Louise Glück – Eros

Eu havia aproximado minha cadeira da janela do hotel, para ver a chuva.

Estava numa espécie de sonho, ou transe —
apaixonada, mas
nada desejava.

Parecia desnecessário tocá-lo, vê-lo novamente.
Tudo o que eu queria era isso:
o quarto, a cadeira, o som da chuva caindo,
hora após hora, no calor da noite de primavera.

Não precisava de mais nada; estava plenamente saciada.
Meu coração se tornara bem pequeno; bastava muito pouco para preenchê-lo.
Observava a chuva que caía em pesados cortinados sobre a cidade escura —

Você não se importava. Eu fazia as coisas
que se faz à luz do dia, cumpria meu papel,
mas me movia como uma sonâmbula.

Era o suficiente, e não tinha mais a ver com você.
Alguns dias numa cidade estranha.
Uma conversa, o toque de outra mão.
E depois, retirei minha aliança de casamento.

Era isso o que eu queria: estar nua.

Trad.: Nelson Santander

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Eros

I had drawn my chair to the hotel window, to watch the rain.

I was in a kind of dream, or trance —
in love, and yet
I wanted nothing.

It seemed unnecessary to touch you, to see you again.
I wanted only this:
the room, the chair, the sound of the rain falling,
hour after hour, in the warmth of the spring night.

I needed nothing more; I was utterly sated.
My heart had become very small; it took very little to fill it.
I watched the rain falling in heavy sheets over the darkened city —

You were not concerned. I did the things
one does in daylight, I acquitted myself,
but I moved like a sleepwalker.

It was enough and it no longer involved you.
A few days in a strange city.
A conversation, the touch of a hand.
And afterward, I took off my wedding ring.

That was what I wanted: to be naked.

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