Linda Pastan – Pilhagem: para uma jovem amiga

Em um dia tempestuoso de transição, de uma estação para a outra,
você falou sobre como foi ajudar sua mãe a fechar sua casa,
sobre as escolhas que teve de fazer — o que descartar,
o que manter — como se fosse sua própria infância
à espera de ser pilhada. Você conservou um tapete persa,
todo em vermelho e dourado, para nele pisar todos os dias,
mantendo vivo o passado sob seus pés;
aquelas bonecas russas com as quais você brincava
quando menina: avó, mãe, filha;
quatro cadeiras Bentwood desgarradas de sua mesa.
Eu ouvia, imaginando que seria a próxima a tentar
amontoar uma vida inteira de coisas
em um minguante universo de caixas.
Já comecei a desmantelar minha vida, jogando
fora cartas de pessoas que lembro ter amado,
escolhendo entre livros — este para ficar,
aquele para ir — como se eu fosse uma juíza
sentenciando alguns à morte, e o restante
ao purgatório da estante que se esvazia.
Talvez eu devesse simplesmente queimar tudo.
Mas não vivemos no que deixamos para trás?
No crepúsculo desbotado da Kodak? Em nossas facas
e colheres de prata oxidando na mesa eventual
de um neto? Eles não se tornaram
uma espécie de museu do além?
Os faraós estavam certos. Eles levaram
consigo todo seu mundo — vasos e baús,
estátuas douradas, joias — pilhados talvez,
mas não por mil anos.
A tumba de Nefertiti nunca foi encontrada.

Trad.: Nelson Santander

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Plunder: To a Young Friend

On a day of windy transition, one season to the next,
you spoke of helping your mother close her house,
of the choices you had to make—what to discard,
what to keep—as if it were your childhood itself
waiting to be plundered. You kept a Persian rug,
all reds and golds, to walk on every day,
keeping the past alive under your feet;
those nested Russian dolls you played with
as a girl: grandmother, mother, daughter;
four bentwood chairs wrenched from their table.
I listened, thinking I’d be next to try
to crowd a lifetime of things
into a shrinking universe of boxes.
I’ve started dismantling my life already, throwing
out letters from people I remember loving,
choosing among books—this one to stay,
that one to go—as if I were a judge
sentencing some to death, the rest
to the purgatory of the emptying shelf.
Perhaps I should simply burn it all.
But don’t we live on in what we’ve left behind?
In the fading twilight of Kodak? In our sterling
knives and spoons tarnishing on a grandchild’s
casual table? Don’t these become
a kind of museum of the afterlife?
The Pharaohs had it right. They took
their whole world with them—vases and chests,
gilded statues, jewels—plundered perhaps,
but not for a thousand years.
Nefertiti’s tomb has never been found.

Deixe um comentário