Linda Pastan – O Ordinário

Pode acontecer em um dia
de clima normal —
as flores de sempre reunidas,
ou folhas caídas
desgrenhando o gramado.
Você pode estar alimentando o cachorro,
ou tomando uma xícara de chá,
e então: o telegrama;
ou o telefonema;
ou a dor aguda percorrendo
todo o comprimento do seu
braço esquerdo, ou do dele.
E enquanto sua vida é mudada
para um trilho diferente
(a paisagem
através de janelas encardidas
é quase a mesma, embora
totalmente diferente) você se pergunta
por que o vento não
ruge e sopra como faz
tão convincentemente
em Lear, por exemplo.
É a patética falácia
que você almeja — as rosas
reduzidas a seus espinhos,
as folhas caídas,
itens para uma contagem de corpos.
E enquanto você se deita na cama
como uma efígie de si mesma,
é o ordinário
que vem salva-lo —
a xícara de chá de porcelana esperando
para ser lavada, o velhos cães
ganindo para sair.

Trad.: Nelson Santander

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

The Ordinary

It may happen on a day
of ordinary weather—
the usual assembled flowers,
or fallen leaves
disheveling the grass.
You may be feeding the dog,
or sipping a cup of tea,
and then: the telegram;
or the phone call;
or the sharp pain traveling
the length of your
left arm, or his.
And as your life is switched
to a different track
(the landscape
through grimy windows
almost the same though
entirely different) you wonder
why the wind doesn’t
rage and blow as it does
so convincingly
in Lear, for instance.
It is pathetic fallacy
you long for—the roses
nothing but their thorns,
the downed leaves
subjects for a body count.
And as you lie in bed
like an effigy of yourself,
it is the ordinary
that comes to save you—
the china teacup waiting
to be washed, the old dogs
whining to go out.

Deixe um comentário