Hoje, li para elas a história de Perséfone e Hades,
uma versão resumida, adaptada para crianças.
Começo a pensar em cada história como um médico
pensa na vacinação; parte da minha tarefa
é garantir que recebam suas doses,
essas pequenas porções de perdas atordoantes,
sementes de tristeza plantadas cedo para que, mais tarde,
quando suas próprias vidas pesarem sobre elas,
possam se lembrar dessas histórias,
recordar como, ao ouvir esta pela primeira vez,
prenderam a respiração e ficaram sentadas,
imóveis e em completo silêncio em suas cadeiras,
afetadas pelo que as flores e os pássaros
disseram a Deméter em sua dor:
Foi-se, foi-se. Perséfone
se foi.
Trad.: Nelson Santander
N. do T.: O mito de Perséfone e Hades é uma das histórias mais conhecidas da mitologia grega. Perséfone, filha de Deméter, a deusa da colheita e da fertilidade, foi raptada por Hades, o deus do submundo, para ser sua esposa. Desolada com a perda de sua filha, Deméter causou uma terrível esterilidade na terra, recusando-se a permitir que as plantas crescessem. Eventualmente, um acordo foi alcançado: Perséfone passaria parte do ano no submundo com Hades e o restante com sua mãe. Este mito é frequentemente interpretado como uma explicação para as estações do ano, com a ausência de Perséfone simbolizando o inverno estéril e sua volta à terra simbolizando a primavera e a renovação. Nos últimos versos do poema, as flores e os pássaros lamentam a perda de Perséfone, refletindo a dor de Deméter e a desolação da terra durante sua ausência.
Reading Myth to Kindergartners
Today I read them the story of Persephone and Hades,
the telling of it brief, a child’s version of the tale.
I am beginning to think of each story the way
a doctor thinks of vaccination; part of my task
to see they’ve had their shots,
these small doses of stunning loss,
seeds of grief planted early so that later,
when their own lives bear down on them,
they will remember these tales,
recall how, on first hearing this one,
they held their breaths and sat,
unmoving and absolutely silent in their chairs,
stricken by what the flowers and the birds
say to Demeter in her sorrow:
Gone, gone. Persephone
is gone.