Quando a morte chegar
como um urso faminto no outono;
Quando a morte chegar e tirar todas as moedas brilhantes de sua bolsa
para me comprar, e fechá-la com um estalo;
quando a morte chegar
como o sarampo-varíola
quando a morte chegar
como um iceberg entre as omoplatas,
quero atravessar o portal cheia de curiosidade, perguntando:
como será essa sombria cabana?
E por isso olho para tudo como uma irmandade,
e vejo o tempo como nada além de uma ideia,
e considero a eternidade como outra possibilidade,
e penso em cada vida como uma flor, tão comum
quanto uma margarida do campo, e ainda assim tão singular,
e em cada nome como uma confortável canção entre os lábios,
que, como toda canção, tende ao silêncio,
e em cada corpo como um leão de coragem, e algo
precioso para a terra.
Quando tudo terminar, quero dizer que por toda minha vida
fui uma noiva desposada pelo assombro.
Fui o noivo, tomando o mundo em meus braços.
Quando tudo terminar, não quero me perguntar
se fiz de minha vida algo especial e verdadeiro.
Não quero me encontrar suspirando e assustada,
ou cheia de argumentos.
Não quero terminar tendo apenas passado por este mundo.
Trad.: Nelson Santander
REPUBLICAÇÃO: poema originalmente publicado na página em 05/04/2020
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When death comes
When death comes
like the hungry bear in autumn;
when death comes and takes all the bright coins from his purse
to buy me, and snaps the purse shut;
when death comes
like the measle-pox
when death comes
like an iceberg between the shoulder blades,
I want to step through the door full of curiosity, wondering:
what is it going to be like, that cottage of darkness?
And therefore I look upon everything
as a brotherhood and a sisterhood,
and I look upon time as no more than an idea,
and I consider eternity as another possibility,
and I think of each life as a flower, as common
as a field daisy, and as singular,
and each name a comfortable music in the mouth,
tending, as all music does, toward silence,
and each body a lion of courage, and something
precious to the earth.
When it’s over, I want to say all my life
I was a bride married to amazement.
I was the bridegroom, taking the world into my arms.
When it’s over, I don’t want to wonder
if I have made of my life something particular, and real.
I don’t want to find myself sighing and frightened,
or full of argument.
I don’t want to end up simply having visited this world.