Caitlyn Siehl – Uma carta ao amor

O primeiro poema que escrevi que não era sobre você
estava todo em maiúsculas
como se tentasse compensar
a sua ausência.

Era sobre um mundo distante do nosso
onde todas as plantas eram aterrorizantes,
mas tinham poderes de cura se tivéssemos a coragem
de tocá-las.

O primeiro poema que escrevi que não era sobre você
inchou sua garganta como um sapo
e implorou para ser beijado.

É o meu poema favorito porque o odeio demais.

Leio-o pelo menos uma vez ao dia e penso:
“Então é disso que sou capaz sem você. Vai entender.”

Há um vazio em tudo
e ali o encontro, sorrindo,
como se você não tivesse mais para onde ir.

O primeiro poema que escrevi que não era sobre você
poderá um dia ser tido como uma obra-prima.
Pessoas virão de toda parte do mundo
para correr os dedos sobre a impressão
e maravilhar-se com o quão vazio ele está de você.

Não reconhecerão o seu aroma,
agarrado silenciosamente às mãos delas.
Porque se entramos em uma sala
e notamos o que está faltando,
ainda está lá, não é?

O primeiro poema que escrevi que não era sobre você
ainda era sobre você.
Maldição.
Sempre.

Trad.: Nelson Santander

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A Letter to Love

The first poem I wrote that wasn’t about you
was in all capital letters
like it was trying to compensate
for your absence.

It was about a world far away from this one
where all of the plants were terrifying
but had healing powers if you had the guts
to touch them.

The first poem I wrote that wasn’t about you
puffed up its throat like a bullfrog
and begged to be kissed.

Its my favorite poem because I hate it so much.

I read it at least once a day and think:
“So this is what I’m capable of without you. Go figure.”

There is a hole in everything
and I find you there smiling
like you don’t have anywhere else to be.

The first poem I wrote that wasn’t about you
might one day be regarded as a masterpiece.
People will come from all over the world
to run their fingers over the print
and marvel at how empty it is of you.

They will not recognize your scent
clinging silently to their hands.
Because if you walk into a room
and notice what is missing from it
it is still there isn’t it?

The first poem I wrote that wasn’t about you
was still about you.
Damn it.
Always.