Pierre de Ronsard – Ossos, nada mais tenho

Ossos, nada mais tenho, esqueleto pareço,
Sem músculos, polpa e nervo, descarnado,
Da morte chega a mim o impiedoso chamado,
E se ouso olhar meus braços, de medo estremeço.

Apolo e o filho seu, mestres de grande apreço
Não podem me curar, por eles fui burlado;
Adeus, amável Sol, tenho o olhar turvado.
Meu corpo já descamba onde não há regresso.

Que amigo, ao me encontrar a tal ponto acabado,
Não levará consigo o olhar triste e molhado
No leito a consolar-me e o rosto a me beijar,

E enxugue os olhos meus, na morte adormecidos?
Companheiros, adeus, meus amigos queridos,
Vou primeiro, e preparo assim vosso lugar.

Trad.: Sergio Duarte

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Je n’ai plus que les os

Je n’ai plus que les os, un squelette je semble,
Décharné, dénervé, démusclé, dépulpé
Que le trait de la mort sans pardon a frappé
Je n’ose voir mes bras que de peur je ne tremble.

Apollon et son fils, deus grands maîtres ensemble
Ne me sauraient guérir, leur métier m’a trompé;
Adieu, plaisant Soleil, mon oeil est étoupé,
Mon corps s’en va descendre où tout se désassemble

Quel ami me voyant en ce point dépouillé
Ne remporte ao logis un oeil triste e mouillé
Me consolant au lit et me baisant la face,

En essuyant mes yeux par la mort endormis?
Adieu, chers compagnons, adieu, mes chers amis,
J’en vais le premier vous préparer la place.

Pierre de Ronsard – Quando fores bem velha…

Quando fores bem velha, à noite junto à vela,
Sentada ao pé do fogo, enovelando e fiando,
Dirás, cantando os versos meus e te enlevando:
“Ronsard me celebrava ao tempo em que era bela”.
Então nem haverá, ouvindo o recital,
Serva, ao fim do trabalho e semi-sonolenta,
Que, com som do meu nome, não desperte atenta
A saudar o teu nome em louvor imortal.
Estarei sob a terra e, fantasma sem osso,
Pelas sombras dos mirtos terei meu repouso;
Tu serás à lareira uma anciã encolhida
Chorando o meu amor e o teu fero desdém.
Se me crês, não espere o amanhã também:
Vive, colhe desde hoje as rosas desta vida.

Trad.: José Lino Grünewald

REPUBLICAÇÃO: poema publicado na página originalmente em 01/10/2018

Les Amours – Amôres de Helena, livro segundo – soneto XLIII

Quand vous serez bien vieille, au soir à la chandelle,
Assise auprès du feu, dévidant et filant,
Direz chantant mes vers, en vous émerveillant:
«Ronsard me célébrait du temps que j’étais belle.»

Lors vous n’aurez servante oyant telle nouvelle,
Déjà sous le labeur à demi sommeillant,
Qui au bruit de mon nom ne s’aille réveillant,
Bénissant votre nom, de louange immortelle.

Je serai sous la terre et, fantôme sans os,
Par les ombres myrteux je prendrai mon repos;
Vous serez au foyer une vieille accroupie,

Regrettant mon amour et votre fier dédain.
Vivez, si m’en croyez, n’attendez à demain:
Cueillez dès aujourd’hui les roses de la vie.

Aqui, com uma pequena explicação sobre o poema feita pelo próprio tradutor: http://joselinogrunewald.com/traducoes.php?id=834

Pierre de Ronsard – Quando fores bem velha…

Quando fores bem velha, à noite junto à vela,
Sentada ao pé do fogo, enovelando e fiando,
Dirás, cantando os versos meus e te enlevando:
“Ronsard me celebrava ao tempo em que era bela”.
Então nem haverá, ouvindo o recital,
Serva, ao fim do trabalho e semi-sonolenta,
Que, com som do meu nome, não desperte atenta
A saudar o teu nome em louvor imortal.
Estarei sob a terra e, fantasma sem osso,
Pelas sombras dos mirtos terei meu repouso;
Tu serás à lareira uma anciã encolhida
Chorando o meu amor e o teu fero desdém.
Se me crês, não espere o amanhã também:
Vive, colhe desde hoje as rosas desta vida.

Trad.: José Lino Grünewald

Les Amours – Amôres de Helena, livro segundo – soneto XLIII

Quand vous serez bien vieille, au soir à la chandelle,
Assise auprès du feu, dévidant et filant,
Direz chantant mes vers, en vous émerveillant:
«Ronsard me célébrait du temps que j’étais belle.»

Lors vous n’aurez servante oyant telle nouvelle,
Déjà sous le labeur à demi sommeillant,
Qui au bruit de mon nom ne s’aille réveillant,
Bénissant votre nom, de louange immortelle.

Je serai sous la terre et, fantôme sans os,
Par les ombres myrteux je prendrai mon repos;
Vous serez au foyer une vieille accroupie,

Regrettant mon amour et votre fier dédain.
Vivez, si m’en croyez, n’attendez à demain:
Cueillez dès aujourd’hui les roses de la vie.

Aqui, com uma pequena explicação sobre o poema feita pelo próprio tradutor: http://joselinogrunewald.com/traducoes.php?id=834