Peço à minha filha que diga os nomes dos planetas.
“Vênus… Marte… e Plunis!”, ela responde.
Quando eu tinha seis ou sete anos, meu pai
me acordou no meio da noite.
Descemos até o playground e deitamos
de costas no concreto, olhando para cima
à espera das estrelas cadentes que a TV prometera.
Não me lembro de nenhuma estrela cadente. Lembro
de minhas costas pressionadas contra o planeta Terra,
da massa do meu pai como gravidade ao meu lado,
dos ruídos ocasionais vindos de sua garganta,
dos prédios com suas janelas apagadas,
do céu perto o suficiente para eu cutucar com o dedo.
Hoje, o saber corrói o deslumbramento.
Uma voz insistente me lembra que o sol
também brilha no lado escuro da lua.
A ignorância da minha filha é minha alegria.
Através dos olhos dela eu espio como um voyeur.
Eu viajo em um foguete até o planeta Plunis.
Em Plunis já não anseio pelo passado.
Em Plunis há surpresas de verdade.
Em Plunis, sou feliz.
Trad.: Nelson Santander
REPUBLICAÇÃO: poema originalmente publicado na página em 16/07/2020
Forgotten Planet
I ask my daughter to name the planets.
“Venus… Mars… and Plunis!” she says.
When I was six or seven my father
woke me in the middle of the night.
We went down to the playground and lay
on our backs on the concrete looking up
for the meteors the tv said would shower.
I don’t remember any meteors. I remember
my back pressed to the planet Earth,
my father’s bulk like gravity next to me,
the occasional rumble from his throat,
the apartment buildings dark-windowed,
the sky close enough to poke with my finger.
Now, knowledge erodes wonder.
The niggling voce reminds me that the sun
does shine on the dark side of the moon.
My daughter’s ignorance is my bliss.
Through her eyes I spy like a voyeur.
I travel in a rocket ship to the planet Plunis.
On Plunis I no longer long for the past.
On Plunis there are actual surprises.
On Plunis I am happy.