Mary Oliver – A jornada

Um dia você finalmente soube
o que precisava fazer e começou,
embora as vozes à sua volta
continuassem gritando
seus maus conselhos –
embora a casa toda
começasse a tremer
e você sentisse o velho apelo
em seus tornozelos.
“Remende minha vida!”,
cada voz clamava.
Mas você não parou.
Você sabia o que precisava fazer,
embora o vento tateasse
com seus dedos rijos
as próprias fundações,
e embora a melancolia deles
fosse terrível.
Já era tarde o bastante,
e a noite, feroz,
e a estrada estava cheia de galhos
e pedras espalhadas.
Mas pouco a pouco
ao deixar aquelas vozes para trás,
as estrelas começaram a arder
através das camadas de nuvens,
e havia uma nova voz,
que você lentamente
reconheceu como sua,
e que se manteve a seu lado
enquanto você avançava cada vez mais fundo
no mundo,
decidida a fazer
a única coisa que poderia fazer –
determinada a salvar
a única vida que poderia salvar.

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO: poema originalmente publicado na página em 30/03/2020

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

The journey

One day you finally knew
what you had to do, and began,
though the voices around you
kept shouting
their bad advice –
though the whole house
began to tremble
and you felt the old tug
at your ankles.
“Mend my life!”
each voice cried.
But you didn’t stop.
You knew what you had to do,
though the wind pried
with its stiff fingers
at the very foundations,
though their melancholy
was terrible.
It was already late
enough, and a wild night,
and the road full of fallen
branches and stones.
But little by little,
as you left their voice behind,
the stars began to burn
through the sheets of clouds,
and there was a new voice
which you slowly
recognized as your own,
that kept you company
as you strode deeper and deeper
into the world,
determined to do
the only thing you could do —
determined to save
the only life that you could save.

Deixe um comentário