Albano Martins – Haicais

Juncos em movimento.
Os cabelos da água
penteados pelo vento.

*
Num fruto
sazonado é o tempo
que amadurece.

*
Romãs: as últimas
brasas do incêndio
do verão.

*
Maçã – disse a criança.
E era apenas o sol
dependurado nos ramos.

*
Morango. O frágil
Coração da terra
levado à boca.

*
O mel no frasco:
exposto, para consumo,
o suor da abelha.

*
Mais cedo ou mais tarde
o silêncio virá
perguntar por ti.

*
A andorinha faz
a sua casa
no vento.

*
Quando o verão
morre, as amoras
vestem-se de luto.

*
Nem sempre a neve
cai do céu: às vezes
explode numa flor.

*
Um mar azul
pintou de branco
o voo das gaivotas.

REPUBLICAÇÃO: haicais publicados na página originalmente em 12/09/2023

Albano Martins – Haicais

Juncos em movimento.
Os cabelos da água
penteados pelo vento.

*
Num fruto
sazonado é o tempo
que amadurece.

*
Romãs: as últimas
brasas do incêndio
do verão.

*
Maçã – disse a criança.
E era apenas o sol
dependurado nos ramos.

*
Morango. O frágil
Coração da terra
levado à boca.

*
O mel no frasco:
exposto, para consumo,
o suor da abelha.

*
Mais cedo ou mais tarde
o silêncio virá
perguntar por ti.

*
A andorinha faz
a sua casa
no vento.

*
Quando o verão
morre, as amoras
vestem-se de luto.

*
Nem sempre a neve
cai do céu: às vezes
explode numa flor.

*
Um mar azul
pintou de branco
o voo das gaivotas.

Albano Martins – A Dor

Não ponhas o dedo
na ferida. Deixa
a dor respirar
em segredo.

L delor

Nun pongas l dedo
na frida. Deixa
l delor ceçar
an segredo.

Albano Martins – Lembra-te

Lembra-te:
ainda há pouco
havia à beira
do caminho
algumas pétalas.
Agora
há lama e nela
afundas os sapatos.
E outro caminho não conheces.
E outro também não há.