Rosario Castellanos – Desamor

Desamor

Viu-me como se olhasse através de um cristal
ou do ar
ou de nada.

E então entendi: eu não estava ali
nem em lugar nenhum
nunca estive nem jamais estaria.

E fui como alguém que morre na epidemia,
não identificado, e é jogado
na vala comum.

Trad.: Nelson Santander

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Desamor

Me vio como se mira al través de un cristal
o del aire
o de nada.

Y entonces supe: yo no estaba allí
ni en ninguna otra parte
ni había estado nunca ni estaría.

Y fui como el que muere en la epidemia,
sin identificar, y es arrojado
a la fosa común.

Rosario Castellanos – Destino

Matamos o que amamos. O resto
nunca esteve vivo.
Ninguém está tão perto. A nenhum outro fere
um esquecimento, uma ausência, às vezes menos.
Matamos o que amamos. Que cesse esta asfixia
de respirar por um pulmão distante!
O ar não é suficiente
para os dois. E não basta a terra
para os corpos juntos
e a ração de esperança é pouca
e a dor não se pode dividir.

O homem é um animal de solidões,
cervo com uma flecha no flanco
que foge e se dessangra.

Ah, porém o ódio, sua fixação insone
de pupilas de vidro; sua atitude
que alterna entre repouso e ameaça.

O cervo vai beber e na água aparece
o reflexo do tigre.

O cervo bebe a água e a imagem. Torna-se
– antes que o devorem – (cúmplice, fascinado)
igual ao seu inimigo.

Damos a vida apenas ao que odiamos.

Adquira livros da poeta clicando nesse link