Bendido seja este menino, nascido com as feições fortes
do meu irmão mais velho, aquele que eu mais amava,
que saltava comigo do telhado
da casa de brinquedos, minha mão em sua mão.
Nas noites de sexta, assistíamos Além da Imaginação
e ele me deixava segurar a tigela de pipoca,
um cobertor sobre os nossos ombros,
dizendo: Não tenha medo. Eu nunca tinha medo
quando estava com meu irmão mais velho,
que me deixava tocar os músculos do tamanho de uma bola de beisebol
que pulsavam em seus braços, que me carregava nas costas
pela vizinhança deserta,
segurava firme o para-lama da minha bicicleta
até que eu o fizesse soltar.
Aos quatorze, ele era igualzinho
ao Ray, e quando morreu
aos vinte e dois em uma estrada da Alemanha,
pensei que o tinha perdido para sempre.
Mas Ray entra correndo na cozinha: camiseta suja,
jeans rasgado, puxa a manga para cima.
Ele diz: Sente meus músculos, e eu sinto.
Trad.: Nelson Santander
Ray at 14
Bless this boy, born with the strong face
of my older brother, the one I loved most,
who jumped with me from the roof
of the playhouse, my hand in his hand.
On Friday nights we watched Twilight Zone
and he let me hold the bowl of popcorn,
a blanket draped over our shoulders,
saying, Don’t be afraid. I was never afraid
when I was with my big brother
who let me touch the baseball-size muscles
living in his arms, who carried me on his back
through the lonely neighborhood,
held tight to the fender of my bike
until I made him let go.
The year he was fourteen
he looked just like Ray, and when he died
at twenty-two on a roadside in Germany
I thought he was gone forever.
But Ray runs into the kitchen: dirty T-shirt,
torn jeans, pushes back his sleeve.
He says, Feel my muscle, and I do.