelhar-me na grama,
como ser ociosa e abençoada, como caminhar pelos campos,
que é o que tenho feito o dia todo.
Diga-me, o que mais eu deveria ter feito?
No fim, tudo não morre – e muito cedo?
Diga-me, o que você planeja fazer
Com sua única selvagem e preciosa vida?

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO: poema originalmente publicado na página em 20/05/2020

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The Summer Day

Who made the world?
Who made the swan, and the black bear?
Who made the grasshopper?
This grasshopper, I mean –
the one who has flung herself out of the grass,
the one who is eating sugar out of my hand,
who is moving her jaws back and forth instead of up and down –
who is gazing around with her enormous and complicated eyes.
Now she lifts her pale forearms and thoroughly washes her face.
Now she snaps her wings open, and floats away.
I don’t know exactly what a prayer is.
I do know how to pay attention, how to fall down
into the grass, how to kneel in the grass,
how to be idle and blessed, how to stroll through the fields
which is what I have been doing all day.
Tell me, what else should I have done?
Doesn’t everything die at last, and too soon?
Tell me, what is it you plan to do
With your one wild and precious life?

Mary Oliver – Quando a morte chegar

Quando a morte chegar
como um urso faminto no outono;
Quando a morte chegar e tirar todas as moedas brilhantes de sua bolsa

para me comprar, e fechá-la com um estalo;
quando a morte chegar
como o sarampo-varíola

quando a morte chegar
como um iceberg entre as omoplatas,

quero atravessar o portal cheia de curiosidade, perguntando:
como será essa sombria cabana?

E por isso olho para tudo como uma irmandade,
e vejo o tempo como nada além de uma ideia,
e considero a eternidade como outra possibilidade,

e penso em cada vida como uma flor, tão comum
quanto uma margarida do campo, e ainda assim tão singular,

e em cada nome como uma confortável canção entre os lábios,
que, como toda canção, tende ao silêncio,

e em cada corpo como um leão de coragem, e algo
precioso para a terra.

Quando tudo terminar, quero dizer que por toda minha vida
fui uma noiva desposada pelo assombro.
Fui o noivo, tomando o mundo em meus braços.

Quando tudo terminar, não quero me perguntar
se fiz de minha vida algo especial e verdadeiro.
Não quero me encontrar suspirando e assustada,
ou cheia de argumentos.

Não quero terminar tendo apenas passado por este mundo.

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO: poema originalmente publicado na página em 05/04/2020

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When death comes

When death comes
like the hungry bear in autumn;
when death comes and takes all the bright coins from his purse

to buy me, and snaps the purse shut;
when death comes
like the measle-pox

when death comes
like an iceberg between the shoulder blades,

I want to step through the door full of curiosity, wondering:
what is it going to be like, that cottage of darkness?

And therefore I look upon everything
as a brotherhood and a sisterhood,
and I look upon time as no more than an idea,
and I consider eternity as another possibility,

and I think of each life as a flower, as common
as a field daisy, and as singular,

and each name a comfortable music in the mouth,
tending, as all music does, toward silence,

and each body a lion of courage, and something
precious to the earth.

When it’s over, I want to say all my life
I was a bride married to amazement.
I was the bridegroom, taking the world into my arms.

When it’s over, I don’t want to wonder
if I have made of my life something particular, and real.
I don’t want to find myself sighing and frightened,
or full of argument.

I don’t want to end up simply having visited this world.

Mary Oliver – A jornada

Um dia você finalmente soube
o que precisava fazer e começou,
embora as vozes à sua volta
continuassem gritando
seus maus conselhos –
embora a casa toda
começasse a tremer
e você sentisse o velho apelo
em seus tornozelos.
“Remende minha vida!”,
cada voz clamava.
Mas você não parou.
Você sabia o que precisava fazer,
embora o vento tateasse
com seus dedos rijos
as próprias fundações,
e embora a melancolia deles
fosse terrível.
Já era tarde o bastante,
e a noite, feroz,
e a estrada estava cheia de galhos
e pedras espalhadas.
Mas pouco a pouco
ao deixar aquelas vozes para trás,
as estrelas começaram a arder
através das camadas de nuvens,
e havia uma nova voz,
que você lentamente
reconheceu como sua,
e que se manteve a seu lado
enquanto você avançava cada vez mais fundo
no mundo,
decidida a fazer
a única coisa que poderia fazer –
determinada a salvar
a única vida que poderia salvar.

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO: poema originalmente publicado na página em 30/03/2020

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The journey

One day you finally knew
what you had to do, and began,
though the voices around you
kept shouting
their bad advice –
though the whole house
began to tremble
and you felt the old tug
at your ankles.
“Mend my life!”
each voice cried.
But you didn’t stop.
You knew what you had to do,
though the wind pried
with its stiff fingers
at the very foundations,
though their melancholy
was terrible.
It was already late
enough, and a wild night,
and the road full of fallen
branches and stones.
But little by little,
as you left their voice behind,
the stars began to burn
through the sheets of clouds,
and there was a new voice
which you slowly
recognized as your own,
that kept you company
as you strode deeper and deeper
into the world,
determined to do
the only thing you could do —
determined to save
the only life that you could save.

Mary Oliver – Gansos selvagens

Você não precisa ser bom.
Você não precisa atravessar o deserto de joelhos,
por cem milhas, em penitência.
Você só precisa deixar o suave animal do seu corpo
amar o que ele ama.
Fale-me sobre o desespero, o seu, e eu lhe direi o meu.
Enquanto isso, o mundo continua.
Enquanto isso, o sol e os translúcidos seixos da chuva
movem-se por entre as paisagens,
sobre as pradarias e as árvores profundas,
as montanhas e os rios.
Enquanto isso, os gansos selvagens, no alto do límpido ar azul,
estão voltando para casa outra vez.
Quem quer que você seja, não importa o quão solitário esteja,
o mundo se oferta à sua imaginação,
clama por você como os gansos selvagens, ásperos e inspiradores —
incessantemente anunciando o seu lugar
na família das coisas.

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO: poema originalmente publicado na página em 28/03/2020

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Wild Geese

You do not have to be good.
You do not have to walk on your knees
for a hundred miles through the desert repenting.
You only have to let the soft animal of your body
love what it loves.
Tell me about despair, yours, and I will tell you mine.
Meanwhile the world goes on.
Meanwhile the sun and the clear pebbles of the rain
are moving across the landscapes,
over the prairies and the deep trees,
the mountains and the rivers.
Meanwhile the wild geese, high in the clean blue air,
are heading home again.
Whoever you are, no matter how lonely,
the world offers itself to your imagination,
calls to you like the wild geese, harsh and exciting –
over and over announcing your place
in the family of things.

Mary Oliver – Hospital Universitário de Boston

As árvores no gramado do hospital
são frondosas e exuberantes. Elas também
recebem os melhores cuidados,
como você e os muitos anônimos,
nos quartos limpos acima desta cidade,
onde dia e noite os médicos continuam
chegando, onde máquinas intrincadas
registram com fria devoção
o sussurro do sangue,
o lento remendar dos ossos,
o desespero da mente.
Quando venho visitá-lo e saímos
à luz de um dia de verão,
sentamos sob as árvores —
castanheiras-da-índia, um sicômoro e uma
nogueira-preta que se inclina
sobre uma sebe de lilases,
tão antigas quanto o prédio de tijolos vermelhos
atrás delas, o hospital
original, construído antes da Guerra Civil.
Sentamos juntos no gramado, de mãos dadas,
enquanto você me diz que está melhor.
Quantos jovens, me pergunto,
vieram para cá, transportados em macas dos trens vagarosos
vindos dos rubros e horrendos campos de batalha
para passar deitados o verão inteiro nos quartos pequenos e abafados
enquanto os médicos faziam o que podiam, ansiando
por equipamentos ainda não imaginados, medicamentos ainda não descobertos,
saberes sequer pensados, e quantos morreram
olhando para as folhas das árvores, alheios
ao terrível esforço ao redor deles para mantê-los vivos?
Eu olho em seus olhos
que às vezes são verdes e às vezes cinzas,
e às vezes cheios de humores, mas muitas vezes não,
e digo a mim mesma que você está melhor,
porque minha vida sem você seria
um lugar de árvores ressequidas e despedaçadas.
Mais tarde, caminhando pelos corredores em direção à rua,
eu me viro e entro em um quarto vazio.
Ontem, alguém estava aqui com uma expressão ofegante.
Agora a cama está toda arrumada
e as máquinas foram retiradas. O silêncio
continua, profundo e neutro,
enquanto eu fico ali, amando você.

Trad.: Nelson Santander

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University Hospital, Boston

The trees on the hospital lawn
are lush and thriving. They too
are getting the best of care,
like you, and the anonymous many,
in the clean rooms high above this city,
where day and night the doctors keep
arriving, where intricate machines
chart with cool devotion
the murmur of the blood,
the slow patching-up of bone,
the despair of the mind.
When I come to visit and we walk out
into the light of a summer day,
we sit under the trees —
buckeyes, a sycamore and one
black walnut brooding
high over a hedge of lilacs
as old as the red-brick building
behind them, the original
hospital built before the Civil War.
We sit on the lawn together, holding hands
while you tell me: you are better.
How many young men, I wonder,
came here, wheeled on cots off the slow trains
from the red and hideous battlefields
to lie all summer in the small and stuffy chambers
while doctors did what they could, longing
for tools still unimagined, medicines still unfound,
wisdoms still unguessed at, and how many died
staring at the leaves of the trees, blind
to the terrible effort around them to keep them alive?
I look into your eyes
which are sometimes green and sometimes gray,
and sometimes full of humor, but often not,
and tell myself, you are better,
because my life without you would be
a place of parched and broken trees.
Later, walking the corridors down to the street,
I turn and step inside an empty room.
Yesterday someone was here with a gasping face.
Now the bed is made all new,
the machines have been rolled away. The silence
continues, deep and neutral,
as I stand there, loving you.

Mary Oliver – A Tartaruga

A Tartaruga

irrompe da pele arroxeada
da água, arrastando sua carapaça
com escamas musgosas
através das águas rasas, entre os juncos
e pelos lodaçais, para a elevação,
até a areia dourada,
para cavar, com suas patas desajeitadas,
um ninho, e ali se abaixar, expelindo
seus ovos brancos
na escuridão, e você pensa

em sua paciência, sua perseverança,
sua determinação em completar
o que nasceu para fazer —
e então você percebe algo ainda maior —
ela não leva em conta
o que nasceu para fazer.
Ela está apenas repleta
de um anseio cego e antigo.
Que nem sequer é dela, mas veio a ela
na chuva ou no vento suave
que é um portal pelo qual sua vida continua passando.

Ela não se vê
separada do resto do mundo
ou do mundo do que precisa realizar
a cada primavera.
Rastejando colina acima,
luminosa sob a areia que se acumula em sua pele,
ela não sonha
ela sabe

que é parte da lagoa em que vive,
que as altas árvores são suas crias,
que as aves flutuando acima
estão ligadas a ela por um fio indissolúvel.

Trad.: Nelson Santander

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The Turtle

breaks from the blue-black
skin of the water, dragging her shell
with its mossy scutes
across the shallows and through the rushes
and over the mudflats, to the uprise,
to the yellow sand,
to dig with her ungainly feet
a nest, and hunker there spewing
her white eggs down
into the darkness, and you think

of her patience, her fortitude,
her determination to complete
what she was born to do —
and then you realize a greater thing —
she doesn’t consider
what she was born to do.
She’s only filled
with an old blind wish.
It isn’t even hers but came to her
in the rain or the soft wind
which is a gate through which her life keeps walking.

She can’t see
herself apart from the rest of the world
or the world from what she must do
every spring.
Crawling up the high hill,
luminous under the sand that has packed against her skin,
she doesn’t dream
she knows

she is a part of the pond she lives in,
the tall trees are her children,
the birds that swim above her
are tied to her by an unbreakable string.

Mary Oliver – Robert Schumann

Mal passa um dia sem que eu pense nele
no hospício: mais jovem

do que sou agora, trilhando a longa estrada
da loucura em direção à morte.

Sua música explode pelo
mundo todo, de um modo que ele

nunca imaginou. E agora compreendo
algo tão assustador e maravilhoso –

como a mente se apega ao caminho conhecido, precipitando-se
pelos cruzamentos, agarrando-se

como fiapo ao que lhe é familiar. Por isso,
mal passa um dia sem que eu

pense nele: aos dezenove anos, digamos, é
primavera na Alemanha

e ele acaba de conhecer uma garota chamada Clara1 e 2.
Ele vira a esquina,

ele raspa a terra das solas dos sapatos,
ele sobe correndo a escada escura, cantarolando.

Trad.: Nelson Santander

N. do T.:

1. Clara Schumann, nascida Clara Wieck, foi uma virtuosa pianista e compositora alemã do século XIX, reconhecida por suas contribuições significativas para a música clássica. Ela também foi esposa do compositor Robert Schumann. A relação entre Robert e Clara Schumann foi profundamente inspiradora e desempenhou um papel crucial em suas vidas pessoais e carreiras musicais. Clara foi uma grande apoiadora de Robert, interpretando e promovendo suas obras, além de ser uma compositora talentosa em seu próprio direito. Sua conexão amorosa e intelectual influenciou diretamente a música e a arte do período romântico, tornando-os um dos casais mais icônicos da história da música.

2. O belo poema “Romantics”, de Lisel Mueller, que também traduzi para a página, oferece uma perspectiva sensível sobre o relacionamento entre Johannes Brahms e Clara Schumann, destacando a complexidade e a delicadeza das relações interpessoais no século XIX. Vale também a leitura.

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Robert Schumann

Hardly a day passes I don’t think of him
in the asylum: younger

than I am now, trudging the long road down
through madness toward death.

Everywhere in this world his music
explodes out of itself, as he

could not. And now I understand
something so frightening, and wonderful–

how the mind clings to the road it knows, rushing
through crossroads, sticking

like lint to the familiar. So!
Hardly a day passes I don’t

think of him: nineteen, say, and it is
spring in Germany

and he has just met a girl named Clara.
He turns the corner,

he scrapes the dirt from his soles,
he runs up the dark staircase, humming.

Mary Oliver – Rosas no final do verão

O que acontece
com as folhas depois
que ficam vermelhas e douradas
e caem? O que ocorre

com as aves canoras
quando não podem mais
cantar? O que acontece
com suas asas ágeis?

Você acha que existe algum
paraíso pessoal
para qualquer um de nós?
Você acha que,

do outro lado da escuridão,
alguém irá nos chamar, a nós?
Além das árvores,
as raposas continuam ensinando seus filhotes

a viver no vale.
Por isso, elas nunca parecem desaparecer, estão sempre lá
no florescer da luz
que se ergue a cada manhã

no céu escuro.
E sobre mais um conjunto de colinas,
à beira-mar,
as últimas rosas abriram suas fábricas de suavidade

e devolvem-na ao mundo.
Se eu tivesse outra vida,
gostaria de consumi-la toda em alguma
felicidade desmedida.

Seria uma raposa, ou uma árvore
cheia de galhos ondulantes.
Não me importaria de ser uma rosa
em um campo cheio de rosas.

O medo ainda não lhes ocorreu, nem a ambição.
A razão ainda não passou por suas mentes.
Elas não se perguntam por quanto tempo devem ser rosas, e depois o quê.
Ou qualquer outra pergunta tola.

Trad.: Nelson Santander

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Roses, Late Summer

What happens
to the leaves after
they turn red and golden and fall
away? What happens

to the singing birds
when they can’t sing
any longer? What happens
to their quick wings?

Do you think there is any
personal heaven
for any of us?
Do you think anyone,

the other side of that darkness,
will call to us, meaning us?
Beyond the trees
the foxes keep teaching their children

to live in the valley.
so they never seem to vanish, they are always there
in the blossom of the light
that stands up every morning

in the dark sky.
And over one more set of hills,
along the sea,
the last roses have opened their factories of sweetness

and are giving it back to the world.
if I had another life
I would want to spend it all on some
unstinting happiness.

I would be a fox, or a tree
full of waving branches.
I wouldn’t mind being a rose
in a field full of roses.

Fear has not yet occurred to them, nor ambition.
Reason they have not yet thought of.
Neither do they ask how long they must be roses, and then what.
Or any other foolish question