Eavan Boland – Chegamos sempre tarde demais

A memória
tem duas partes.

Primeiro, a revisitação:

o modo como ainda posso ver
aqueles amantes à mesa do café. Ela chora.

Nova Inglaterra. Hora do café da manhã. Inverno. Atrás dela,
além da janela panorâmica,
um bosque de pinheiros brancos.

Neve nova cai, e a antiga,
perdendo o equilíbrio nos ramos,
se desprende em fragmentos,
acrescendo novas frações. Depois,

a reencenação. Sempre a mesma coisa.
Eu me levanto, afasto
o café. E sempre estou indo até ela.

O rubor e o ardor coram
sua fronte agora, e descem pelo pescoço.

Ergo uma das mãos. Aponto para
aquelas árvores, mostro a ela nossa necessidade dessas
belas superações do
que sofremos pelo
que sobrevive. E ela nunca sequer me vê.

Trad.: Nelson Santander

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We are always too late

Memory
is in two parts.

First, the revisiting:

the way even now I can see
those lovers at the café table. She is weeping.

It is New England, breakfast time, winter. Behind her,
outside the picture window, is
a stand of white pines.

New snow falls and the old,
losing its balance in the branches,
showers down,
adding fractions to it. Then

the reenactment. Always that.
I am getting up, pushing away
coffee. Always, I am going towards her.

The flush and scald is
to her forehead now, and back down to her neck.

I raise one hand. I am pointing to
those trees, I am showing her our needs for these
beautiful upstagings of
what we suffer by
what what survives. And she never even sees me.

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